Percorrendo vagarosamente as ruas de Jundiaí, sob sol ou chuva, lá vai seu Antônio. Ele leva consigo uma bugiganga que os mais novos não conhecem. Uma bicicleta adaptada que serve para afiar facas, tesouras e outras ferramentas. O equipamento vive na memória dos mais antigos, assim como o realejo, o sujeito que consertava guarda-chuva ou as carrocinhas puxadas por ovelhas coloridas usadas para fotografar as crianças nos anos 60 e 70. Embora a bicicletinha desperte certa curiosidade, o barulho que ela produz enquanto é empurrada, é que chama a atenção e avisa que o afiador de facas está passando. O sino não para de tocar um segundo. “Eu nunca toco a campainha das casas. Quem precisa afiar algo ouve o sino e me espera no portão. Tem muita criança que sai de casa pensando que é o Papai Noel que está chegando”, explica o profissional em extinção. Aliás, ele é um dos últimos afiadores ainda em atividade em Jundiaí.
Antônio Alves Abreu tem 66 anos, é mineiro e há 20 anos perambula pelas ruas de Jundiaí prestando seus serviços. Ele teve outros empregos. Trabalhou em fábricas famosas até que se aposentou. Daí decidiu colocar em prática o ofício que aprendeu em Belo Horizonte, quando ainda era criança, como forma de ganhar um dinheirinho a mais. “É só um bico. Não consigo andar por muito tempo. Tenho problema na coluna. Começo cedinho e vou até as 10 horas. Se eu fosse jovem e tivesse mais saúde ganharia bem afiando facas”, explica.
Seu Antônio fatura cerca de R$ 100 por dia. E tem poucos concorrentes. Ele conta que Jundiaí chegou a ter 12 afiadores. Hoje seriam apenas três. “E olha que a procura é grande. Não falta serviço”, diz. Para o afiador, em breve a profissão não existirá mais. Ninguém quer aprender o ofício. “Eu já estou cansado. Tentei ensinar um neto. Ele não quis aprender. Disse que tem vergonha de andar pelas ruas com a bicicleta. Vergonha a gente deve ter é de roubar”, afirma.
Quando Antônio não tiver mais forças para trabalhar, pretende guardar com carinho o equipamento que o ajudou a sobreviver por duas décadas. “É uma peça de museu. Tenho tanto carinho, consideração e zelo pela bicicleta como tenho pela minha esposa”, brinca.
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E para quem pensa que profissionais como seu Antônio não farão falta já que a tecnologia é capaz de tudo hoje em dia, ele faz um alerta: “estes anúncios que aparecem na televisão sobre facas que nunca perdem o corte são mentirosos. Todas as ferramentas precisam ser afiadas mais cedo ou mais tarde”. Vai chegar o dia em que afiadores como seu Antônio não passarão de lembrança. Aí, todo mundo sentirá falta da bicicleta com sininho que cruzava as ruas da cidade.