A carência é muito perigosa permitindo que violem nossos espaços por temermos perder a parceria de uma pessoa. A inteligência emocional precisa estar sempre atenta para que tenhamos a percepção daquilo que nos serve e daquilo que não nos convém; o fato de temermos um momento a sós ou um período sem parcerias não pode soar como algo ruim ou uma perda, mas como um momento de crescimento e que sempre é bem-vindo por nos possibilitar o autoconhecimento.
Entretanto, é preocupante perceber que algumas pessoas não conseguem se afastar dos algozes que os matam por dentro, minando suas intenções e iniciativas, anulando-as e, um grande passo para a libertação destas situações é acreditar no poder de transformação interna e contar com uma boa rede de apoio que nos mobilize com eficácia e segurança. Sempre é tempo para reiniciar. Sempre é possível se reinventar…porém, é preciso que se tente, que se permita mudar.
E, numa semana cheia e difícil, com bastante coisa importante acontecendo e muitas decisões sérias sendo tomadas, percebemos que algumas decisões são fruto de anseios antigos e outras são totalmente pontuais e recentes, fazendo com que fiquemos titubeando entre escolhas e incertezas, muitas vezes por medo de escolher e outras vezes pelo desconhecido que sempre aparece como um vilão. Em função disso, nossas decepções são avaliadas e ganham status de aprendizagem, enquanto se busca entender qual será a ordem da Vida, a partir delas.
Vale perceber que, a sério temos que a Vida aponta que paciência tem limites e que respeito a si é algo a ser promovido à lei pessoal e imperativa. O desenvolvimento humano vai sugerir que deixemos a Vida correr, buscando compreensões e diálogos que sempre terminam em monólogos e queixumes, mas sem tirar os demais envolvidos de sua posição cômoda e insossa, ou somos confrontados com nossas vitórias pontuais e percebemos que somos capazes, sim, de grandes proezas.
Quando notamos que a Vida vai se tornando insustentável e difícil, que não há transformação nem melhora na proposta de uma vida saudável e tudo se nos parece sempre igual, com os mesmos vícios, mesmas falas, mesmos propósitos, estamos sendo alertados para promovermos mudanças de rota, alteração de propostas de Vida, o que somente acontece com nossa anuência.
Este momento de tomada de consciência nos permite perceber que apesar de parecer mentira, quem mudou fomos nós, permitindo-nos enxergar por dentro. Este caminho é um salto qualitativo em nossa Vida, que nos possibilitará tomar decisões mais fortalecidas e firmes, sem nos causar constrangimento nem dor, por serem frutos de nossas mudanças interiores e nos garantir encaminhamento para espaços já pretendidos, mas não assumidos, por motivos inusitados.
Isso nos alerta que a melhor das miragens, sim, está dentro de nós mesmos. Nossas transformações somente serão efetivas se nos permitirmos aceita-las e, acima de tudo, concordarmos que muitos fantasmas precisam ser exorcizados. A fantasia só é benéfica, se houver crescimento e concretude nela, caso contrário, só será agradável para um dos lados da relação. E uma relação humana tem, no mínimo, dois lados: é preciso duas pessoas para se garantir segurança e sobriedade. A dependência emocional apenas permite que alguém tenha pleno domínio sobre outro, com ou sem consentimento.
Não há motivo para se iludir: oportunistas também são conhecidos como amigos, colegas, parceiros, familiares, alunos, vizinhos, patrões, chefes, coordenadores, filhos primos, pais, namorados, esposos, enfim…todos os que, de plantão, aguardam a oportunidade para protagonizar uma cena de total insanidade, consciente ou inconscientemente. Santa ingenuidade e santo medo de caminhar só. Santo desespero em se fazer acompanhado por pessoas que não merecem nossa confiança e companhia. Santa carência!
Analiso à distância (e internamente, também) o quanto se escolhe sofrer para não magoar o outro. Por que será que alguns de nós optam por ser o que carrega o piano, tocar a música, lustrar o móvel e ainda se sentem em débito com o outro? Por que insistimos numa situação sem futuro e sem consequências razoavelmente saudáveis para ambos? Na contramão, o outro não gosta de piano, não curte a música, não se preocupa com a sujeira do móvel e não se preocupa com absolutamente nada, apesar de fazer de conta que se interessa pelo enredo.
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Exatamente neste clima emocional, num golpe de mestre, vem o Tempo (ah!!! O Tempo, este senhor tão querido…) e, numa guinada suave e profunda, afasta de perto do seu meio tudo o que ocasiona preocupação e aponta para o outro lado da Vida, onde outros valorizam seus feitos, enxergam seus defeitos e ajudam-no a corrigi-los, apresentando projetos edificantes e excluindo sonhos impossíveis, que teimávamos em mantê-los vivos.
Assim nasce o novo homem, com novos planos de Vida e nossos anseios. Este é o Tempo em que o espelho nos reflete e aponta-nos o quando somos capazes e o quanto podemos crescer, ainda. Para tanto, temos que abraçar a nova fase com força, afastar a carência, e confiarmos na mudança. Como já analisei, somos os senhores da nossa história e, desta maneira, somente nós poderemos fazer nossas escolhas adequadas e a ajuda do coletivo irá fortalecer nosso desenvolvimento e nosso acolhimento ao novo homem que vemos nascer.(Foto: Pikist)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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