A doce flauta avisa que o ‘BIJUZEIRO’ está chegando

Todos os domingos, por volta das 20 horas, o som doce de uma flauta corta o silêncio das ruas da região Leste de Jundiaí. As notas vão do ‘dó’ ao ‘si’ e voltam ao início em uma fração de segundo. A flauta avisa que o ‘bijuzeiro’, o vendedor de biju, está chegando.

Para quem não sabe, o biju é um doce feito com massa delicada, em forma cilíndrica, acondicionado numa lata enorme, de mais de um metro, que Gilmar Alves Dias, de 50 anos, carrega desde que tinha 11 anos. “Eu acho que em Jundiaí existem mais um dois ou três bijuzeiros como eu”, afirma.

Flauta: o som avisa crianças e adultos que o doce delicado se aproxima
Flauta: o som avisa crianças e adultos que o doce delicado se aproxima

Vender biju não era o sonho dele. Gilmar queria ser desenhista. Mas a família era grande, os pais já faziam o doce e ele tinha de ajudar. “Estudei até a segunda série do primeiro grau. Mais tarde fiz o Mobral”, contou.

O vendedor de biju se casou e teve um filho. Foi aí que ele enterrou de vez o sonho de ser desenhista, transformou o ‘bico’ que ajudava no orçamento da família em profissão. Ele afirma que quando o filho completou dois anos, foi abandonado pela esposa. “Eu não sabia nada sobre como cuidar de uma criança ou da casa. Mas eu aprendi”. Hoje, meu menino tem 20 anos e fez o Senai, diz orgulhoso.

Gilmar: promessa de não contar o segredo da massa e morrer vendendo bijus
Gilmar: promessa de não contar o segredo da massa e morrer vendendo bijus

Os bijus são vendidos apenas aos finais de semana. Em dias úteis, Gilmar comercializa salgadinhos perto de escolas. Mas o doce que esfarela na boca é a grande atração. Num sábado e domingo ele consegue vender até dois quilos da guloseima. E como os doces são leves como uma pena, isto quer dizer que Gilmar vende muito biju. Ele cobra R$ 10 por quatro saquinhos com quatro bijus cada.

Carregar a imensa lata onde os bijus são colocados não é fácil. Por isto, a jornada de trabalho de Gilmar vai das 16h30 às 20h30. “Eu vendo para todo mundo, de crianças a adultos”, explica.

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Como existem poucos bijuzeiros na cidade e todos já têm uma certa idade, um aviso aos fãs deste doce: aproveitem e se deliciem agora porque os dias das flautas alertando que o vendedor se aproxima estão acabando. Gilmar diz que vai morrer vendendo biju. Mas não conta para ninguém como se faz a massa. “Isto é segredo”, afirma de forma enfática. Com os outros bijuzeiros não deve ser diferente. Em alguns anos, biju só nas fotos e nas lembranças…