“Entre o suicídio político e aniquilar as finanças da Prefeitura, eu fico com o suicídio”. A frase é do prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, e foi publicada na terça-feira, dia 12, no site tudo.com.vc e dizia respeito ao projeto que alterava a Planta Genérica de Valores elevando o IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano – em até 25%. A frase é forte e, parecia, definitiva. O prefeito estava, naquele momento, “queimando” seu futuro político com o objetivo de salvar as finanças da cidade, segundo ele e o gestor de Finanças, José Antonio Parimoschi, que foi seu candidato a vice na eleição perdida para Pedro Bigardi em 2012. Com o decorrer das horas o que se viu foi a base aliada, desesperada, tentando evitar o efeito dominó.
Quem tem acompanhado a administração Luiz Fernando Machado, iniciada há menos de um ano, tem visto e ouvido reclamações de que a cidade parou. O próprio Machado admite isso, afirmando que a culpa é do prefeito anterior que gastou mais do que devia e deixou a cidade sem dinheiro. Jundiaí não teve Carnaval de rua – tradicional na cidade – e não disputou os Jogos Regionais – esporte que ganhou quase todas que participou. A justificativa foi a falta de dinheiro. Para sair do “buraco” o gestor de Finanças elaborou projeto alterando a Planta de Valores, alegando que a cidade precisava de Justiça Fiscal e que este procedimento não era feito em Jundiaí desde 1998, durante o primeiro mandato de Miguel Haddad. Na época, o secretário de Finanças era Wilson Roberto Engholm.
A alegação do gestor era de que a atualização da Planta de Valores deveria ter acontecido antes. Segundo a legislação o IPTU deve ser corrido pelo valor do INPC – Índice Nacional de Preço ao Consumidor – e que neste ano não chegou a 2%. Logo, os 25% justificariam a alegação do prefeito de cometer “suicídio político”. Ora, se o Gestor atual de Finanças, afirma que a correção deveria ter ocorrido antes, a pergunta que fica é: quem foram os gestores ou os secretários de Finanças do Município que não propuseram isto aos prefeitos entre 1998 e 2016. Paulo Roberto Galvão e Pedro Galindo ocuparam o cargo durante o governo de Pedro Bigardi. Pulamos a gestão do PSDB porque o secretário na administração do falecido Ary Fossen e na terceira gestão de Miguel Haddad foi José Antonio Parimoschi. O mesmo que reclama de que a Planta deveria ter sido reajustada antes. Ele sugeriu o “suicídio” a Machado?
Feito um resumo dos fatos, chegamos a 2017 e, no primeiro ano de mandato, sem grandes obras realizadas e responsabilizando o prefeito anterior da falta de dinheiro, Machado decide ou aceita a proposta de alterar a Planta de Valores. Projeto elaborado, projeto encaminhado à Câmara e data da votação definida: 12 de dezembro, exatamente dois dias antes do aniversário da cidade e 13 antes do Natal. Presente para o munícipe? Presente para seus eleitores? Como ninguém respondeu estas perguntas, o fato é que, no dia da votação, Jundiaí acordou pegando fogo. Apenas os principais sites de notícias da cidade destacavam a votação e a reação na cidade: o povo protestava contra o possível aumento, principalmente das redes sociais. E o “suicídio político” estava quase decretado.
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No início da tarde de 12 de dezembro, quatro horas antes da votação na Câmara, os vereadores da base aliada estavam no gabinete do prefeito reunidos para discutir a pauta da sessão da Câmara. O movimento na rua Barão de Jundiaí já começava a crescer com manifestantes se juntando diante da Câmara quando a notícia estourou como bomba – ou simples traque: Luiz Fernando Machado recua do “suicídio” e retira o projeto da Câmara. O efeito dominó estava claro: com a aprovação do projeto, não só o prefeito estaria morto politicamente, mas todos os vereadores da base aliada.
Claro que nenhum vereador afirmou isso abertamente após a reunião, mas ficou claro, no rosto de todos eles um alívio durante a sessão realizada à noite. Só não foi um alívio total porque as galerias estavam cheias de pessoas dispostas a perturbar a paz na cidade que Luiz Fernando estava tentando implantar. Ficou claro que os vereadores afirmaram ao prefeito que as redes sociais cobravam deles uma postura diferente à da adotada pelo prefeito ao encaminhar o projeto do Gestor que afirmou que a medida tinha que ser feita antes, mas não o fez nos oito anos que esteve no cargo. O prefeito já tinha sentido na pele na manhã da terça-feira durante inauguração do supermercado Tauste quando foi vaiado pelos presentes à inauguração. A morte, portanto de Machado, se estenderia a todos os vereadores da base aliada. Alguns destes vereadores estão em primeiro mandato, outros já mais antigos sonham com a eleição do ano que vem, ou seja: ninguém quer morrer politicamente antes da hora.
Fechando o assunto, não só faltou faro político ao prefeito como ele deve ter esquecido de consultar sua área de marketing para avaliar qual a reação dos fatos. Faltou, acima de tudo, ouvir a população antes de tomar uma decisão suicida como esta. Não se toma decisões políticas de cima para baixo! Faltou humildade aos arrogantes do oitavo andar do Paço Municipal. Só não rolou cabeça porque o prefeito seria o primeiro da lista a sair.
(Os artigos do jornalista Nelson Manzatto são publicados todas as sextas-feiras. O Jundiaí Agora excepcionalmente divulga o texto hoje. Imagem acima: marketingcomdigital.com.br)
NELSON MANZATTO
Jornalista profissional diplomado, tendo trabalhado no Jornal da Cidade de Jundiaí, Diário do Povo de Campinas, Jornal de Domingo de Campinas, Diário Popular de São Paulo e Jornal de Jundiaí. Foi editor-chefe dos jornais Diário do Povo, Jornal de Domingo e Jornal de Jundiaí e sempre trabalhou nas editorias de Política e Economia. Também trabalhou em Assessoria de Imprensa. É membro da Academia Jundiaiense de Letras e tem quatro livros publicados: Surfistas Ferroviários ou a História de Luzinete (Vencedor de Concurso Literário), Contos e Crônicas de Natal (com cinco textos premiados), Momentos e No meu tempo de Criança. Mantém um blog literário: blogdonelsonmanzatto.blogspot.com