Muitas são as coisas em que creio, muitas são minhas convicções, muitas das minhas crenças permito-me partilhar e discutir. Outras nem tanto: moralidade, caráter, comportamento, fé. Estas propostas são bem arraigadas e tenho zelo por elas. Não abro aos olhos curiosos nem ao senso comum porque das coisas em que creio monto minha Vida e procuro viver sem policiar aos demais. Vivo-as.
Mas, em minha função de pensante, venho a me perguntar: estas questões são mesmo questões de fundo ou são fumaças para nos confundir, enquanto as coisas sérias estão sendo tratadas sem nossa percepção? Ou isso mudou também? Ou a estratégia de enganar o público será outra? Desculpa, não é ser alarmista nem desesperançado, mas é ser pensante e crítico o suficiente para não me deixar iludir.
Volto a afirmar que estou numa torcida maluca para que tudo dê certo e para que as coisas andem como devem andar: adequadamente, nesta retomada do pico da pandemia (porque ela não acabou). Não interessa em quem votei ou votaria, mas interessa que acredito na democracia e se este candidato tivesse ganhado por um único voto, ele seria o vencedor. Não discuto credo religioso, tão pouco debaterei a fé de cada um. Se tiver fé, basta.
E assim vivo meu tempo e meu espaço. Amigos, apenas os escolhidos rigorosamente a dedo; companhias, apenas a selecionadas por muita afinidade; visitas apenas aos que me preenchem e pelos quais sou igualmente preenchido; parcerias, apenas aquelas firmadas sem interesses financeiros ou de cargos ou posições sociais. Exigência? Não. Livre escolha e decência.
Ainda não me vendi ao ponto de trocar um amigo por um cargo, uma negociata financeira ou uma posição social. Não me entreguei ainda à troca de parcerias pautada no crescimento da conta corrente ou da troca de favores. Rigidez de princípio equivale a rigidez de caráter. E essa é uma das coisas que creio. Minha ansiedade me faz ser rápido na ação e na devolutiva dela, por isso exijo dos meus amigos uma velocidade de comunicação. Mas meus passos e espaços são pautados pela mesma métrica sempre.
Sou questionado sobre respeito ao tempo do outro, sim. Mas me pergunto: o outro se questiona com relação ao seu tempo? Ele pensa no desastre que a demora dele pode causar num relacionamento adulto e amistoso? Em quanto de confusão poderíamos poupar se fossemos mais céleres? Ou ficar esperando um tempo (que sabe lá se virá) para contar ou fazer algo que facilmente poderia ser resolvido de imediato?
As conveniências são sempre motivo de espera e eu sou alérgico à conveniências. Acredito que as propostas de vida em comum, seja no matrimônio, na amizade, no serviço devam ser diretas e sem tempo a perder, vivendo-as com intensidade e disciplina. Ao esperar temos que nos responder: o que pretendemos esconder ou quanto queremos falar sobre isso?
Suficientemente postado diante de meu futuro, começo a tomar decisões e a aceitar desafios que me tragam a Vida de volta. O período da depressão me causou um distanciamento de mim e daquilo que me dizia respeito e, somente agora, percebo o quanto me isolei do Mundo, porém não sem tempo para desistir e manter meus propósitos: tenho forças para seguir adiante e tenho amigos que me incentivam a isto. Cada desafio e cada decisão ainda me soam dolorido. Porém, consigo perceber sua dimensão e seu objetivo.
Abraço aquilo que me atrai e, com a mesma firmeza de antes, afasto o que me sinaliza frágil e falso: mantenho a seletividade por princípio. Não me iludo com o belo, o amplo, o rico. Atraem-me o sério, o justo e o correto. Ainda que todos estejam fazendo o errado, minha opção sempre será pelo correto, custe-me o que custar. Doa-me o que doer.
Cheguei a rasgar de minha carne neste período de distanciamento, afastando-me de pessoas que não conseguiam me ver como um ser humano normal e comum, como também livrei-me de pessoas tóxicas que se aproximavam para seu desfrute e vantagem. Optei pelos mais trabalhosos, mas intensos e verdadeiros, ainda que as dificuldades de relacionamentos fossem grandes porém mais adequadas. Escolhi poucos, mas meus melhores parceiros.
São estes a quem devo minha recuperação. São estes que caminham comigo. Estes sabem o peso do saco de pedras que transporto nas costas e valorizam minhas pisadas. Tanto quanto eu valorizo as pisadas deles. E entendo os descaminhos deles. Só não entendo deslizes morais e de caráter: isto me dói demais e me faz reestruturar meu foco, como um localizador que reestrutura a rota. Contudo, isso é a Vida. Mudanças e transformações a cada dia, de outro modo seria monótono demais.
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Entretanto tem um senão: minha fé. Não me incomodo com a fé dos outros, não se intrometam com a minha. Sim. Creio num Deus Ressuscitado. Num Deus que me é pleno e me garante a plenitude. Esse Deus que saiu da cruz e me garante a Vida Eterna. E Ele só me pede a fé e a integridade, o que é pouco diante de suas promessas.
E é por este Deus Ressuscitado que eu consigo amar plenamente e tentar ser íntegro e em transformação. Minhas imperfeições serão trabalhadas, minhas inconstâncias serão diminuídas e minhas possibilidades serão aumentadas. Isso só é possível porque eu creio num Deus Ressuscitado que me assegura esta possibilidade e por isso posso desejar um feliz reencontro a todos os que n’Ele creem. É, reencontro. Porque só haverá renascimento após o nosso reencontro conosco mesmo. Feliz Páscoa. Ele vive.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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