No meio do turbilhão, respirando após a passagem do tsunami, eis que nos deparamos com algo que soa interessante e agradável. Mesmo com tantas discussões e contradições, enfim, uma luz. A liberação da vacina, no Estado de São Paulo alavanca a imunização em todo país, ainda que as agressões verbais e ideológicas continuem a ocultar as verdadeiras vantagens de um remédio, que embora ainda não é o ideal, entre tantas coisas boçais e constrangedoras.
Muitas teorias conspiratórias, muito diz que me diz e muito ronco forte, de leões que sempre se mostraram ovelhas: é o poder falando mais alto; a ganância de poder dizer: eu fiz! Eu consegui! Eu resolvi! Eu tenho a força! E a população despreparada acredita que estamos diante de um novo Messias, quando estamos apenas diante de um novo Judas, que trairá por alguns tostões. Triste história da humanidade.
Pior é que o ciclo (bom, é um ciclo, significa que circula, que roda) apenas se retroalimenta e se repete) se apresenta como demais outros já vividos pelo Homem, basta querer enxergar e entender. Muitas das cenas vividas nos últimos 30 dias são dignas de um flashback histórico, que estão pagando para não ver ou para não entender. Para mim, basta que eu entenda e tenha contato com amigos próximos para analisar o quadro e para não sermos alegres enganados ou massa de manobra.
O que dizer do negacionismo da vacina? O que dizer da tentativa de diminuir a ciência brasileira? O que dizer da tentativa de por o Instituto Butantan e o Fiocruz, duas entidades de renome internacional, em descrédito? Por que insistir numa metodologia mundialmente não aceita e continuar a fazer propaganda de caminhos escusos? E, agora, o pior: com um grupo que só enxerga golpe, que só entende as ordens do capitão-do-mato, sem pensar na população dilacerada e sofrida?
Enfim, uma luz. Pequena, acanhada, fraca, titubeante. Mas é uma luz e é a esta luz que devemos nos agarrar, com firmeza e segurança e tomarmos todas as demais recomendações, pois ela nos conduzirá para fora da zona de perigo. Manteremos as máscaras, os frascos de álcool em gel, os distanciamentos, ficaremos isolados dos queridos mais queridos, ainda, por longo tempo, mas com esperança de Vida. Sem o terrorismo e a apologia à morte a que estão querendo nos conduzir.
Temos poucas chances de acerto e infinitas chances de erro; caso vacilemos e acreditemos nas palavras fáceis e nas bravatas televisivas dos imediatistas que até do vírus duvidaram, manteremos a ideia de que a terra é plana (absurdo dos absurdos, problema resolvido há séculos e ainda em voga nas mentes confusas), que remédios inócuos salvam e que existe uma conspiração entre a população. Triste inconsciência. Triste inconsciência. E ainda tem quem acredite que viraremos jacaré. Ou seremos chipados. Ou teremos o DNA alterado. Ou seremos abduzidos. Senhor da Glória, qualquer coisa é melhor do que a Covid.
De uma coisa eu sei: se eu for abduzido, vou ficar de lá de cima rindo de quem ficou nessa confusão, que está muito, mas muito pior do que o samba do crioulo doido; os regentes desta banda não conseguem nem se orquestrar, que dirá dirigir um estado ou uma nação. Caso você discorde, desejo-lhe saúde para suportar o que estará por vir, uma vez que as coisas apenas delineiam um trajeto seguro quando pulsos seguros dão o empurrão inicial, caso contrário, o caos se perpetuará mais uma vez. Para mim, enfim, uma luz surgiu…
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Hoje a crônica é curta porque estou saindo correndo para pegar meu lugar na fila, já que sou velho, diabético, infectado desde a cirurgia, professor e psicólogo. Isso somado significa que sou de alto risco. Tchau… se virem um jacaré na rua Aurora Germano de Lemos, sou eu. Fui pra fila.(Foto: br.freepik.com)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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