CADA CABEÇA UMA SENTENÇA ou cada escolha uma sentença????

Estou sempre pensando comigo, no meu silêncio, no que me faz sentido. Analiso em quanto e como é complicado fazer escolhas; como é difícil saber se escolhemos o ideal e adequado para o momento. Como se torna conflitante ter que optar entre o este e o aquele; avaliar todos os elementos que cercam a situação e focar na melhor proposta parece ser uma tarefa gigantesca. E depois, quando tudo se define, toma um rumo de tranquilidade e total nonsense; como se não tivesse tirado o sono nem entorpecido o estado de alma, que me inquietou tanto, momentos antes. Afinal: cada cabeça uma sentença ou cada escolha uma sentença? O que será mais adequado?

Meu contexto me mostra, por longo tempo que, numa sala de aula temos uma diversidade humana que imprime um clima de convivência nem sempre tão pacífica como dizem os manuais de pedagogia. Sim, os manuais são escritos para professores que darão aulas para pedras ou paredes. E as salas de aula que visito e interajo têm alunos vivos, que são extremamente dinâmicos, têm emoções e sentimentos, têm inquietudes e querem mais. Os manuais pedagógicos não conseguem prever isto: acreditam que os alunos estejam sentados nas carteiras, sonhando com moinhos de ventos e liberdades irreais, apenas acumulando conhecimentos.

Meu papel, numa sala qualquer, é atender a todos, indistintamente, em especial aos menos privilegiados, aos mais perdidos, aos mais falantes e inquietos. Estes precisam de um olhar diferenciado e acolhedor, um gesto de compreensão para um mundo em desordem, uma palavra, um toque físico que resgate uma indivíduo que tem uma história de vida diferente das histórias dos demais, sem desconsiderar que ali pode existir um gênio revolto que tente se expandir ou se ocultar da mesmice, não cabendo no lugar comum!!!

Isto faz com que atraia para perto de mim aqueles que se sentem excluídos dos demais olhares e dos demais zelos, ainda que todos os colegas digam que não fazem distinção entre seus alunos. Ainda que eu ouça que todos são iguais (e ai começa o exercício da não democracia, pois não somos iguais); ainda que tudo indique que os tratamentos são humanos e pontuais, em especial para os especiais. Ainda que a realidade se mostre menos pesada e menos desastrosa do que realmente é, trata-se da minha opção. E optar por estes, diante de uma comunidade fechada a diálogos, é abrir fogo contra um exército bem municiado, em que gestores e coordenadores etiquetaram os bons e triunfais e os maus e derrotados. Coisas que não acredito quando vejo esse diagnóstico.

Percebo que ao valorizar o não pretendido, encontro, em troca, os avanços e as vitórias que julgavam inexistentes mas que eram questão de tempo: muitos trabalhos apresentados em grandes congressos, muitos artigos bem elaborados e associação aos laboratórios acadêmicos respondiam-me que a escolha feita por aquele filão educacional havia sido a melhor e que muitos seriam valorizados pela pequena atenção a mais que receberam, pela acolhida que lhes foi dada e pela transformação a que se propuseram realizar: metamorfose acontece com Homens, também.

Quando me perguntam porque prefiro trabalhar com alunos rebeldes, não sei ao certo a resposta, mas posso até entender que a identificação com eles é grande: também fui e sou rebelde em meu ato criador. Tenho fascínio pela desordem e pelo caos; a mim não me basta o saber, mas o saber fazer, sem acreditar nos limites e não permitir a intolerância. Percebo os olhares de estranheza quando me analisam e isto apenas me leva a ter leituras múltiplas e fala polifônica diante daquele que não olha como eu nem fala como eu; ser diferente é um dom que deve ser privilegiado, e eu curto este desafio.

Esta postura sempre me leva a sair da mesmice, no ato didático, nas amizades e na Vida. O diferente, o novo, o inusitado é um desafio a ser enfrentado e necessita apenas de ser notado e valorizado. Tal escolha faz com que eu seja obrigado a ser um diferente em cada dia; um curioso, um pesquisador, um desafiador, um inquieto, um insano, um revolto, um ser buscante e isso me dá estímulos para voltar a sala de aula, amanhã e depois e depois e depois. Além de me fortalecer como homem e me permitir assumir minhas próprias metamorfoses e buscas incessantes por pares e afastar-me dos comuns.

Que venham os baderneiros, os sem estímulos, os abandonados, os ansiosos e amedrontados, os inquietos e desafiadores. Porém, que venham com vontade porque serão minhas escolhas e, com estes, dançarei até o final de minha vida. Sim, porque juntos construiremos alianças de modo a demonstrar o valor e a fortaleza de nossas escolhas, de nossas inquietudes, de nossas dúvidas e ânsias, de nossos medos e verdades secretas; tenho colhido, junto aos meus alunos diferentes, muitas vitórias e sucessos, porque eles são fantásticos e promissores. Eles conseguem flanar por espaços não saturados e não comuns. São autênticos e inovadores. São transformadores.

Existem aspectos da Vida em que qualquer vacilos e torna suficiente para ser deixado de lado e perder espaços, tropeçar e não se levantar jamais; cada detalhe escolhido deve ser muito bem alicerçado e calibrado com as necessidades da época. Devem representar uma escolha de um instante e a Vida é feita de instantes; portanto, a escolha precisa atender aos ciclos daquele exato momento. Para tanto, tive grandes mestres e amigos que me auxiliaram nas escolhas inusitadas que assumi, em meu percurso, seja ele profissional, religioso, familiar.

Os projetos a serem desenvolvidos e os temas a que me submeteria e me propus a falar às agremiações a que me filiaria, aquelas a quem me desfiliaria, os amigos que deixei para trás, os com quem me agregarei, os amores passados, esquecidos e os amores que ainda viverei. Não posso dizer que passei reto e livre, vacilei muito e caí muito, mas consegui me equilibrar e abrir campo diferenciado no propósito de Vida; busco construir um espaço de desenvolvimento humano que flua adequadamente para dar sustentação à uma Vida equilibrada, gostosa de ser lembrada e simples, em seu formato.

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Mas, neste exato ponto, passa pela minha cabecinha ruidosa uma pergunta: você que é tão preocupado com as escolhas alheias, como tem se resolvido com suas escolhas? Tem dado mais atenção a si do que com as escolhas dos amigos ou tem invejado o avanço dos outros? Você é capaz de avaliar sua trajetória e perceber as merdas que cometeu e o quanto foi danoso na Vida dos outros? Conseguiu se reerguer e seguir rumo aos seus novos projetos? Analise e decida, sempre é tempo de uma escolha ideal.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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