Eu me importo com as pessoas que avisto, nas noites ou nas manhãs que há pouco despertaram, dormindo pelas calçadas ou marquises das ruas ou praças por aonde passo. Não me cabe questionar se ali estão pelo uso de álcool ou drogas ilícitas. Desconheço suas histórias, seus vazios… Não há quem possa considerar agradável dormir ao léu, sob a observação dos transeuntes, sem privacidade, sem um local para sua higiene pessoal, sem laços de ternura… Eu me importo com aqueles sobre os quais dizem já terem oferecido ajuda, mas não aceitam. Amparo e tratamento, para se permitir, necessitam de lucidez e de um atitude interior nem sempre tão fácil.
Eu me importo com os jovens, adultos e idosos que se suicidam ou se encontram na beiradas do abismo que levam à morte. Traduzo como falta de perspectiva, de esperança, de aceitação ou de problemas emocionais mais intensos não tratados.São seres humanos de alguma forma pisoteados ou descartados… Filhos e filhas de algum tipo doloroso de descaso, que acabam por se considerar um nada. Eu me importo com os que se autodestruíram ou tentaram se autoexterminar.
Chamou-me muito a atenção uma prece no Facebook da Basílica Volto Santo di Manoppello, em 14 de maio: “Senhor, dê-me um olhar atento para descobrir em que eu posso beneficiar o próximo, especialmente o mais próximo. Faça-me persuadir que mesmo um olhar bom, um sorriso, um gesto carinhoso, o tom da voz, as palavras que eu digo: tudo pode ser ‘farinha de amor’ para aquele pão que alimenta o mundo”.
Eu me importo com aqueles e aquelas que foram abusados sexualmente na infância ou na adolescência e se consideram transgressores por não dizerem “não” ao abusador, como se fosse possível a uma criança ou adolescente reagir à teia de aranhas-armadeiras que os segura para devorar. À medida que se aproximam de sua vítima, a teia automaticamente se curva para dentro, e os “fios de seda” a engolem. E a vítima, inúmeras vezes, enredada em seu labirinto interior, se arrepende do que não foi responsabilidade dela e deseja voltar ao passado com o propósito de fazer novas escolhas, como se na época tivesse maturidade para isso.
Na Missa do domingo passado, solenidade da Ascensão do Senhor, a respeito da fala de Jesus, relatada no Atos dos Apóstolos (cf. 1, 4), “Não vos afasteis de Jerusalém”, o Padre Márcio Felipe, pároco da Catedral NSD, fez-nos o mesmo chamado. “Jerusalém é o lugar onde o Senhor morre e ressuscita – e contextualizou -: Não vos afasteis de seu sofrimento, de sua dor, porque o Senhor está conosco e é Ele a nossa vitória”. E acrescentou também as palavras de Jesus (cf. Mt 29,19s): “…Convosco estarei, todos os dias, / até o fim dos tempos”.
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Que consigamos enfrentar em pé as nossas dores, pois as fugas são feitas de trevas, mas também estar atentos – “farinha de amor para o pão que alimenta o mundo” -, sem achismos, ao sofrimento do outro, oferecendo-lhes Jerusalém.
Bem a música “Sobe a Jerusalém” de Dom Carlos Alberto Navarro e Valdeci Farias:
“Sobe a Jerusalém, Virgem oferente sem igual,
Vai apresenta, ao Pai, teu Menino: luz que chegou no Natal.
E, junto à sua cruz, quando Deus morrer fica de pé
Sim, Ele te salvou, mas O ofereceste por nós com toda fé.
Nós vamos renovar este sacrifício de Jesus,
Morte e ressurreição, vida que brotou de sua oferta na cruz.
Mãe, vem nos ensinar a fazer da vida uma oblação,
Culto agradável a Deus é fazer a oferta do próprio coração.”(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.
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