FALTA DE ENQUADRAMENTO

enquadramento

Ahhhh, como conviver com aquilo que não é rotineiro? Como conviver ou ser diferente das pessoas que nos cercam? A cada dia que passa mais eu percebo que devo ter caído de algum caminhão ou devo estar no tempo e local errados. Sinto falta de enquadramento e isso me assusta e me preocupa, justamente por não ser da maneira como querem que eu seja ou por não estar com pessoas que não se moldam ao comum. Aliás, nunca gostei do comum, nunca gostei do igual. As pessoas diferentes sempre exerceram muita atração na minha Vida.

Antigas namoradas, colegas de escola e faculdade, professores e parceiros de profissão, sempre estive perto dos outsiders por uma conexão que não consigo explicar. Ou consigo. Ou entendo. Ou sei o motivo. O que me basta é que sempre fui muito feliz, mesmo com minhas exigências e minhas discrepâncias, sempre flanei pela felicidade; os momentos tensos vividos intensamente, com a mesma força com que vive as euforias e as grandes surpresas….a intensidade sempre foi minha marca mais forte.

E, pensando nisso, realmente me representa bem esta qualidade, visto que para o bem e para o mal, sempre respondi com muita assertividade e muita segurança: intensamente. Acredito que tal característica me faça diferente de outras pessoas e não me incomodo com tal qualidade (vejo assim) porque sinto-me bem com minhas escolhas, sejam elas quais forem. E este traço, lembro-me bem, trago desde sempre, não por haver pretendido tê-lo, mas por ser.

Percebo que, em algumas horas, tenho mais observações para fazer ou para apresentar, como também valho em outros momentos, aleatoriamente, porém, de certo modo, não me preocupo com estes detalhes e não vivo em função de adequações: simplesmente sou. Quando estou com meus amigos, com pessoas da minha confiança, consigo ser plenamente eu, sem regras e sem temores. Espontaneamente e autenticamente. Exerce minhas posições com integridade, curtindo minhas diferenças diante dos comuns. E sinto-me bem…

Percebo que no exercício desta autenticidade nunca me pego na mesmice e tão pouco na repetição: deve ser horrível ser sempre o mesmo, não ter nuances nem ter outras perspectivas (eu as tenho aos montes e preciso selecioná-las…). E não ser o mesmo não significa não ter personalidade, significa se dar ao direito de ter suas escolhas e suas nuances, tantas quantas forem precisas, sem perder a essência e sem se descaracterizar; acredito que ai esteja o exercício mais puro da cidadania e da humanização, duas das peças fundamentais para aqueles que pretendem transformar-se e transformar o espaço que habitam.

Acredito, sem sombra de dúvidas, que seja possível exercer minhas múltiplas funções dentro daquilo que me faz feliz e sendo exatamente aquilo que sou: uma eterna metamorfose que busca sedimentar emoções, espaços e momentos que tenham significado, em minha vida, de maneira a me sentir útil e adequado ao meu tempo, sempre observando que o Tempo avança e que temos que acompanhar este avanço. O dinamismo faz com que estejamos sempre adiante do tempo, reorganizando nossas ações atuais e futuras. Chamo isto de sabedoria.

Mas entendo, ainda, ser diferente, por não ficar “esperando a morte chegar, com a boca escancarada, cheia de dentes…”. Sou dos que vão à luta e não me satisfaço com pouco: pouca ternura, pouco afeto, pouco carinho, pouca sinceridade, pouca entrega. Ou a intensidade vai à frente ou não me envolvo. E assumir que esta é a forma de agir, custa-me caro, por buscar o diferente e o relevante; a Vida passa a ser uma busca por situações e pessoas que façam a diferença!

Desta maneira, a rotina nunca fica pesada nem tão pouco gera monotonia, porque ela não se estabelece: cada momento é único e cada ação é ímpar, trazendo sempre um olhar e uma ideia que emerge da situação e, em suas adaptações, se tornam novas e mais interessantes, a medida em que se renovam. Não deixa espaço para a monotonia nem para o mesmismo, sendo sempre tudo novo de novo.

A sensibilidade recebe reforços e se amplia, trazendo outras formas de sentir e aplicar esta sensação, sempre evoluindo para um processo de descoberta, garantindo  prazeres inusitados e adaptativos diante de tudo é realizado na perspectiva da descoberta; é assim, também, com a Fé, que cresce a medida que a vivência concretiza as intenções e se deixa de apenas vibrar, passando a executar ações calcadas naquilo que se crê. Sim, claro, o crescimento interno se avoluma e a vontade de avançar amplia.

Porém, todas estas percepções custam. E custam caro. Bem sei o preço que pago por cada uma de minhas estranhezas e de minhas impertinências, entretanto são partes inerentes de meu trajeto, da minha Vida. Foram escolhidas por mim e apenas a mim cabe abandoná-las ou persegui-las, do meu jeito, no meu tempo e em meu lugar, posturas que assumo com imensa tranquilidade, do alto da minha vivencia e idade, sem perde o compasso da dança da Vida; aliás, dançar a Vida é assumir o ritmo imposto pela nossa consciência e escolher como par apenas quem realmente nos acolhe. Como é doce dançar a Vida.

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SERÁ UM SONHO OU PESADELO?

Isso é complicado? Isso é difícil? Isso é estranho? Isso não tem enquadramento? Não…isso é desafiador; é um constante exercício de fortalecer o caráter e enfrentar as quimeras que tentam povoar os cantos de nosso cérebro, em forma de tristeza, de depressão ou de medo. Complicado é ser igual a todos. Complicado é saber falar só de um assunto e ter apenas uma opinião mal elaborada sobre um assunto. Complicado é falar uma só língua, é ter lido um só livro, é conhecer uma só música e um só ritmo ou não ter sustentação para argumentar sobre um assunto ou desejo.

Paga-se o preço pela diferença, mas, diante de tudo, diverte-se frente ao inusitado: uma emoção a cada esquina, uma Vida a cada dia, uma nova esperança a cada batida do coração. Uma aventura que vale a pena viver. E, nesta profusão de diferenças, as emoções borbulham, as ações se desencontram e os pensamentos se confundem, mas só há um caminho: o próximo. Caminha comigo?(Foto: Vijay Sadasivuni/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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