PRESIDENTE NÃO É TREINADOR. Leia crônica de Heródoto Barbeiro

presidente não é treinador

Há uma tradição no Brasil de que bater o pênalti em um jogo de futebol decisivo é tão importante que deveria ser feito pelo presidente do clube. E que na Bahia há tanto santo ajudando os times que o campeonato acabaria empatado. São afirmações consolidadas ao longo do tempo em campeonatos e na criatividade dos poetas dos microfones esportivos. Contudo não se aceita que o presidente da República interfira no time mais importante e icônico do país: a seleção brasileira de futebol. A mesma que no passado era chamada de seleção canarinho pelo seu belo uniforme amarelo. Mais uma licença poética. Escalar a seleção, escolher o treinador é quase uma decisão estratégia e geopolítica da nação. Mexe com os brios da República. Não pode sofrer interferência política seja lá de quem for. Presidente não é treinador.

No Brasil existem alguns milhões de “técnicos “, “treinadores “ ou “professores” suficientes para o trabalho de escalar a seleção. Não há a necessidade de mais um, ainda que seja o detentor do poder Executivo. Os boleiros sabem de cor a escalação do time, brigam quando os craques do seu clube não são escalados, apontam quem é o melhor técnico e palpitam até onde deve ser a concentração dos ídolos do esporte bretão. Ops, outra licença poética. Torcedores sabem de cor o nome de todos, a posição que jogam e alguma coisa sobre a vida pessoal de cada um. A seleção é motivo de bate-boca de todo o tipo nos bares e no transporte público. As rivalidades se regionalizam e paulistas, cariocas, gaúchos e pernambucanos se destacam na defesa dos seus craques. Sabem o nome dos jogadores mas não dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que raramente é alvo de notícias na mídia, mesmo por que o clima político vivido no Brasil não abre espaço para manifestações e divergências. Talvez no futuro isso mude.

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Vestir a camisa da seleção é uma honra para poucos. Um gesto de nacionalismo, exaltação da pátria e por aí vai. Tudo devidamente turbinado pelos narradores esportivos, uns mais exaltados que outros. E este não é um fenômeno exclusivamente tupiniquim. Los hermanos são mais aguerridos. O número de bons jogadores é imenso e se forem escolhidos só os craques, é suficiente para formar o time titular e o reserva. Diante disso por que o presidente se mete e além de desqualificar o treinador ainda quer indicar um jogador? E logo o centroavante! João Saldanha peita o chefe do Executivo e diz que quem escala o time é ele. Presidente escala o Ministério. O Brasil vive o auge do regime militar e o favorito de Garrastazu Médici é o Dadá Maravilha. Isto só podia dar um bate e rebate na área e todos os milhões de especialistas tinham suas próprias preferencias. O presidente não é treinador. Mas João Saldanha cai, Zagallo sobe. Pelé, Garrincha, Gérson, Tostão e Cia formam o melhor time de todos os tempos. E conquistam o tricampeonato do México em 1970.

HERÓDOTO BARBEIRO

Editor chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma. Palestras e midia trainingwww.herodoto.com.br

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