Nasci em 1961. Muito, muito antes de se falar em inclusão, deficiência com autonomia. Minha mãe ao dar à luz percebeu que havia algo errado com o bebê. Começou a correria. A criança (no caso eu), foi transferida para o hospital Penido Burnier, em Campinas e operada quatro horas depois do nascimento. Choque total.
Sei que meus pais tiveram lágrimas nos olhos, coragem no coração e fé no espírito. Fica impossível escrever a dor que experimentaram. Acreditam que perguntavam para eles próprios o tempo todo: “O que será desse menino, meu Deus?”.
Meu pai sentiu que deveria ir a Aparecida do Norte a cavalo. A princípio iria sozinho. Meu avô, de quem herdei o nome disse:
-Sozinho você não vai, vou junto.
Titio Ico decidiu ir também. Cavur, amigo de meu avô, e Nim Pícolo (com quem tive o prazer de conviver) se juntaram à comitiva. Provavelmente foi a primeira viagem de cavaleiros jundiaienses até Aparecida do Norte.
Minha mãe continuava a perguntar:
-Como vamos criar este menino cego?
Só posso supor que o amor inspirou a inteligência de Nympha e Zizi respondeu:
-Ora… como um menino!
E assim foi.
Os médicos haviam dito aos meus pais que quando eu tivesse sete, oito anos, seria feita uma cirurgia de enxerto de córnea e eu passaria a enxergar.
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Assim minha infância foi algo que posso chamar de praticamente normal. Brinquei com os primos e amiguinhos nos grandes quintais da época. Subi nas árvores. Escalei os muros das casas da rua Bela Vista, passando de casa em casa, por quase meia quadra mais ou menos. Brinquei no regato que passava em frente à casa da fazenda. Tomei leite tirado na hora.
A infância de uma criança cega? Não, simplesmente a infância de uma criança.
Depois disso veio a cirurgia. Mas, isto é uma história que ficará para outra vez.(Foto: Helena Lopes/Pexels)

JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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