ALECRIM DOURADO

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A menina, que nem chegou aos 10 anos, escutou da sala de música uma canção diferente das que costuma ouvir: “Alecrim, alecrim dourado/ Que nasceu no campo sem ser semeado/ Alecrim, alecrim dourado/ Que nasceu no campo sem ser semeado. /Foi meu amor que me disse assim/ Que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor que me disse assim/Que a flor do campo é o alecrim”. Não era funk e nem forró, mas gostou do ritmo estranho e se aproximou. A professora, que é de acolhimento, ternura e interesse ímpar em dividir seus conhecimentos, perguntou se gostaria de participar, embora tivesse rejeitado a aula dias antes.

Será que ornaria nela, que se considera moça feita, e diz de namorados, uma cantiga assim? Que pensariam os meninos para quem olha com interesse de “sedução”, não por ela, mas por algumas pessoas com quem convive.

É um problema essa sexualidade aflorada em crianças. Observo mais nas meninas que nos meninos. Perdem a chance de boneca, de brincar de casinha, de bichinhos de pelúcia… Perdem a chance da fantasia que lhes fará falta no futuro. O faz de conta e o mundo da fantasia, segundo os estudiosos, fazem com que as crianças desenvolvam uma série de habilidades motoras e psicológicas, além de trabalhar os valores presentes em sua família. Mas se a família dela for de lá para cá? Melhor, assim mesmo, o faz de conta.

Ouviu outra vez: “Alecrim dourado/ Que nasceu no campo sem ser semeado/ Alecrim dourado/ Que nasceu no campo sem ser semeado. /Foi meu amor que me disse assim/ Que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor que me disse assim/Que a flor do campo é o alecrim”.

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Que coisa, o “amor” dele ou dela não falava de sexo, mas de que a flor do campo é o alecrim. Bonito falar de flores. Poesia para o coração. Na casa da vizinha da avó havia um pé de alecrim. Iria pedir à moça para lhe dar uma muda. Queria em casa um alecrim dourado. Talvez fosse nascendo pelas calçadas, na escola, em frente à farmácia, ao mercado… Transformaria seu bairro em um campo com alecrim dourado.

Não resistiu: aceitou o convite da professora, pegou um instrumento de percussão – o bangô – e se fez parte do grupo que já sabia cantar de cor.

Esqueceu o forró, o funk, os meninos para quem olhava e, enquanto tocava, viajou para o campo à procura de sementes de alecrim, que já moravam em sua alma. Não havia nas ruas do seu entorno. Iria plantá-los.(Vídeo: Trio Amadeus – Foto: Youtube/Antônio Bocaiúva/Artigo originalmente publicado em março de 2023)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

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