A regulação do funcionamento do sistema educacional brasileiro parece que só vê uma solução para melhorar a qualidade da educação que oferecemos. Mais dias letivos, mais horas por dia, enfim mais tempo na escola. A recente proposta do MEC de ampliação da carga horária do ensino médio segue a mesma receita de resultados duvidosos para ser benevolente. A permanência prolongada na escola não corrige as deficiências estruturais, a falta de um programa de valorização do professor, as inconsistências dos programas de formação e aperfeiçoamento docente e os atrasos tecnológicos e metodológicos. Cabe, pois, perguntar se ficar mais tempo em um lugar que não atende suas expectativas, suas necessidades e seus anseios, faz bem ou faz mal?
Mais aulas das disciplinas básicas não significa que teremos mais aprendizagem se a metodologia for a mesma da estimulação de retenção temporária na memória de conteúdos de utilidade duvidosa. Trata-se de uma derivação das finalidades do nível de ensino rendendo-se exclusivamente ao acesso ao ensino superior como se esta fosse a função do ensino médio e este fosse o desejo de todo o alunado. Some-se a isso a inacreditável e incoerente insensibilidade de inviabilizar os cursos técnicos que só seriam possíveis em dois turnos. Afinal, com nosso calendário de 200 dias letivos pela proposta do MEC seriam necessárias diariamente cinco horas e 40 minutos, sem intervalos, para cumprir a nova carga horária. O período noturno desaparecerá de uma vez. A grande incoerência é que se observa uma intensa campanha pelo aumento da oferta de educação profissional e tecnológica, entretanto, na direção oposta, se propõem normas que impossibilitam sua oferta senão para um grupo específico que dispõe de tempo suficiente para cumprir toda a carga horária. Mais uma vez cabe perguntar a quem estas regras atendem?
OUTROS ARTIGOS DE FERNANDO LEME DO PRADO
De todo modo estes aspectos podem não representar todos os problemas que o aumento de carga proposto pode representar. Do ponto de vista do professor não me parece que pretendam aumentar seus rendimentos aumentando sua carga de trabalho, mas sim pela valorização do seu trabalho. Para as escolas será um desafio considerável encontrar condições para um funcionamento em tempo integral, mesmo que não tenham que garantir as refeições ou o compartilhamento dos espaços de aprendizagem. Para os estudantes, que terão que abdicar de quaisquer outras atividades fora da escola, pode não ser compatível com suas realidades e seus projetos de vida. Para os sistemas que terão que aumentar consideravelmente suas despesas, eventualmente sem a necessária previsão orçamentária.
Parece que oferecer mais do mesmo é o único caminho que se vislumbra na fúria regulatória e, assim, ao propor um aumento da carga horária do ensino médio, sabe-se lá para atender a quem, temos mais uma insensível, irrealista e inconsequente proposta para resolver as mazelas da educação nacional.(Foto: Studio Formatura/Galois/Agência Brasil)

FERNANDO LEME DO PRADO
É educador
VEJA TAMBÉM
PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA
ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES