Não fosse o desemprego do marido Rafael talvez ele e a esposa, a administradora de empresas Carolina Cripardi Marciano Benatti, 30, talvez estivessem ainda morando em Jundiaí. Depois de muitos ‘bicos’, se mudaram para Dublin, Irlanda, onde já estava a irmã de Rafael e o noivo dela. A história de Carolina:
Você nasceu em Jundiaí?
Sim, em 1988. De 1993 a 1997 vivi em Monte Alto, interior de 1993 a 1997. Meu pai trabalhava na Cica e foi transferido para lá. Depois voltamos para Jundiaí onde morei até abril deste ano, antes de vir para Europa.
Quais bairros morou? Quais escolas frequentou?
Até minha família se mudar para Monte Alto morávamos no Agapeama. Quando retornamos, fomos para a vila Progresso onde meus pais tem uma casa. Desde agosto de 2014, quando casei, passei a morar no Recanto Quarto Centenário onde eu e meu marido temos um apartamento. Frequentei várias escolas: Vida em Grupinho, que não existe mais; José Leme do Prado Filho; Professor Orozimbo Sóstena; Colégio São Pedro(que não existe mais também); Bispo Dom Gabriel Paulino Bueno Couto; Faculdade de Administração de Empresas no Anchieta e MBA em Finanças, na FGV São Paulo.
Como a Irlanda surgiu na sua vida?
Morar fora e fazer intercâmbio nunca fez parte dos meus planos. Sou muito apegada à minha família e não me via morando longe deles. Porém, meu marido (engenheiro de produção) estava desempregado desde 2016. Fazia alguns bicos mas não arrumava emprego registrado na área dele. Ele tinha inglês muito básico e além da crise econômica brasileira, o inglês também estava fazendo falta. Eu fui dispensada em novembro de 2017. Foi então que parei para pensar que, se eu arrumasse um outro emprego, provavelmente não teríamos mais aquela oportunidade. Afinal, eu já iria fazer 30 anos e ele já tem 31, ainda não temos filhos, e nós dois estávamos desempregados. Então decidimos investir em um intercâmbio, para aprimorar nosso inglês e quem sabe quando voltarmos também o Brasil estará economicamente melhor e possamos ter melhores oportunidades.
Então vocês estão há pouco tempo na Irlanda…
Desde 20 de junho último
Por que escolheram Dublin?
Primeiramente, pesquisamos quais países seria permitido estudar e trabalhar, pois não teríamos condições financeiras para nos manter pelos oito meses planejados sem trabalho. Dentre eles estava Irlanda e aí a decisão final foi devido a minha cunhada que já morava aqui há dois anos com o noivo dela. Então, aproveitaríamos para matar a saudades. Seria bom já que teríamos familiares por perto…
O que faz aí?
Estudo das 9 às 13h10 de segunda a sexta. Trabalho fixo em uma família como childminder (babá) de terça a quinta das 14 as 19 horas. Cuido de uma menina de oito anos. As vezes eles pedem para eu ficar até mais tarde quando eles têm compromisso. Está sendo ótimo para mim pois ela é muito bem educada, me corrige, me ensina palavras novas.
Além disso também tem uma outra família que eu trabalho esporadicamente. São dois meninos dois e cinco anos. A mãe trabalha no aeroporto e o pai em um hotel. Então, quando a agenda deles coincide e não têm com quem deixar os filhos, eles me chamam.
Você está aí com vários parentes. Quantos? Decidiram se mudar para a Irlanda todos juntos?
Eu vim com o meu marido e nós moramos com a irmã dele e o noivo dela, que moram aqui desde 2016. Eles mudaram para cá pois o noivo dela trabalha em TI uma área que falta mão de obra na Irlanda. Ele recebeu oportunidade de transferência da mesma empresa que ele trabalhavam em São Paulo e tem filial aqui.
Este detalhe ajudou na adaptação?
Muito com certeza.
Estão sempre juntos nas horas vagas?
Sim, na maioria das vezes.
O que mais estranharam?
Eu vim preparada psicologicamente para enfrentar o clima, pois todo mundo falava que a maioria dos dias na Irlanda é cinza e com uma garoinha que nunca acaba. Mas o clima me surpreendeu. Nós chegamos no primeiro dia de verão, e a Irlanda registrou o melhor verão dos últimos 80 anos! Eu pude usar havaianas, shorts, regata por mais de dois meses, coisas que diziam que era melhor eu nem levar já que seria impossível usar aqui. Inclusive deu até para pegar um dia de praia! Agora está começando a fazer mais frio. O céu amanhece bem azul e o Sol ainda dá as caras. O clima está me surpreendendo muito positivamente. O que mais estou estranhando é dividir a casa, pois nós já eramos casados e tínhamos nosso apartamento há quatro anos. Por mais que não haja problemas, o o fato de não estar na minha casa, na minha cama, vendo a minha tevê. Acho que isto é o que mais estranho…
Os irlandeses realmente bebem muito?
MUITOOO MESMO!!! Quando eu ando à noite pelas ruas vejo muito mais pessoas “bêbadas” do que eu via no Brasil. Eles não fazem nada, é seguro andar pelas ruas… mas morro de rir. O pessoal andando e falando sozinho, cambaleando(risos). Geralmente ou são homens mais velhos, senhores. Ou jovens que aparentam ter entre 18 e 25! Homens e mulheres. Sim. Por aqui as meninas bebem muito também. O que eu mais achei estranho, diferente, é que no Brasil nós saímos para barzinho e vamos comendo uma porçãozinha… tomando uma cervejinha… aqui eles saem e não comem!!! Só bebem!! inclusive tem muitos pubs que nem servem nenhum tipo de comida!
