Depois da CIRURGIA…

cirurgia

Depois da cirurgia meus pais foram falar com o médico. Ele disse:

-Não deu certo. (ponto final).

É uma tarefa muito complexa trazer até vocês, leitores, os anos pós-cirurgia. É difícil para uma criança de nove anos transformar seus sentimentos em palavras. Quando recorro ao meu olhar adulto e um tanto refinado pela formação em psicologia compreendo que em certas situações os sentimentos não podem nem emergir à consciência. Eu não pensava no assunto. Só vivia.

Conversando com um amigo do meu pai, já adulto, ele disse que eu não suportava falar do assunto. A vida ficou mais amarga. Chorava na escola e ficava nervoso diante das dificuldades. Contudo, a vida seguia. Brincava com primos e amigos. Tínhamos férias na fazenda e na praia.

Em 1976, fomos ouvir o dr. Ilton Rocha, em Belo Horizonte. Ele, um tanto afável, declarou:  

-Seria uma chance mínima. Uma em mil, uma em um milhão.

Chorei no banheiro do hotel. Ao sair meu pai disse:

-Vamos ouvir uma segunda opinião. Se não der certo, vamos transformar esse limão numa limonada.

Voltamos ao dr. Mais. O mesmo da cirurgia. Ele e Dr. Ilton eram os expoentes da Oftalmologia no Brasil. Dr. Mais me atendeu com a frieza habitual.  Fui examinado por ele que, em seguida, começou um longo discurso em termos técnicos como se estivesse diante de uma plateia de estudantes. Até dizer que eu nunca enxergaria.

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Eu disse:

-Dr. Ilton Rocha considerou a possibilidade de uma chance infinitamente pequena…

E o médico respondeu:

-Respeito o Ilton, mas ele não teve coragem de dizer que não existe possibilidade alguma. Peça que ele escreva. Ele não escreverá.

A esperança de enxergar se transformou em pesadelo depois da cirurgia. Após o golpe do dr. Mais veio a realidade.

–Terei de viver assim..

Eu, um menino, carregava um enorme fardo. Mas, agora, estava livre para fazê-lo.(Foto: Musthafa Mohd/Pexels)

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA

Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.

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