Esta semana a coisa foi tensa. Muitas entrevistas, muitos programas de rádio, podcasts e buscas por notícias relativas àquilo que estudo e produzimos em meu laboratório. A diferença desta semana para outros momentos foi que, desta vez, os convites eram certeiros e os objetivos bem aparentes, o que me deu certa segurança para falar, em especial sobre o que estudo.
Uma coisa é você participar de uma mesa redonda onde cada um fala de seu ponto de vista, outra coisa é ser convidado a apresentar suas ideias e suas propostas, porque aquilo é seu ambiente e, dentro deste contexto, você tem produção nacional e internacional já apresentada e sedimentada. Assim é com a mídia fugaz, a mídia rápida, a internet que tanto estudamos no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp.
Senti-me com segurança e muito à vontade para responder afirmativamente ao convite de falar sobre os exergames e os jogos eletrônicos. E este tema foi trabalhado em duas palestras que ministrei, em Salamanca, na Espanha, e no Rio de Janeiro, em dezembro passado. Mas, por que me convidaram a falar sobre isso, agora, janeiro de 2023, com tanta confusão no cenário nacional? Justamente porque este tema foi polêmico num depoimento de ministra do Esporte, ex-atleta Ana Moser.
Lógico que, em breve, será dada outra versão ao pronunciamento dela, mas o fato é que, queiramos ou não, os jogos eletrônicos são esporte, sim. A demanda de um gasto energético muito forte e de um controle emocional bastante presente, tal prática exige um excelente condicionamento físico, uma habilidade motora muito apurada e uma planejamento técnico-tático de muita precisão, onde ações coordenadas são exigidas para o desenvolvimento da modalidade.
Com muitas regras e acessórios da mais alta tecnologia, temos praticantes de todas as idades e competições de várias naturezas. Atualmente, os jogos eletrônicos mobilizam um mercado de muitos milhões de reais e arenas cheias, com ingressos esgotados antes mesmo do inicio das temporadas: é uma outra nova forma de se divertir, relaxar e competir, assumindo todas as feições do esporte, previstas por Chateau, o grande estudioso dos esportes. Portanto, é esporte sim, senhora ministra, inclusive aspirando a ser olímpico, em muito breve.
Jean-Yves Tayac, estudioso dos esportes modernos, da Université de Sorbonne, credita todos os componentes e ferramentas que fazem dos “esports” uma vigorosa forma de exercitar-se, divertir-se e competir. Estamos diante de um dos avanços culturais de nossa sociedade contemporânea que se apodera dos avanços tecnológicos para dar à sociedade uma nova e fantástica oportunidade de desenvolver suas potencialidades humanas e sua moral, diante e por meio de um esporte sem contato corporal.
Outra situação que me vem sendo cobrada é sobre a farra do boi que aconteceu em Brasília, no inicio do ano. Pessoalmente não tenho interesse em falar da politica partidária do país, porque não sou (nem estou) tão confiante, assim, justamente por não ser desmemorizado nem desconhecer a história recente do país: tenho pés no chão. Prefiro ser cauteloso, observar e buscar entender tantas inconstâncias coletivas, mas…
Enfim, perguntam-me sobre minhas análises diante dos fatos. Arrisco a dizer que sou muito de observar+analisar e isto me facilita a entender alguns traços de caráter ali presentes. Explico assim, porque as atitudes dizem mais do que as palavras, que são facilmente ditas e aplaudidas enquanto as ações ficam firmemente visíveis e acentuadas.
Quebradeiras e ultrajes são marcas de desenvolvimento humano pífio e como tal não merece destaque além da punição para que se defina quem está na liderança e quem merece respeito. Sou avesso a punições, porém o vandalismo arquitetado precisa ser exemplarmente pontuado, para que não se transforme em um ritual de manda-desmanda. A questão não é a luta partidária, trata-se do mapeamento do caráter de uma parcela da população de um país, infelizmente.
Diante dos atos assistidos, pergunto de onde se tirou que vandalismo é protesto? Destruição e devastação não é protesto e merecem ser investigados. É necessário que se aprenda a respeitar o patrimônio público e a história do povo. Destruir obras de arte é sinal de pobreza cultural e destruir símbolo da República é desrespeitar sinais que a História ensinou a preservar. Então, a ignorância foi a tônica e bem financiada. Que se investigue e se dê ciência ao público de toda a barbaridade que se cometeu.
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Ah, sim: e que saibamos em que deu tudo isso, porque estamos tão cansados de impunidades que assistir aos fatos, assustar-se diante deles e não ver nada seguir o caminho da punição é um balde de água fria sobre os que respeitam as propriedades privadas e públicas e um show de regalias aos vândalos. Esperemos que não tenhamos que implorar pelos resultados disto tudo e que a Justiça seja mais rápida para impossibilitar novos ataques de ilegitimidade.
Por muitas vezes sinto vergonha de ser brasileiro e apoio a evasão de cérebros para países onde somos bem recebidos e valorizados. Entretanto acredito que devamos dar crédito à Justiça e esperar pela solução de tamanho imbróglio que nos envergonhou mundialmente. Pobre país cujo próprio povo o emporcalha.(Foto: Harsch Schivan/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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