Este ano, o jornalismo em Jundiaí vai mudar. Não apenas por causa da criação do Jundiaí Agora. Mudará porque as costumeiras estruturas do modo de divulgar as notícias estão abaladas. Esta é uma discussão antiga dentro das redações e dos veículos especializados. O leitor comum não tem obrigação de saber o que vem ocorrendo. Ele apenas quer se informar bem com o veículo de sua preferência. Contudo, agora precisa entender os motivos e as consequências do que ocorrerá em 2017 para escolher corretamente seu o jornal impresso ou online, rádio e televisão. Neste ano, os fatos serão disputados mais do que nunca entre os ‘jornalões’, como o consagrado jornalista Alberto Dines refere-se aos veículos tradicionais, e sites encabeçados por jornalistas experientes que optaram por fugir de um sistema que hoje beira à falência. São os jornalistas independentes. Esta disponibilidade de informação é bem-vinda porque quebra um círculo vicioso e diferencia quem de fato está disposto a falar a verdade daqueles que utilizam os veículos com finalidades que nada tem a ver com a essência do jornalismo.

Primeiro é preciso deixar claro que empresas não são entidades assistenciais e os jornalistas não são voluntários. Precisam de dinheiro para sobreviver, pagar suas contas e os salários dos funcionários. De onde vem o dinheiro e como ele interfere na produção jornalística é a primeira grande questão relacionada às mudanças que estão por vir. Um fato de interesse público não pode ser negociado. Algo relevante, que interfere na vida da população, mesmo que atinja o poder público, tem de ser revelado. Esta informação não pode ser barganhada.

O relacionamento comercial entre o poder público e os veículos de comunicação é algo comum. Nesta primeira edição do Jundiaí Agora, ao comentar os gastos excessivos em publicidade pela administração anterior, o prefeito Luiz Fernando Machado afirma que a Prefeitura deve sim pagar pela divulgação de informações que prestam serviço à comunidade. A autopromoção, por outro lado, segundo o prefeito, precisa ser combatida.

A crise econômica pegou em cheio os jornalões. As redações sofreram seguidos cortes. Jornalistas experientes e que tinham salários maiores foram demitidos. Sobraram colegas novatos ou até mesmo estagiários. Quem ficou trabalha por três, quatro profissionais. Evidentemente que não há padrão de qualidade que resista. Juntando-se a este cenário há o relacionamento promíscuo entre donos de jornais e autoridades políticas. Sem conseguir faturamento com os clientes de sempre como comércios e indústrias que também enfrentam a crise, proprietários de jornais procuram desesperadamente os representantes do poder público para manter suas contas em dia.

Como ninguém dá nada de graça, estes ‘clientes’ fazem exigências contrárias ao bom jornalismo. Ocorre que o perfil do receptor da notícia mudou. Há 30 anos, quem lia um jornal raramente questionava as informações divulgadas. ‘Se está escrito é verdade’. Esta era uma máxima que não existe mais. Quando muito, quem não concordava com a publicação mandava uma carta educada ao editor. A internet, em especial as redes sociais, operou o milagre do fim da passividade do leitor/ouvinte/telespectador. Estas pessoas estão muito mais bem informadas, recebendo notícias e comentários a todo instante. Ao ver uma matéria claramente ‘vendida’, elas imediatamente fazem duras críticas nos sites dos próprios jornais e denunciam através das redes sociais. A web evidenciou a crise ética que os jornalões insistem em cometer, jogando no lixo algo que não tem preço: a credibilidade do veículo.

Além das crises econômica e ética, os veículos tradicionais enfrentam a crise da concorrência. Eles não estavam preparados para o choque que a internet provocou no jornalismo. Com um celular na mão, qualquer um pode fotografar ou filmar um fato interessante. É verdade que muitas destas pessoas fazem pose de repórter sem imaginar a complexidade da profissão. Não basta divulgar. É preciso checar à exaustão, cruzar informações e analisar as consequências. Os sites jornalísticos, veículos que vieram para ficar, são um transtorno para os jornalões dada a rapidez da divulgação da notícia e a interatividade com o internauta. O que daqui cinco minutos já está velho em um site pode ser a manchete de um jornal impresso de amanhã. Um dilema que os editores-chefes enfrentam diariamente até que os veículos tradicionais entendam que não é possível competir e é hora de se reinventarem. Enquanto isto, as vendas despencam, os anunciantes somem, as notícias se tornam cada vez mais objeto de troca antiética e os leitores reclamam com razão.

Este ano será diferente para o jornalismo de Jundiaí porque muitos profissionais decidiram montar seus próprios sites de notícias. Uns foram vítimas da crise econômica que afeta os veículos tradicionais. Outros não aguentaram o conflito ético entre a boa prática da profissão e aquilo que deve ser publicado porque alguém mandou. Outros perderam seus empregos pelos dois motivos. Cada um trabalhará os fatos ao seu estilo, buscando criar seu público. A internet proporcionará uma explosão de informações sem precedentes na cidade. Jundiaí e região têm mais de um milhão de habitantes e há espaço para todos os novos jornais online. Sem contar que um jundiaiense que mora na Tailândia poderá acompanhar dezenas de notícias da cidade em tempo real. O monopólio da informação não existe mais.

É inevitável que muitos destes sites desaparecerão com o tempo. Aliás, isto já está acontecendo também veículos tradicionais. No caso deste jornalismo independente que está nascendo em Jundiaí neste ano, é certo que as melhores estratégicas econômicas garantirão a sobrevivência de muitos. Leia-se como estratégia econômica algo ético e dentro dos padrões morais. O exemplo dos jornalões é evidente: jornalismo e interesses escusos não combinam. O público sabe quando uma matéria foi ‘comprada’. E quem usa deste subterfúgio vai, mais cedo ou mais tarde, ser punido por tal prática. Quem a publica torna-se motivo de irritação de seus leitores, de indignação e até de chacota. É claro que ninguém está na profissão para rasgar dinheiro. Ser contratado para divulgar coisas importantes para a população faz parte do jogo como diz o novo prefeito de Jundiaí. Esta é a hora de praticar o jornalismo pelo jornalismo como há muito tempo não acontece na cidade.

[bsf-info-box icon_size=”32″]marco_sapiaMARCO ANTÔNIO SAPIA
É jornalista responsável pelo Jundiaí Agora

 

 

 


foto principal(acima): divulgação[/bsf-info-box]