BAGAGEM

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Falando em bagagem vazia, em meio a uma roda de conversa, na qual disseram sobre o frio que passam os moradores de rua, uma integrante disse que é falta de vontade deles irem para um abrigo. Muitos não aceitam.

Ela, que já passou por essa situação há décadas, disse que não falassem sem ter um conhecimento maior.

Foi moradora de rua e alcoolista como decorrência de agressões. Penso, também, que moradores de rua, dependentes químicos, prostituídos e prostituídas são sempre efeito de alguma ou várias coisas. São derivados de abandono, maus-tratos, violência de diversos tipos, baixa autoestima…

Contou-nos sobre o período, há décadas, em que passou pela rua. Pelas histórias dela me recordei da música: “Pobre Andarilho”: Eu sou um pobre andarilho/ Que vive na solidão/ Andando sem rumo na vida/ Na estrada da ilusão. / O meu martírio é tão grande/ Tudo na vida é espinho/ Estou vagando sem rumo/ Igual uma ave sem ninho. / Vivo sozinho no mundo/ Sem lei, sem paz, sem amor/ Cumprindo o cruel destino/ De um homem sofredor. /A Deus eu peço e imploro/Que tenha penas de mim/ Perdido e abandonado/ Não sei qual será meu fim. (…) É muito triste a sina/ De quem não tem paradeiro. / Vivo sozinho no mundo/ Sem ler, sem paz, se amor, / Cumprindo o cruel destino/ De um homem sofredor.

Em primeiro lugar, segundo a moça, se os moradores de rua não causarem incômodo, são invisíveis. Como se não importassem. Apenas um acumulado de carne e roupas em um canto qualquer. Naquela época, de acordo com ela, o mesmo acontecia em relação aos abrigos: vistos como uma massa de gente, atendida por uma ou mais noites, que às sete da manhã necessitava estar na rua. Além disso – segundo ela – os que vão para as ruas estão sem perspectiva de futuro e o abrigo também não lhes oferecia essa possibilidade de mudança. Houve casos de mulheres abusadas por gente que comandava os abrigos, por ela chamados de albergues.

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Hoje, a questão de abrigamento para moradores de rua prevê outros passos em direção à reintegração social. A visão da Gestora de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura, Maria Brant de Carvalho Falcão, e passos dados são dignos de aplausos, contudo, penso eu, estar na rua é um estágio muito avançado da degradação humana.

Há poucos dias, uma pessoa que faz campanha solidária ligada à pobreza menstrual, contou que fora entregar o material recebido na Cracolândia. A voluntária, que realiza um trabalho no local, lhe disse que não adiantaria, pois as mulheres não possuem calcinha. A que ponto se chega! São decorrência de alguma desdita. E como fazer para que recuperem o sentido da vida?(Foto: José Cruz/Agência Brasil)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

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