O que é o gostar? O amor tem idade? E a amizade, esfria? Quem disse que uma vez amado, jamais será desamado? Quem afirmou que uma vez amigo, sempre amigo? Onde mora este insano que não percebe que quando ‘tá escuro e ninguém te ouve, quando chega a noite e você pode chorar, há, sim, uma luz no túnel dos desesperados? Explica-se o inexplicável? Ou sofre-se calado?
Acreditamos, como diz a música dos Paralamas do Sucesso, que haja um cais de porto pra quem precisa e deve chegar, porém, para aquele que já se encontra na lanterna dos afogados, cada pedaço de tábua é um refúgio, cada aceno é uma alegria e cada sorriso é uma esperança. Por que temos que nos iludir assim? Por que temos que acreditar nas palavras e não nas ações?
Percebemos que são muitas as marcas da Vida que já fazem parte da nossa história, mas nada faz eco na cabeça e no coração dos insensatos, naqueles que fazem suas leis e seus meios operantes, como se o Mundo girasse em torno deles e os outros…bem, os outros que se danem. A emocionalidade é vazia e sem eco, as palavras são inebriantes mas as atitudes são parcas e dúbias. Além desta música que estou parafraseando, lembro-me do livro Fahrenheit 451, em especial nas colocações dos “ossos secos”, aqueles destituídos de emoções compatíveis com as atitudes.
A impressão que temos, no momento, é que as pessoas esfriaram. Mas será que esfriaram ou sempre foram frias? O que leva alguém a ser atitudes diferentes em tempos tão próximos e, ainda assim, expressar uma fala cheia de atenção e carinho? Isso é esfriar ou seria algum tipo de disfunção mental que merece ser observada com mais atenção, ao mesmo tempo em que nos afastamos do foco? Ou será algo realmente inexplicável?
Impressionante como tentamos abrandar e acreditar que, num passe de mágica, o Coelho de Cartola, da Alice no País das Maravilhas, opere um milagre e muda a situação. Entretanto, esta mágica não existe, porque questões de conduta não estão sujeitas a propostas mirabolantes: ou são ou não são. Talvez (talvez, hein?) o melhor seja o fortalecimento e a retirada do time de campo, numa atitude corajoso e dolorida, mas certeira e pontual, visto o desinteresse de uma das partes: isto vale para amigos, amores, amantes e familiares, já todos estes fluem nos canais das nossas mais íntimas emoções.
Mais do que isso: o Coelho fazia o papel de sensor, de prumo, indicando o melhor caminho. Deixando ao livre arbítrio de nossa desmiolada Alice a escolha final. Sim, na verdade, cada um escolhe o seu caminho, o seu par e a sua forma de transitar por aqui. Escolhas, sempre as escolhas, as vezes explicáveis outras vezes nem tanto.
É aflitivo, agoniante e possivelmente inexplicável para aquele que se depara com uma inconsistência emocional e não encontra eco em sua procura. Entretanto é muito pior quando aquilo que se encontra é mais instável e volúvel ainda. Tamanha oscilação soa como um plano maquiavélico, sem chance de dar certo ou sem chance de avançar para um espaço seguro e adequado, uma vez que todo ele estará baseado no interesse de apenas um dos membros do suposto e frágil par afetivo. Coisas das emoções.
Desta forma, parece-se claro o porquê de ser tão complexo falar e analisar situações pessoais, de amigos, de parentes ou seja lá de quem for, estado do outro lado do aquário, sem estar imerso na mesma água nem nadar na mesma correnteza. Só não acredito que quando se fala em emoção e abusos não se saiba a quem vamos machucar: sabemos, sim, porque são atitudes premeditadas, ações estudadas, gestos escolhidos. Aqui não cabe o véu da inocência.
Temos pessoas mais emotivas se tornam escravas da ternura, não obstante continuem a pensar e a analisar sobre as ações sofridas e orquestradas sobre si. O que ocorre é que lampejos de loucura fazem com que se construa uma ilusão a que não se toma posse, pois ilusão é sonho, é fluido e não se concretiza, trazendo mais sofrimentos e postergando a ruptura para uma nova vida concreta e mais saudável.
Dureza tratar de emoções. Mesmo porque fala-se da emoção dos outros, ouve-se das emoções alheias, percebe-se a emoção do amigo, do parente, do amante, mas…e a emoção pessoal? E a dor interna de cada um? Será que temos o mesmo olhar, com a mesma clareza e mesma perspicácia, que temos quando estamos ouvindo e convivendo com os demais que sofrem destes senões afetivos? Será que somos tão lúcidos com nossa dor, como somos com a dor alheia? Ou será isto algo inexplicável?
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Teoricamente temos igual lucidez quando nos autoavaliamos e avaliamos os demais, apesar de contribuir com a seguinte afirmação: não sentimos a dor do outro. Sentimos nossa pele rasgar, nosso coração partir, nossa alma se desprender do corpo e “entendemos” a dor alheia. Por mais que nos esforcemos, entendemos o que se passa, percebemos as confusões mentais e conseguimos aquilatar quanto o outro sofre, mas não sofremos sua dor. Feliz e infelizmente.
Vemos, sentimos e sofremos com o passar arrastado do tempo. Buscamos forças para superar ausências, retocar imagens e refazer trilhas afetivas. Buscamos saídas, soluções e novas formas de viver, que nos liberte da dor e nos traga mais fortalecimento, entretanto é um passo por vez. É uma nova chance que nos damos e devemos oferecer ao outro, seja esse outro quem for: amigo, família, amor, amante, desconhecido, enfim. Mas é preciso que tenhamos em mente que as novas possibilidades precisam ser bem estudadas para que não cavemos nosso próprio buraco, de novo. Como explicar o inexplicável?(Foto: Freepik)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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