ESPIRITUAL…IDADE. E a “invasão do comum”

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Dediquei-me nos últimos meses a estudar os macetes dos “youtubers”, como se laça público para os vídeos nos canais tanto dos novatos como dos veteranos, ou, agora “influenciadores digitais”. E não se trata de nada envolvendo “ideia nova”, nenhum mecanismo atual. A isca é uma velha conhecida. Rótulos que causam impacto ou curiosidade. Manchete, título sensacionalista. Como nos canais populares dos anos 80, tipo “bebê-diabo nasceu no ABC…” De moderno, só a criatividade em cima dos fatos trágicos ou banais que abundam Brasil afora. A isca é a mesma. Por isso, no texto de hoje fiz uma dobradinha; o assunto central, espiritualidade, desdobrei com a idade, já que falarei sobre a questão da idade para se iniciar um processo de entendimento espiritual. E o complemento, “invasão do comum”, é um paralelo dentro do texto, já que estamos presenciando no país uma polarização violenta que penetra pelos campos religiosos também; por sinal, a palavra “comum” por si só já leva muitos internautas à leitura, é uma isca poderosa. Vamos então analisar esta “espiritual idade” e o que seria esta tal “invasão dos comuns”.

Antes da chegada do mundo virtual, aprendíamos tudo pelo formato trabalhoso. Caneta, papel, impressos. Crianças aprendiam a trabalhar não somente o raciocínio, mas até a caligrafia. Com o tempo, vinha o hábito de ler jornais ou ouvir notícias pela TV e interpretá-las. E isto tinha horário, não era o dia todo. As informações por estes canais eram ou no início da manhã ou final da tarde, à noite. Restante do dia era estudo, trabalho ou um bate-papo informal nos intervalos, quando também podiam rolar as célebres fofocas, coisa comum aos seres humanos. Vida espiritual, da religião que fosse, também tinha os horários. E missas ou cultos, eram mais meditativos.

O mundo mudou com a invasão digital. A internet no aparelho que todo mundo carrega estimula três coisas em todos nós: curiosidade, ansiedade e expectativa. Na época dos impressos, buscávamos aquilo que nos interessava. Agora, tudo bate à nossa porta. Por mais que ignoremos, acabamos tomando ciência de centenas e centenas de casos irrelevantes, que mesmo ignorando, ocupam um lugar em alguma gaveta do cérebro. Antes, o irrelevante, desnecessário, com o tempo abandonávamos e amadurecíamos para a realidade. Agora, o irrelevante e desnecessário pode receber os holofotes. E dar o “minuto de fama” a milhares de imaturos, pessoas que expõem o que antes seria motivo de vergonha. Não me refiro a expor o que naturalmente a pessoa é, e sim ao estado bruto, sem lapidação, utilizando as ferramentas que laçam as pessoas pelos seus pontos frágeis, inseridos na curiosidade, ansiedade e expectativa. Um exemplo explícito: os “reality shows”. Já na esfera religiosa, atrair o público jovem com parafernália eletrônica, som alto.

Pergunto: com qual idade o ser humano hoje começa a amadurecer? Afinal, vemos crianças que mal entraram na escola, já manuseando celulares. Antes de aprender a ler, já estão ouvindo coisas questionáveis e assistindo “dancinhas”. Os pais, que liam livros, ajudavam os filhos nas leituras de livros e apostilas de escola, ficaram presos ao bombardeio de notícias sensacionalistas que chegam pelos canais virtuais no celular, inclusive pelo “zap”. Com os adultos presos à curiosidade, ansiedade e expectativa em assuntos irrelevantes, banais, como ficam as crianças? O amadurecimento delas?

Cair nas rédeas dos três sentimentos descritos acima; curiosidade, ansiedade e expectativa, é uma consequência do desequilíbrio espiritual, algo já trazido de bases frágeis na vida religiosa. E aqui entra a outra pergunta; com qual idade recebemos as bases espirituais? Onde, como isto foi feito? Este ponto é delicado, porque entra num campo que mexe com princípios religiosos, valores familiares. Se hoje política se discute amplamente, em valores religiosos encontramos certa resistência. Sabe-se que os pais encaminham os filhos em suas doutrinas, e depois de crescidos decidem se ali continuam ou optam por outros caminhos. Independentemente de tudo isto, algo já dominou há muito tempo todas as vertentes do nicho religião, espiritualidade. Tanto é fato que se constata facilmente pelos canais virtuais aqueles três sentimentos de amarração em pessoas de todas as denominações. Na polarização política vemos o uso constante das chamadas “fake news” de ambos os lados, assim como o medo, a ansiedade, a expectativa pelo próximo escândalo, denúncia e também a adrenalina, o prazer de ver uma derrota pontual do denominado inimigo. Ambos os lados afirmam que se trata de uma luta do bem contra o mal. Mas onde está, de fato, o mal? De um lado apontam o fantasma da repressão nascida a partir de 1964. Do outro, uma “invasão dos comuns, comunas…” por trás da “agenda 2030”.

Vamos recordar aquela velha canção de ninar que dizia assim: “dorme neném, que a cuca vem pegar…” A tal cuca povoou a mente de muitas crianças no passado. Mas as crianças cresceram, amadureceram e viram que se tratava de um fantoche. Porém, conforme o tempo passa, vamos amadurecendo mais ainda. E descobrimos que por trás dos fantoches há algo real. Que não é exatamente aquilo transmitido de forma direta. São mensagens subliminares. A “cuca” não existe mas existe algo ligado a ela. Existem os criadores dos fantoches. O propósito daquele fantoche. Assim é em todos os jogos de poder. Sabemos o que é divulgado pela tal agenda. Mas não sabemos o que ocorre nos bastidores, o que ela guarda. Assim como as ideologias existem, mas não sabemos de fato onde seus tentáculos agiram e quantos estão agindo após o fim da guerra fria. No território livre da internet, muito é falado, misturam-se verdades e fantasias propositais. Assim como nos segmentos cristãos, tudo continua se dividindo, cada vez mais numa linha de “negócios espirituais”, mentores, gurus, teologia da prosperidade, etc. etc. E nesse labirinto, vamos ao finalmente com o questionamento… com qual idade saberemos ao menos uma parte da realidade, do que é o mundo e que “sistema” é esse que nos prende cada vez mais cedo a uma gigantesca rede, uma conexão onipresente, onde a privacidade vem se extinguindo pela força do “diga o que está pensando, diga o que está fazendo, filme sua vida e ganhe seguidores…” E hoje não precisa ter currículo. Simplesmente mostre o que é, basta saber fazer a chamada, criar os macetes, como citado no início deste texto.

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GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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