Os irlandeses gostam de brasileiros? São curiosos em relação ao nosso país? Ou não se interessem pelas nossas coisas?
Minha impressão é que sim. Gostam, são curiosos, perguntam, se interessam!
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O que a Irlanda tem de bom?
Bom… clima não é dos melhores… A Saúde aqui não é boa! Eles não têm atendimento público! A pessoa em uma emergência é atendida, mas no final quem não tem dinheiro para pagar fica devendo para o governo. Não se consegue financiar um imóvel, um carro, enquanto a dívida com a Saúde não é quitada. O atendimento particular, não sei ao certo quanto custa, mas sempre escuto que é caro, então eles não têm costume de ir ao médico como nós. Tenho um professor de 27 anos por exemplo que comentou que NUNCA fez um exame de sangue! NUNCA fez um eletrocardiogarama! Vejo muitas crianças e jovens com os dentes bem feios e tortos. Eles não têm costume também de ir ao dentista e aparelho acho que é coisa de famílias mais ricas. Também já ouvi falar que mesmo o atendimento de saúde pago não é tão bom e que as pessoas esperam dias por atendimento e por cirurgias. O aluguel aqui é um absurdo de caro! Em Dublin, estudantes chegam a pagar 500 euros mais contas para dividir quarto com as vezes mais de quatro pessoas todos em beliches. Ou 800 por um quarto individual mas dividindo casa.
Mas o que mais me fazer sentir uma “invejinha”(risos) é a rotina das famílias. Primeiro que, como a educação é muito boa. As escolas particulares são raras. Mesmo famílias ricas colocam as crianças em escolas públicas. Além disso roupa, comida, brinquedo… é tudo muito barato…
Então mesmo com subempregos é possível viver com dignidade, proporcionar boa educação aos filhos, comidas diferentes de vez em quando, roupas boas… brinquedos… viagens!! E para fechar com chave de outro a carga horária de trabalho é ótima! Então as pessoas podem aproveitar muito melhor o dia… passar mais tempo com a família… praticar esportes… enfim… a vida é muito mais ‘leve’, não é aquela vida louca… corrida nossa que não nos leva a lugar nenhum sabe?
Carga máxima é 40 horas semanais. E deu horário cai a caneta! Vai todo mundo embora! É muito raro ver alguém fazendo hora extra! Sem contar que aqui tem muitas opções de trabalho Part-Time (20 horas). Com isto, as famílias conseguem se ajustar… sempre um da família consegue trabalhar meio período e estar mais presente em casa e acompanhar a vida dos filhos. Isso é maravilhoso!!! Acho que é o que eu mais “invejo” É um sonho poder ter isso para minha vida! Mas no Brasil, é claro(kkk)
Outras curiosidades?
A responsabilidade com filhos não é função mais só da mulher. É muito bem dividido. Basicamente quem se deu melhor no emprego  trabalha mais. O outro cuida mais da casa e das crianças. É muito normal ver homens levando e buscando na escola… brincando com as crianças no parque em plena segunda-feira à tarde! Acho isso incrível!
Você deixaria isto para traz e voltaria a morar em Jundiaí ou outra cidade brasileira?
Com certeza!!! Eu não consigo ficar muito mais tempo longe da minha família! Por mais que aqui tenha lados positivos também tem os negativos e eu acredito que nada vale mais a pena do que estar perto da minha família… meus filhos possam crescer perto dos avós… dos primos. Eu rezo muito para que o Brasil melhore!! Estou muito feliz com as mudanças que estão acontecendo na política neste ano! Sei que ninguém salvará nosso país em quatro anos, mas acredito que demos um grande passo!
A saudade doí demais?
MUITO! Eu acredito que se não fosse os celulares, internet, whatsapp, chamada de vídeo… não daria para suportar! kkkk
Da Irlanda é fácil chegar ao restante da Europa. Conhecem muitos países?
Muito fácil e muito barato!!!! Nós já fomos para Itália (Veneza, Verona, Milão…) E para Amsterdam (Holanda) … Mas ainda temos muitos destinos na lista!!!
Você fica muito impactada ao ver a realidade da Irlanda e outros países com a do Brasil?
Sim. Muito!!! Mas como falei, estou muito feliz com o grande passo que estamos dando com a troca deste partido que por muito anos arruinou o nosso pais. Eu não defendo partido e nem lado! Eu quero um país melhor independente de quem esteja lá! Quero um país onde as pessoas possam andar tranquilas pelas ruas sem medo de serem roubadas ou mortas, quero um país onde não seja preciso pagar por escola particular pois a educação pública será de qualidade, quero um país onde ninguém morra aguardando atendimento nos hospitais, um país com boa economia e baixo índice de desemprego! Eu acredito que isso já começou a mudar para muitas pessoas mais ainda existem muitos outros brasileiros que precisam mudar suas ideias! Para mim é simples… o Brasil é como se fosse uma empresa que precisa gerar e mostrar resultados! Os nossos governantes são os funcionários… gerentes… diretores… e nós… a população brasileira… somos os acionistas! Pois é o nosso dinheiro que está sendo investido no Brasil. Então devemos nos unir… “funcionários, gerentes e diretores” não estão mostrando resultados? Não estão gerando lucro? Estão roubando? Devem ser trocados… simples assim!!! Nós temos que mostrar para eles que juntos somos a maioria e temos o poder!
Qual a fórmula destes países para igualdade social, educação, etc, coisas que faltam por aqui?
Menos corrupção, menos impunidade, governantes mais preocupados com a população, população mais unida para exigir e cobrar resultados.