Finados e as ESTÓRIAS DE CEMITÉRIO

estórias

Dentre as recordações mais marcantes da minha infância estão as visitas ao cemitério Nossa Senhora do Desterro, no Dia de Finados. Para mim era um passeio e não uma obrigação. Minha família sempre deu importância para essa data, principalmente minha avó. Quantas e quantas vezes eu a acompanhava para visitar as sepulturas dos parentes, que pela minha tenra idade, não cheguei a conhecer. O meu interesse, posso confessar, era passar pelos túmulos mais ricos, localizados logo na entrada. Ficava maravilhada com a beleza das construções e também um pouco amedrontada pela pompa. E adorava ouvir as estórias dos falecidos ilustres, que a minha ‘vó’ sempre contava.

Mas eu também tenho minhas próprias estórias de cemitério. Uma, em especial, virou piada na família e não tem nada de assustador. Eu ainda era bem pequena, cerca de oito anos creio, e estava em companhia da minha mãe. Neste dia eu estava muito entusiasmada, pois levava um maço de flores que seria colocado no túmulo da família. Na minha cabeça de criança, quanto mais florida a sepultura mais feliz ficaria o falecido, então, acreditava que meus bisavôs e bisavós e outros tantos parentes já enterrados naquele jazigo ficariam radiantes com o presente.

Só que o destino mudou o rumo das coisas. Ao passarmos pelo túmulo de um tio da minha mãe, encontramos a viúva, que quando viu as exuberantes flores na minha mão, sem nenhuma cerimônia, rapidamente pegou metade e foi colocando no vaso do seu marido falecido. Lembro que fiquei perplexa com a audácia daquela senhora, que eu mal conhecia, mas enfrentei a situação dizendo que aquelas flores eram para o túmulo dos meus familiares. “Ah, é tudo parente…”, justificou ela, enquanto acertava o vaso. Me sobraram apenas alguns raminhos nas mãos.

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Naquele momento fiquei na dúvida se odiava mais a ladra de flores ou a minha mãe, que nada fez para me defender. Quando chegamos ao túmulo dos meus parentes, coloquei o que sobrou e saí do cemitério pisando duro e emburrada. Claro que essa estória foi contada para todo mundo e virou piada na família. Hoje eu também acho engraçado e entendi que minha mãe não iria brigar com a tia por um motivo tão banal. Mas para mim, era motivo para se declarar a terceira guerra mundial.

Ao escrever esse texto, lembro-me das pessoas que encontrava pelas ruas e vielas do cemitério no Dia de Finados, e que hoje já estão definitivamente em suas sepulturas. A pontada de tristeza é profunda, com certeza. As pessoas vão, mas ficam suas estórias.(Foto: Freepik)

VÂNIA ROSÃO

Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalhou em jornal diário, revista, rádio e agora aventura-se na Internet.

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