De fato, o que CANSA…

de fato

E os dias vão passando rapidamente. Não sei se é a minha percepção de tempo ou se tudo acelerou de uma só vez, mas noto que o tempo está voando e nada está se alterando para melhor. As repetições são de péssimo gosto e as novidades não satisfazem aos paladares mais exigentes. De fato, o que cansa é não notar perspectivas agradáveis num espaço de tempo curto ou médio; será preciso muita alteração e muito desapego para avançar.

Por muito tempo busquei manter uma forma mais equilibrada de escolhas e mudanças, sempre pautando por um critério que me possibilitasse perceber se estava onde queria e com quem queria. Quando confirmava, reforçava a relação interpessoal e a amizade recebia um ancoro mais forte e seguro. Estava num espaço confiável, poderia me abrir e me apresentar tal como sou.

De uns tempos para cá, noto algumas mudanças na sociedade, em especial no círculo que frequento, de modo a perceber este contexto um tanto superficial; não arriscaria a qualifica-lo de falso, pois não tenho evidências disto, mas asseguro que um contexto frágil e interesseiro, onde as aproximações são  feitas por meio  das conveniências.

Sim, rejeito e procuro saber de meus colegas e amigos a opinião deles, numa situação semelhante à minha e, por mais absurdo que pareça, tenho como resposta que isso é assim, hoje. Ou seja: atualmente, as coisas são mais superficiais e mais convenientes, sem compromissos com verdade e sem responsabilidades. Confesso que fico confuso pela percepção que me é passada: amigos convenientes? Descompromissados? Irresponsáveis? Acho estranho.

De fato, sempre tive comigo que as escolhas de parcerias e de amizade aconteciam dentro de critérios de confiabilidade e compreensão, acolhimento e pertencimento. E ninguém me avisou que tais critérios perderam seus valores e estão e total desuso, pois o mundo moderno é mais desprendido e mais superficial. Tal mudança significa um replanejamento dos valores e ideais e já nem sei se isso também não está antiquado. Que confusão para minha cabeça idosa…

Cada vez mais percebo (do verbo perceber, notar) que a fugacidade tomou conta do Mundo e não está aceitando aqueles que buscam fortalecer laços, arquitetar planos futuros, projetar empreendimentos sejam eles de que natureza forem: percebo que a questão é apenas o agora sem agregar valores temporais; e o agora, o imediato deve se estabelecer até quando for conveniente, o que já será uma boa coisa para os imediatistas. Acho muito estranho tudo isto e tenho dificuldade de compreensão.

Sei bem que nada é tão concreto que não tenha alteração como sei que vivemos outros tempos, já demonstrei isto em outras crônicas, mas diante da inconsistência das relações humanas, em que apenas o conveniente tem valor, passo a me amedrontar diante das pessoas que tentam se aproximar e a me tornar arredio com toda e qualquer aproximação atual.

E mais: também não sou aquela pessoa de coração aberto, cheio de fraternidade e acolhimento, sorriso fácil e bondade escorrendo  entre os dedos: sou bastante razoável e ponderado, equilibro cada gesto e palavra, penso muito, analiso as idas e vindas e abro meu coração diante do provável e do inusitado, mas nunca entro num envolvimento sem antes ter meus pés firmes, ainda que isso seja muito antigo. Aliás, de fato sou antigo.

E, no meio desse emaranhado, cambaleando e reequilibrando, sigo meu caminho, entre minhas malucas escolhas e as suas doloridas consequências; mas sigo firme sem demonstrar minhas fragilidades e meus medos (que os tenho aos montes) como se tivesse certeza absoluta de meus percursos e decisões que sempre advém das situações vividas. Sigo e não titubeio. Sigo. Vou…

Com toda a dificuldade de compreender e de tentar fazer o melhor, avanço sabendo que não atingi nem 10% das questões que me propus; entretanto, mantenho meus propósitos e minhas vontades intactas: sou duro na queda e reconheço que isto seja uma das minhas virtudes, por me fazer resiliente e sempre disposto a iniciar um novo trajeto.

Minha queixa ou constatação é sobre a fugacidade e a irresponsabilidade das novas amizades e parcerias; a maneira frouxa e despreocupada com que se aproxima ou se filia ao outro me deixa intrigado e sofrido, uma vez que não seja o tipo de Vida que me fascina: sou dos que pensam no amanhã, dos que dividem presentes e futuros, dos que planejam percursos agradáveis, sem questionar ou sem cobrar. Ainda que seja cobrado.

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De fato, minha inquietação, que hoje está simbolizado por esta dor que atormenta meu peito e que traz lágrimas fáceis aos meus olhos, tirando-me suspiros profundos, vem do fato de me perceber descartável e esquecido por pessoas a quem amo ou amei. Isto me deixa muito vulnerável, ainda que se cansem de me dizer que faz parte da pós-modernidade e do futuro.

A pós-modernidade e o futuro que se danem, eu quero é amar e ser amado. E ponto final. Esta é minha essência e gosto demais dela, ainda que tente me moldar e/ou reequilibrar na fugacidade. Sou dos intensos e sou feliz.(Foto: Yagerasi/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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