DIA E HORAVanessa foi uma das mulheres mais ativas do movimento ‘Mães da Praça do Fórum’, que ganhou projeção no final da década de 90. Ela deu dezenas de entrevistas e teve uma audiência com o então ministro da Justiça, Renan Calheiros. O presidente era Fernando Henrique Cardoso. Hoje, aos 38 anos, Vanessa tem uma filha de 20 anos e afirma que em 1995, apesar de ter feito tanto para reaver Sheyviston, não passava de uma criança “inocente, idiota”, lamenta.

DIA E HORA

Em dezembro de 1994, o bebê passou mal e foi levado para o São Vicente. Naquela época, o Hospital Universitário não existia. Já em janeiro, Vanessa voltou com o filho para o hospital. “Eu estava dando leite de caixa para o Sheyviston. Ele não se adaptou e ficou desidratado. Eu não sabia cuidar direito realmente. Eu era uma criança”, lembra.

No dia 12, às 10 horas, mãe e filho tiveram alta. Só que ela teria sido mantida no hospital. Por uma hora ela ficou aguardando a autorização para sair. Arrumou o menino e foi ao banheiro. Quando voltou, encontrou o macacão dele na cama. “As enfermeiras ficaram me enrolando. Elas achavam que eu não tinha condições de cuidar do meu filho. Foram elas que chamaram o Juizado de Menores”, comenta.

Vanessa diz que deixou o quarto desesperada. Foi avisada que teria de ir ao Fórum. Lá, foi orientada a arrumar um advogado. “Fui acusada de maus tratos. Nunca mais vi meu menino”.

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O detalhe é que Vanessa também era menor de idade e afirma que não recebeu nenhuma assistência. “Só perguntaram se eu queria ir para uma casa do tipo Febem. Falei que não. Passei a ir com freqüência ao Fórum. Eu implorava para o juiz Beethoven entregar meu bebê de volta. Eu implorava e ele dizia que queria o melhor para o meu filho. Fui proibida de entrar no Fórum”, relembra.

Alguns anos e muitos casos de adoções depois, Vanessa teve uma filha e passou a integrar o movimento das mães que tomaram a praça do Fórum (foto abaixo). Elas pediam suas crianças de volta. “Foi uma época muito ruim. As pessoas passavam por nós e diziam que merecíamos ter perdido a guarda dos nossos filhos, que não tínhamos o que fazer”, diz.

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Apresentadores famosos como Ratinho, Faustão e Xuxa ajudaram as mães de Jundiaí que tiveram condições financeiras de ir até Brasília, onde conversaram com o ministro Renan Calheiros. Ele prometeu abrir uma CPI para investigar as adoções em Jundiaí. Realmente abriu. Só que não deu em nada. Éramos em 42 mães. Pelas minhas contas só 12 – no máximo – conseguiram recuperar seus filhos naquele período. Fiquei feliz por elas. Mas é um número insignificante. Outras estão sendo achadas pelos filhos agora”, explica.

Vanessa lembra também a participação da defensora pública Maria Dolores Maçano, enviada a Jundiaí pelo Governo do Estado, para investigar as adoções. “Ela ficou muito brava com o que aconteceu comigo. Afinal, eu também era uma criança”, afirma. Foi Maria Dolores quem deu para Vanessa esperança de que o bebê não tinha sido adotado por um casal do exterior. “Ela viu a lista de crianças que foram para o estrangeiro. O nome do meu filho não estava ali”, informa.

Com a visão de quem esteve no movimento e conheceu todas as mães que tiveram os filhos tomados pela Justiça, Vanessa acredita que as crianças eram escolhidas pela cor e beleza. “Tinha uma senhora negra que teve seis filhos retirados dela. Diziam que a mulher e também as crianças tinham problemas psicológicos. Meses depois, as crianças voltaram. E a família dela vivia numa situação pior do que eu. Fiquei contente por aquela mãe. Mas existe um motivo para aquelas seis crianças terem sido devolvidas”, diz.

Assim como todas as outras mães que ainda vivem este drama, Vanessa vive cada dia com a esperança de que irá reencontrá-lo. “Vinte e três anos sem notícias dele. Isto dói muito. Penso no meu filho todos os dias e espero a volta. Peço a Deus para que ele me dê esta chance: preciso falar para o Sheyviston que não o entreguei a ninguém, que o tiraram de mim. Meu coração de mãe diz que eu vou achá-lo. Deus marcou dia e hora para que isto aconteça”, conclui.


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