Durante minha terapia sempre trago para a conversa com a terapeuta, aquilo que me atormenta no momento, sem poupar nada: dou risada, choro, argumento, indago, respondo, participo como mereço, pois acredito muito que esta interação seja facilitadora no processo terapêutico e oferecerá pistas para que a profissional me ajude a encontrar caminhos. Entretanto, preciso ser muito honesto: por maior que seja a tormenta, sempre encaro com a certeza de que vou vencer. Sou um viciado na esperança…
O sapato pode estar apertando, as bolhas podem estar sangrando, a insônia pode estar me fazendo sair à procura do sono(este lindo!), a ansiedade pode estar apertando o coração mas tenho certeza de que após esta situação, respirarei fundo e encontrarei o destino pretendido. Tenho certeza disto. Não me perguntem de onde vem isso, nem me perguntem como consigo esta mobilização, mas creio que a resiliência me faz avançar, firme, para a busca da resposta adequada.
Pode, sim, acontecer da resposta não ser a melhor, nem a mais querida. Sim, pode ser uma solução temporária para a questão, mas certamente, será a melhor solução possível. Assumirá a dianteira de minhas atenções e terei horas de trégua, mesmo sabendo que é algo curto, uma vez que minha inquietude não me permite parar: estou sempre atrás do próximo momento, não espero a história me surpreender. Faço a história, a minha história.
Por que trago isso para a crônica? Porque a última delas, “Enfim uma luz…” causou um verdadeiro reboliço entre meus amigos. Mandaram mensagens, ligaram, buzinaram no trânsito, ligaram rindo do jacaré da rua Aurora Germano de Lemos. Até reencontrei três amigos-parceiros da adolescência, que se comunicaram dizendo que estão morando aqui perto, possibilitando que logo nos reencontremos. Isso só acontece para fortalecer aquilo que não me canso de contar: a força das redes de apoio.
Então, o que seriam estas redes de apoio? Vejam, é o fato de poder, com uma mensagem, agrupar um conjunto de pessoas que se reforçam, numa mensagem, criando comprometimento ou reforço para seguir em frente. Talvez parece pretensão, mas uma pretensão sadia que mobiliza grupos, que acolhe a todos, que irmana a todos os envolvidos, na verificação de sua presença e na adição de uma certa tranquilidade naquela pessoa, é uma forma de dizer: juntos somos mais fortes. É bom e viciante ter um grupo com quem dividimos cordialidades no inicio do dia, mesmo quando tudo aponta o contrário. Juntos superaremos, rede de apoio!!! Este é um dos motivos para que eu seja um viciado na esperança…
Vale entender e reforçar a ideia de que no estado de humor, que é um espaço íntimo e pessoal, somente eu posso falar de mim; por outro lado, é válido dizer que somente você sabe o que se passa na sua cabecinha. Mas viver com o sorriso facebookiano não é a solução para nada e tão pouco evita novos e maiores problemas. Muito ao contrário, porque no Face passamos a sublimar e “criamos”, inventamos espaços, situações e companhias que gostaríamos de ter por perto, mas não temos: aquele número elevado de amigos de nossa rede, no Face, nada mais significa do que aceitamos alguém com quem nunca nos comunicamos. É “amigo fake”.
Estar obstinadamente no mundo virtual, sem trégua e sem critério, constitui uma das várias formas de identificar distúrbios psicológicos digitais. No entanto, o ciberespaço, hoje, já abre até canais de espiritualidade, com seriedade e pertinência, potencializando e fortalecendo seus adeptos. Neste caso, da espiritualidade, a rede nada mais faz do que sugerir um acolhimento, junto aos amigos, concretizando um manejo de desejos, obstinações,frustrações e desesperança, aquietando nosso interior.
Talvez, as perguntas que sempre surgem: como sanar a questão do acolhimento? Como ser acolhido? Como acolher? Talvez a primeira ideia seja: permitir-se ser acolhido e permitir-se acolher. Sim, permitir-se, porque vivemos fechados dentro de nós próprios, não nos dando espaços para ir de encontro aos nossos sentimentos e às nossas vontades. Nossas ações ficam amarradas e norteadas para algo instantâneo e fugaz, dando-nos mostra da velocidade da vida e cobrando-nos cada vez mais envolvimento com causas outras que não as nossas próprias. E acabamos por nos perder dentro de nós mesmo.
Dentro deste quadro, sendo um viciado na esperança, perguntam-me com frequência: o que você faz com seus medos? Como você lida com sua ansiedade? O que causa maior preocupação? Vou responder, tudo junto e misturado: o que mais me preocupa são estes políticos que nos dirigem, totalmente sem noção, que brigam por partidos e poder e esquecem de brigar por Vida Humanas. Mentira que estejam preocupados conosco, apenas esperam melhorar os índices de crítica que indicam sua péssima atuação, mas desacreditam de tudo, e dentro de sua onipotência que lhes cabe, seguem altivos e frios. Esse é meu principal medo.
Mas antes de avançar, preciso salientar que não ser favorável a este governante não significa que sou a favor daquele outro; estou sendo claro? Significa que estou percebendo os desmandos e os descasos e estou atento para os próximos momentos, apenas isso. As comparações atuais apenas indicam que nem um, tão pouco o outro, estão adequados para nos governar: cada um traz em sua bagagem delitos que eliminam suas possibilidades de voltar ao cargo, futuramente.
O que faço com os meus medos? Olho bem para eles, avalio o tamanho deles, verifico se tenho artifícios para vencê-los e sigo. Não posso parar no meio do processo, devo seguir buscando estratégias que me conduzam com adequação e previdência, mas avanço. Ter medo e estar ansioso não deve me paralisar e, sim, precisa me mobilizar a novas atitudes; ele devem me reinventar e me sintonizar ao meu contexto atual, para, dai sim, garantir um comportamento adequado. Mas tenho medo e minha ansiedade está bem alterada, sim. Sou humano.
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Sofro com tudo, como todos sofrem, porém tenho esperança numa possibilidade de solução, que virá, daqui ou de lá ou de acolá. Só não entro nessa de virar jacaré, de ser chipado ou ter meu DNA alterado, porque estudei suficiente para acreditar na Ciência e saber com quais parâmetros ela trabalha e trabalha seriamente, ainda que tenhamos uma gestão pífia e despreocupada. Jamais a Ciência estará a serviço de mobilizações partidárias e o Instituto Butantã e o FioCruz são provas disso, fazendo jus pela produção destas vacinas que oferecem taxas de sobrevida suficientes, para este momento.
Sou viciado na esperança e não sou alucinado nem tão pouco simplório: dou crédito ao trabalho destes pesquisadores sérios que estão acima de todas essas infantilidades negacionistas e infantilóides que pululam em nossas mídias oportunistas. Minha esperança dá às mãos a minha Fé e saem a passear, aquietando-me e fazendo-me acreditar que, aos poucos, vamos colocando a Vida nos seus trilhos. Sou, mesmo, um viciado na esperança.(Foto: www.eol.co.il)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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