DESCRENTE, eu???

Quem falou que iria ser fácil? Ou quem falou que seria tranquilo? Ou será que esperávamos que enfrentar um inimigo gabaritado seria como tirar doce da boca de criança? Não, aliás a pendenga nem começou. Alguns países da Europa já estão na baila por perto de 100 dias, outros já iniciam o segundo ciclo. Então, agora é momento de foco e fé. Descrente, eu? Jamais.

Observo, analiso, sofro, esgoelo, esperneio com notícias ruins e com eventos desastrosos e safadezas das quais vivo me descabelando e bradando. As vezes com uma histeria que toma meus 50 minutos de terapia, as vezes com ironia e deboche, mas descrente…nunca. Acredito no poder do brasileiro decente e ciente de seus deveres e direitos.

Mas, avançando, tivemos uma semana cheia de sobressaltos. Foram emoções a perder de vista. Das ótimas até as péssimas, pudemos vivenciar oscilações políticas, difamações, elogios e friezas que envolveram os últimos acontecimentos nacionais e internacionais, sempre com a presença de pessoas do mundo politico; não posso dizer que acompanho tudo, mas procuro saber o que acontece por aqui e por lá, fora do Brasil. Lá, eu checo as notícias com amigos de lá, aqui eu vivo e sinto na pele as peripécias das entidades.

Sim, entidades, porque alguns me parecem desencarnados. São espíritos trevosos, que precisam de luz e oração, para não terminarem por destruir a vida dos pobres brasileiros. Poderia ser cômico, se não fosse triste. Entretanto, nestes últimos sete dias, bem atribulados, tivemos oportunidade de ver como se faz uma nação inteira de idiota. Foi possível perceber como somos meros joguetes e não percebemos, de pronto, o desandar das coisas.

Talvez falte-nos um pouco de safadeza para entender a língua dos safados. Em meu grupo dizemos que inhumbú conhece inhumbú; desta forma apontamos para a semelhança de falas, de ações…nada mais que isso, nesta criação ontológica. Caso fossemos dos mesmos tipos, de antemão teríamos ideia do caminho que as coisas tomariam. Não somos…

A partir disso, feliz ou infelizmente, resta-nos acompanhar o avanço das discussões e dos fatos, tal como eles nos surgem, com vieses e atalhos. Ou com certezas e exatidões que chegam a doer, mas escancaram aquilo que não gostaríamos de ver ou ouvir. Por exemplo, é triste saber que os estados lidam com ameaças de epidemias simultâneas, visto que a dengue, a gripe e o corona estão pipocando por ai, sem pedir licença. Nossos governadores não fizeram os seus deveres de casa e a população pagará, mais uma vez, a conta altíssima e dolorida.

Pais começam a valorizar os professores de seus filhos e todos os demais professores, porque estão tendo que lidar (leia-se enfrentar) com os filhos desobedientes, grosseiros, petulantes e ferozes que mandavam para a escola, na intenção de tê-los educados por aquele aparelho ideológico do estado, enquanto a função da escola é instruir, porque educação se leva de casa. Triste verdade, mas realmente precisávamos apontar este contraponto entre o real e o ideal: educar é com a família, instruir é com a escola.

Outro tema que me traz reflexões é o valor da vida. Quem dá o valor de uma vida? Vou atender ao pobre ou ao rico? Ao jovem ou ao idoso? O do norte ou o do sul? Já pensaram que algumas conversas chegam a questionar, ainda que em voz baixa ou em “modo off-line”, que chegaremos ao ponto de termos que selecionar a quem socorrer com os respiradores? Qual critério será adotado? Existem vidas com mais prioridades? Quem determinou estas prioridades? Difícil isso, não? Ética, moral, valores, quem indicará o rumo?

Fico mais agitado, ainda, quando me vejo numa discussão, num debate, numa análise em que os balizadores são frutos do senso comum. Senso comum é burro. Senso comum é o mais comum, o mais rasteiro dos saberes, sem perfilar junto às grandes indagações ou reflexões de grande porte. Não é momento para conversas serem pautadas e norteadas por conversas que se desdizem diante da fragilidade com que foram engendradas.

Determinados assuntos cobram-nos a dureza e a frieza que apenas a ciência pode oferecer. Ainda que dura, ainda que de compreensão pouco favorecida, será pela Ciência que sairemos deste abismo em que estamos. E não falo apenas da Ciência Médica, falo das Ciências como um todo; nosso olhar interdisciplinar nos possibilita olhares plurais e mais conectados com as questões da humanidade atualmente: estamos em perfeita sintonia, ainda que no caos. A ordem aparente que sentimos ou imaginamos tem fundamento quando orientada, conduzida, apontada por alguém que emerge do grupo; isso é muito importante agora.

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E quem seria este indivíduo que me conduziria com sensatez e segurança? Um líder. Um líder que nos sugira ações condizentes com as necessidades coletivas e individuais, sem pendores partidários, sem saídas messiânicas, sem apelos midiáticos, apenas um líder pode nos ajudar neste momento. Claro está que não falo desses falastrões ou fanfarrões que estão ai, dando seu show de horror, ludibriando os desprevenidos. Falo de alguém com poder e percepção de liderança, com cabeça para superar esta onda caótica e dar-nos mais segurança. E com inteligência para vislumbrar saídas.

É assim que grandes nações resolvem seus problemas.

E, para encerrar: que renasçamos na Páscoa do Senhor! Que tenhamos possibilidade de nos reinventar para que saibamos ser outro, melhor e mais humano, depois desta Via Crucis. Acreditemos na ressurreição, é um conforto real, divino e fortalecedor. Feliz Páscoa.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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