O Dia das Mães foi celebrado no último domingo, dia 12. Observo as suas mãos desgastadas de um pouco mais de sete décadas. Sorri diante da data. Não teve experiência de maternagem. A mãe se foi quando ela era pequenina e a irmã mais velha, que já possuía filhos, acolheu de imediato as menores, contudo sem estrutura financeira para uma sobrevivência com dignidade.
A miséria empurra sim meninas e mocinhas para o comércio de carnes, para relações tóxicas, para vazios existenciais… Faltam olhares mais longos sobre essa realidade toda.
Observo suas mãos desgastadas. Não usa mais os anéis que cintilavam em seus dedos. Pensa e diz sobre os filhos que foram criados em corredores escuros, estudaram pouco, enquanto ela buscava, na sua precariedade, em relações relâmpago, que não experimentassem a fome que sentira.
Recupero os retalhos do que sei de sua história. Quantos homens se estenderam em seu corpo, nenhum deles, no entanto, quis saber de seus sentimentos.
Não carrega revoltas e desespero. Foi daquele jeito e, agora, vive uma situação por vez, sem ilusão qualquer na costura de seus pedaços.
Ao receber uma notícia boa dos filhos ou dos netos, partilha de imediato. Partilha e acrescenta, pois sonhava para eles uma vida sem os massacres da sua.
Já faz mais de dois anos que a filha apareceu com o moço de vida desregrada como a dela. Apresentou-lhe a barriga. O companheiro era conhecido. Diminuiu os passos nos dois últimos meses da gravidez, porque não passava bem. A mãe teve esperança de que dessa vez permanecesse. Triste engano. A bebê estava com três meses, quando a filha retornou aos becos onde o som da música alta não consegue esconder o grito das aves de mau agouro. Possui notícias dela esporadicamente.
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A menina cresce nos braços da avó, que é para ela de maternidade. Os cabelos enfeitados com fitinhas coloridas, vestido com babados.
Todos os dias dela de mãe, seja para filhos, netos, sobrinhos, adotados, com as mãos desgastadas, contudo que embalam, rezam, trazem ao colo e aproximam do coração, para dizer de amor.
Que todas pessoas que possuem colo com cantiga de ninar, cuidam, ajudam a crescer e apresentam o mundo sem deixar de apontar o Céu tenham tido um lindo Dia das Mães.(Artigo publicado originalmente em 4/05/2022 – Foto: create.vista)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.
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