Como os fortes holofotes iluminaram muito o Dia Internacional da Mulher, o Dia Nacional, ocorrido em 30 de abril, em homenagem à Jerônima Mesquita, ficou semiapagado. Mas tudo bem, qualquer hora o dia dedicado às brasileiras irá chamar mais atenção. Esta crônica poderia ser sobre essa ilustre vanguardista, sua vida e grande obra no país, principalmente para as mulheres de poucas condições financeiras, mas penso que, um dia, dará certo conhecer sua bela história e esse dia importante para as brasileiras. A crônica de hoje versará sobre um escritor: o Barão de Itararé!
A carreira literária de alguns escritores foi pautada pelo humorismo e ironia, fazendo sucesso com eles. Um dos melhores exemplos foi o Barão de Itararé, que foi escritor, jornalista e poeta. Usou esse pseudônimo e saiu-se muito bem com ele.
O escritor humorista Aparício Torelly era filho de um italiano com uma uruguaia, neto de um americano e de uma índia da tribo dos Charruas, que habitavam o Rio Grande do Sul. Dizia, também, ter sangue russo por parte do pai. Dessa mesclada descendência, ele ironizava dizendo: “Sou uma espécie de Liga das Nações”.
Talvez tenha desenvolvido sua veia humorística como uma válvula de escape para aliviar seus infortúnios. As adversidades chegaram cedo à vida de Aparício, pois ficou órfão de mãe, ela se suicidou, quando ainda era pequeno. O pai o colocou num colégio interno, dirigido por rigorosos jesuítas alemães, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Aos 20 anos, pressionado pelo pai, foi cursar medicina em Porto Alegre, mas gostava mesmo era de escrever. No segundo ano, fez amizade com um homem que fabricava moedas falsas para que ele custeasse seu primeiro livro: “Ponta de Cigarro-Versos Diversos”, com sonetos decassílabos humorísticos.
Casou-se, mas logo se separou. Casou-se outra vez; a segunda esposa, ainda bem nova, suicidou-se. Casou-se pela terceira vez e também esta cometeu o suicídio. Mortes trágicas perseguiram o escritor, além da mãe e de duas esposas terem cometido o suicídio, a quarta esposa morreu durante o parto e ele perdeu afilha ainda muito jovem.
A veia humorística de Aparício encobria as mágoas que lhe arrebentavam o coração.
Engajou-se na política e foi correligionário de Júlio Prestes, que ganhou as eleições presidenciais, mas foi impedido de assumir pela revolução liderada por Getúlio Vargas. Aparício aproveitou a caótica situação política e se autointitulou Barão de Itararé, dizendo: “Concedi a mim mesmo uma carta de nobreza, pois se fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não conseguiria nada. Então, passei a “Barão de Itararé”, em homenagem ao episódio ridículo.”
Quando foi morar no Rio de Janeiro, trabalhou como jornalista no “Correio da Manhã”, onde mantinha uma coluna que ironizava as figuras políticas. Essa ironia agradava muito aos leitores, mas desagravada, sobremaneira, aos políticos. Pressionado para abrandar as ironias, deixou o jornal.
Logo depois, lançou seu primeiro tabloide “As Manhas”, manha de manhoso, assinava como Barão de Itararé. Nesse periódico metralhava o governo Vargas e seus asseclas, usando uma linguagem irreverente e denunciando as falcatruas, que não eram poucas. Por isso foi preso e ficou incomunicável.
Depois de solto, em 1934, publicou a história de João Cândido, o líder da revolta contra o uso da chibata como castigo imposto aos marinheiros da Armada de Guerra. Mais uma vez sofreu por escrever a verdade, foi sequestrado e barbaramente espancado por oficiais da Marinha, nunca identificados. Isso lhe deixou algumas sequelas.
Novamente preso em 1935 por ser um dos fundadores da Aliança Renovadora Nacional (ARN), entidade antigetulista, teve como colega de cela o escritor Graciliano Ramos. Durante o Estado Novo, teve outras prisões decretadas.
Em 1945, o PCB elegeu 15 deputados federais e um senador, Luiz Carlos Prestes, mas a legenda foi cassada e todos os eleitos, incluindo Jorge Amado, Carlos Marighella e Aparício Torelli, o Barão, perderam o mandato. Em 1973, a convite da China, deu aulas de xadrez e matemática, matérias que dominava bem. Foi acompanhado pelo jornalista jundiaiense Jayme Martins.
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No livro “Memórias do Cárcere”, Graciliano Ramos lembra que o colega de cela na Ilha Grande, Rio de Janeiro, brilhava entre os demais por suas proezas no tabuleiro de xadrez e a explicação matemática que dava aos movimentos dos cavalos, das torres e de outros, tudo fazendo para levantar o moral dos colegas.
O guerreiro Barão de Itararé morreu no bairro Laranjeiras, no Rio,, aos 76 anos, convicto de ter acertado na carreira e nas suas ideias, mas decepcionado com a política em geral.
A Editora Record publicou uma coletânea com suas máximas. Eis duas delas:
“O homem que se vende recebe sempre mais do que vale”.
“Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.”
Um guerreiro brasileiro que merece ser conhecido!(Foto: PCdoB)

JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof. Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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