Quem já não acompanhou o trinado desse belo pássaro, cantando junto:”bemteviiiiii”? Não é à toa: o bem-te-vi é um dos mais populares do Brasil e pode-se ouvi-lo em meio às florestas, à beira dos rios e especialmente na cidade, onde está bem adaptado até mesmo para fazer seus ninhos, em postes de luz ou no alto das árvores, em praças e ruas.
A origem de seu nome vem de seu canto, ou melhor: é uma onomatopéia, figura de linguagem que permite a formação de palavras a partir da reprodução aproximada do som natural a ela associado. Quer um exemplo? “atchim”, para espirros; “tique-taque”, para o relógio em funcionamento. E “bem te vi” para as três sílabas que nossa ave canta, sempre em tom forte e inequívoco.
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Vale a pena vê-lo, pois é vistoso, com cerca de 20 centímetros, ventre bem amarelinho e uma espécie de listra preta, na altura dos olhos, entre duas brancas, caracteriza bem sua figura. Seu nome em latim é Pitangussulphuratus: pitangus que vem do tupi “pitanguá guaçú”, atribuído a várias espécies de papa-moscas e sulphuratus, de sulphur, súlfur, enxofre, de cor amarela.
Ser o “pitanguá de cor amarela” hoje não basta para o bem-te-vi, pois há além dele pelo menos mais quatro aves quase gêmeas, de gêneros diferentes.Elas estampam a figura abaixo, nessa ordem numérica, o 1. nei-nei (Megarynchuspitangua);o 3. bentevizinho-do-brejo (Philohydor lictor); o 4.bentevizinho-de-asa-ruiva (Myiozetetescayanensis) e o 5. bentevizinho-de-penacho-vermelho ou simplesmente bentevizinho (Myiozetetessimilis), sendo que colocamos em destaque o 2. , o nosso bem-te-vi.
Olhando todos juntos, vejam se não dá para confundir…
O bem-te-vi é amistoso com seus pares, mas a literatura especializada mostra que com outros pássaros pode não ser bem assim, pois já foram registrados ataques a ninhos, inclusive aos filhotes que lá estavam. Esse comportamento fica longe de tantas músicas nele inspiradas, como essa cheia de poesia de Paulinho “Pedra Azul”, compositor, pintor e escritor da cidade mineira de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha
“Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz (…)”
A canção chama-se “Jardim da Fantasia”, de 1982 e sua melodia delicada nos leva em pensamento a esse jardim em flor em companhia do bem-te-vi.
Lá pelos anos 1980, Renato Terra também homenageou a ave. A letra não tem o lirismo da de Paulinho Pedra Azul. Mas fez um sucesso danado.
Dos bosques e dos ares do campo, com seu ritmo próprio, mal sabe o bem-te-vi que é nos ambientes urbanos, muitas vezes cheios de barulhos agressivos, motores de carro, sirenes, vozerio, que mais precisamos de algo que nos reconecte à natureza, à nossa natureza.
Assim, no meio do caos do trânsito e “(…) da cabeça cheia de problemas”, como cantava Roberto Carlos, quem sabe surja de repente essas três notas, bem-te-vi!, como se ele estivesse nos dizendo: “Psiu, estou te chamando, se liga em mim…e abra um sorriso!!”
Vamos ouvi-lo, então? Clique https://bit.ly/2I4GcqQ
ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS
Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.