Edson Pacheco Júnior, 24 anos, apresentou tese de mestrado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), onde analisa o ozônio em Jundiaí. A escolha tem um motivo: a cidade é a segunda com maior concentração do poluente. Isto mesmo. O ozônio protege. Mas em grandes concentrações é prejudicial. Edson, que é jundiaiense e se formou em Gestão Ambiental pela Fatec, atua como consultor do Ministério do Meio Ambiente:
Por que o senhor decidiu estudar os níveis de ozônio?
A motivação do estudo do ozônio se deu na graduação, quando a professora doutora Fernanda Cangerana convidou os alunos da sala para a iniciação científica com ênfase no estudo do ozônio troposférico em Jundiaí. Eu me disponibilizei e daí nasceu meu interesse e paixão pelo estudo do ozônio e áreas correlatas. Depois de terminada a Iniciação Científica vimos que o estudo poderia ser estendido para um mestrado, que foi o que ocorreu.
O que é o ozônio?
O ozônio é um poluente na camada da atmosfera em que vivemos (a Troposfera). Ele é formado por outros poluentes emitidos por veículos e indústrias. É bem conhecido devido à Camada de Ozônio e pelos benefícios que ela fornece ao nos proteger dos raios do sol. Em excesso ele é danoso e pode ocasionar danos respiratórios, principalmente, em crianças, idosos. Quem tem asma pode sofrer com o ozônio. Além disso, ele é um dos principais Gases de Efeito Estufa – GEE, os gases que contribuem para o aumento da temperatura da Terra. O ozônio também é o 33° fator de risco de morte no mundo, por isso a importância do estudo desse poluente. As atividades humanas contribuem para o aumento dele.
Qual a concentração ideal de ozônio?
Quanto ao nível do ozônio, não temos como definir uma concentração que seja normal. Existem concentrações que são esperadas para determinadas regiões do planeta sem que exista influência humana, é conhecido como backgroud. Nas regiões polares, o nível é mais baixo, regiões mais próximas da linha do equador o nível é mais alto por serem mais favoráveis à formação do poluente. Mas quanto ao risco à saúde humana, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, não existe registro de concentrações de ozônio que não apresente nenhum risco sequer a qualquer pessoa. No entanto, ela sugere aos países que busquem como como padrão de qualidade do ar a concentração média de 8 horas, 100 microgramas de ozônio por metro cúbico.
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Por decidiu realizar o estudo em Jundiaí?
Jundiaí foi escolhido por conta de que os níveis de ozônio apresentados são bem elevados. Das cidades do interior fica atrás somente de Paulínia, principalmente em setembro e outubro, quando as concentrações já registraram 200 microgramas de ozônio por metro cúbico. Um valor bem elevado! A Cetesb faz a medição diária de ozônio em Jundiaí desde 2008 e eu queria compreender um pouco mais sobre os níveis do poluente na cidade. Fiz medições em sete locais de Jundiaí durante um ano para ver os níveis na primavera, verão, outono e inverno. Considerei diferentes características do município por isso coloquei equipamentos na Serra do Japi (na Base Ecológica), centro, Eloy Chaves, Anhangabaú, jardim Estádio, Parque Centenário e Monte Negro. Inclusive no Anhangabaú coloquei um equipamento para comparar com os dados da Cetesb, cuja estação de medição está instalada. Além disso, os estudos de poluição atmosférica é realizado com frequência em regiões bem populosas, mas cidades médias como Jundiaí também sofrem com a má qualidade do ar.
Quando começou? Quando concluiu a pesquisa?
A pesquisa se iniciou em 2016 e terminou em 2018, mas a parte de campo foi de setembro de 2016 até setembro de 2017.
Como a realizou? O senhor contou com auxilio de equipamentos para comparar os dados com os das estações da Cetesb? Quais conclusões chegou?
Consegui observar que os níveis de ozônio em Jundiaí apresentam características sazonais bem definidas, ou seja, nas estações mais frias e chuvosas apresenta níveis mais baixo, enquanto que, nas estações mais quentes, os níveis são maiores. Um fato curioso é que os níveis do Eloy Chaves e da Serra do Japi, em geral, foram os maiores no período estudado. No caso do Eloy Chaves isto muito provavelmente tenha relação com o Distrito Industrial e com a poluição vinda da região metropolitana de São Paulo e uma parte menor, vinda da Região Metropolitana de Campinas. Especificamente sobre a Serra do Japi, o transporte de poluição das duas regiões, o lançamento de compostos orgânicos voláteis pela vegetação natural e mesmo a poluição gerada em Jundiaí podem ter relação com os níveis de ozônio registrados.
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De modo prático podemos dizer que observações dos níveis de ozônio – e de outros poluentes também – nos alertam sobre o dano que causa o nosso modo de viver e o modo de estruturar as cidades. Temos a tendência de terceirizar a responsabilidade para os governos de todos os problemas, mas os níveis de ozônio são fortemente influenciados pelos poluentes lançados pelos veículos que utilizamos diariamente para diversas atividades. Não que o governo não tenha contribuição. Tem sim! Incentivo a indústria automobilística e ao consumo de veículos gera efeitos em cascata econômicos e ambientais, o ozônio é um deles. Além disso, é preciso pensar em diferentes alternativas para nos locomovermos dentro de nossa cidade já é um grande passo. É interessante ver como vem ocorrido a ocupação das ruas por bicicletas em diferentes cidades brasileiras. Isso pode parecer insignificante, mas resulta em menos carros circulando nas ruas e emitindo menos poluentes. Pensarmos em relógios espalhados pela cidade ou mesmo um aplicativo que nos alerte sobre os níveis de ozônio e a qualidade do ar seria uma alternativa, mas não sei até onde isso resultaria em uma mudança de atividade. Em São Paulo existem diversos relógios espalhados pela cidade informando a qualidade do ar, mas não sei até onde isso impacta no modo de viver e de pensar a cidade.
Como mediu o ozônio?
Na minha pesquisa realizei a montagem e a programação de um medidor de ozônio de baixo custo (ao lado). Pude comparar seu desempenho com o da Cetesb também. Foi feito com a placa Arduino, bastante utilizada por pessoas sem algum conhecimento técnico específico. Creio que o Arduino e outras tecnologias semelhantes são bem interessantes das pessoas começarem a utilizar nas casas delas ou mesmo nas escolas. Isso empodera as pessoas com dados e gera maior curiosidade para saber mais a respeito. Acredito que isso é uma ferramenta poderosa para envolver as pessoas a refletirem sobre poluição do ar e assuntos correlatos.