Na verdade, semana passada me perdi no calendário. Estar em isolamento e garantir uma rotina faz com que trabalhemos com informações mais apuradas e o tempo escorre entre os dedos, sem que consigamos dar cabo de todos os compromissos e de perceber os dias voarem. Desta forma, terminei a semana sem perceber a diferença entre os dias, distribuídos entre tarefas muito parecidas e conectadas, deixando de me preparar para a crônica semanal. Entretanto, este descontrole geral não desregulou meu senso crítico nem minha capacidade de observar o entorno que me oprimia.
De fato, temos vivido tempos difíceis; poucas boas novidades, assunto centralizado nos aspectos sanitários, nem sempre verdadeiros, mas sempre alarmantes. Dentro deste cenário, busco estabelecer uma trilha que me garanta tranquilidade e equilíbrio, sem perder a noção do mundo que me cerca e no qual habito. Detesto a condição de visionário.
Talvez seria prudente iniciar nosso passeio pela retirada inconteste de nosso ministro da Saúde. Sem tempo para esquentar a cadeira, optou por garantir seu currículo limpo a ter que partilhar mandos e desmandos de personagens da história do país cuja capacidade de raciocinar fica aquém do esperado. Óbvio que maculou sua imagem, ao se alinhar, em momento tão delicado, com tripudiadores da verdade. Cada cabeça uma sentença.
Na mesma sintonia, ainda estabelecendo paralelos, é assustador o número de pessoas esclarecidas que se investe de coragem ou loucura, enfrentando ruas, mercados e locais de circulação sem a proteção mínima de uma máscara no rosto. Resta a impressão que o conhecimento não foi bastante para mudar o hábito ou têm uma outra fonte de informações que garanta a mentira de tudo o que está sendo divulgado ou estamos diante de um surto psicótico coletivo. Entretanto, esta liberdade de escolha de romper contra as recomendações médicas incide sobre os cautelosos, conforme temos presenciado.
Discurso de ódio pipocam por todo espaço, das maneiras e formas mais variadas, tensão nos meios de comunicação, sejam eles quais forem, e preocupação entre a população mais atenta aos sinais atuais de mudanças nos padrões vigentes e sugeridos para uma vida futura; esta é, pois, a configuração do contexto do mês de maio deste ano de 2020. Assemelha-se a uma guerra fria, em que nos envolvemos e nos destruímos com o poder das palavras e das atitudes mal elaboradas, mediados pelo descaso político e ausência de uma liderança perspicaz e astuta diante do enfrentamento necessário para as questões reais da vida.
Realmente são momentos delicados, desagradáveis e preocupantes. A História nos mostrará detalhes deste capítulo de extermínio, com olhares adequados e duros, como em todos os demais embates com os quais a humanidade se confrontou. Claro que os idiotas xiitas serão a tônica sobre a qual todos rirão os inocentes sonhadores terão outro lugar, neste espaço, ambos vistos como tolos e inconsequentes; valorizaremos aqueles que acreditaram na Ciência e numa espiritualidade diferenciada desta sandice toda a que estamos confrontados.
Mas, o que aprendemos, até o momento? Em que mudamos?
Vejo, com muito bons olhos, aqueles que se esforçam e sofrem, até, para se reinventar. Aqueles que buscam saídas improváveis, batem a cara na porta e continuam o caminho. Aqueles que, mesmo com toda a dificuldade e medo, conseguem vislumbrar brechas e fendas e furos para passar e conseguem driblar o infortúnio, saindo quebrados, machucados mas vivos.
Estes serão os homens do futuro, fortalecidos e mais sábios por terem resistido diante de tanto sofrimento e agruras, porém muito mais sábios e experientes. Poderão dizer, em voz alta: eu venci. E esta vitória vem misturada com mudanças fundamentais, alterações estruturais, perdas hercúleas, dores horrendas; porém imersas numa crença e num saber que os blindou das ilusões, das blasfêmias e das falsas ilusões.
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Nossos vencedores aprenderam a se reinventar na solidão, sem temê-la. Souberam criar quando não havia mais esperança. Esperaram quando todos fugiam. Lutavam quando os demais desistiam. Nossos vencedores foram aqueles que aprenderam a apreciar o pôr do sol, as nuvens em movimento, o barulho dos ventos. A lua. As estrelas. Eram eles que liam até altas horas, que cantavam e cantarolavam as canções que os emocionavam. E dançavam, sozinhos, no baile daquilo que ousaram chamar de Vida.
Conheço vários destes vencedores e me orgulho deles. Como eles me encorajam. Como eles dignificam a espécie humana. Como eles me representam. Sim, dias melhores virão. E nestes dias, veremos os melhores homens. Vale a pena lutar para esperar.(Foto: Tero Vesalainen/Shutterstock/Vix)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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