O cientista jundiaiense Pedro Gerum, de 31 anos, fez parte de um projeto da Nasa, nos Estados Unidos, que descobriu 301 novos exoplanetas. O estudo pode ajudar na identificação de outras formas de vida. Gerum, que viveu na vila Arens e no Engordadouro, foi o único brasileiro dos 13 especialistas escolhidos pela agência espacial. Hoje ele mora em Cleveland e confessa que nos tempos em que vivia na ‘terrinha’ nunca imaginou viver esta experiência. A entrevista com o cientista:
Em qual bairro morou em Jundiaí? Em quais escolas estudou aqui? Chegou a trabalhar aqui?
Passei o início da minha infância morando na Vila Arens, mas quando eu tinha uns nove, dezanos, meus pais, minha irmã e eu nos mudamos para uma casa no Engordadouro. Fiz meu ensino fundamental na Escola La Fontaine e meu ensino médio no colégio Leonardo da Vinci. Cursei Engenharia de Produção em São Carlos, voltando para trabalhar em Jundiaí quando me formei. Ainda mantenho contato com muito amigos jundiaienses e sempre ligo para eles pelo menos uma vez por mês. Minha raízes em jundiaí continuam e não são sinais de desaparecer. Adoro minha cidade, onde nasci e cresci.
Quando deixou a ‘terrinha’? Conte a sua trajetória a partir daí…
Trabalhei em Jundiaí por aproximadamente um ano e meio depois de formado. A empresa então me transferiu para trabalhar no estado da Pensilvânia, aqui nos EUA. Quando cheguei aqui nos EUA, decidi que gostaria de continuar meus estudos e comecei a cursar meu doutorado em 2015, na Rutgers University. Durante todo o doutorado, morei no estado de Nova Jérsei, exceto pelo tempo que estagiei na NASA. Completei meu doutorado em 2020 e desde então tenho trabalhado como professor universitário na Cleveland State University, em Cleveland, Ohio.
Ainda tem família na cidade? Se sim, visita os parentes com frequência?
Minha família continua toda em Jundiaí. Durante meu doutorado, visitava a cidade durante as férias de fim de ano todos os anos, mas há dois anos que não vou à Jundiaí por causa da pandemia. Meu plano atual é poder voltar à ‘terrinha’ em maio 2022.
Cada vez que vem, qual a impressão que tem da cidade?
Eu acho muito interessante ver as mudanças da cidade toda vez que retorno. Sempre há novidades! Algumas das mudanças que mais me marcaram foram o Sesc, a abertura de passeios de caiaque no Parque da Cidade, os vários novos restaurantes servindo comida de ótima qualidade (sou um grande fã do Verace e do Bacalhau do Barão e aqui não tem comida igual).
Todos os anos, a Prefeitura realiza o evento Science Days, ligado à Nasa. O que acha da iniciativa? Pelo tamanho e quantidade de habitantes, Jundiaí deveria investir mais em projetos assim?
Essas iniciativas são muito legais para introduzir conceitos que os estudantes muitas vezes não vêem na escola. Lembro muito bem quando esta na terceira ou quarta série que a minha escola participou da Olimpíada Brasileira de Astronomia. As memórias que tenho das preparações e das exposições que tive na época ainda são muito vívidas!
Desde quando e o que faz em Cleveland?
Mudei para cá no meio da pandemia, em agosto de 2020. Fui aprovado num processo seletivo para uma vaga de professor aqui, na Escola de Administração da universidade. Meu foco no trabalho atual é utilizar a ciência de dados para melhorar problemas de transportes. Nosso projeto mais recente busca otimizar a localização de estações de carregamento para carros elétricos, por exemplo. Dou matérias relacionadas na Escola de Administração aqui também.
Como surgiu o convite para este projeto da Nasa?
Em 2018, vi que a Agência Espacial Brasileira (AEB) fez uma parceria com a NASA para enviar estagiários brasileiros aos centros da NASA que tende a ser muito restrita e normalmente só contrata cidadãos americanos, mas por vezes eles abrem essas parcerias. Eu fui selecionado porque trabalhava com aprendizagem de máquinas (machine learning) e a Divisão de Sistemas Inteligentes da NASA na Califórnia precisava de alguém com meu perfil. Acho que foi um misto de estar preparado para as oportunidades e estar no lugar certo na hora certa.
Como foi ser o único brasileiro a participar dele?
O time de cientistas trabalhando nesse projeto era nada menos do que fantástico. Foi uma colaboração incrível com estagiários vindos de vários cantos (Portugal, Israel, Holanda). Os pesquisadores liderando o projeto são muito inteligentes e nos ajudavam muito quando encontrávamos obstáculos ou precisávamos aprender algum detalhe de astronomia que não sabíamos. Trabalhamos duro, mas sempre com camaradagem e num clima muito agradável. Percebia que todos estavam muito felizes de estar ali.
O que são exoplanetas?
Os exoplanetas orbitam as estrelas fora do sistema solar. Basicamente qualquer planeta que não seja os oito mais conhecidos (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno).
Na prática, o que significa a descoberta?
A descoberta dos exoplanetas é importante porque descobrir planetas é uma tarefa que, na prática, demora muito tempo. O satélite Kepler observou mais de cem mil estrelas desde 2009. Até hoje, pouquíssimas dessas estrelas foram analisadas e somente 4 ou 5 mil planetas foram confirmados. De certa forma, os astrônomos estavam quase desistindo de analisar as estrelas faltantes por falta de tempo e recursos. Nosso algoritmo vem como uma alternativa rápida e eficiente para analisar as estrelas e validar se elas têm planetas orbitando. Em poucos dias, conseguimos validar mais de 300 exoplanetas, o que demoraria meses, se não anos anteriormente. Até hoje nenhum outro programa de computador conseguiu fazer essa validação de forma automática, precisa e confiável como o nosso.
Alguma vez, ainda em Jundiaí, pensou que viveria uma experiência assim?
Não, de jeito nenhum! Mesmo durante meu doutorado minha pesquisa não era relacioanda com atividades espaciais. Eu acho que estar aberto a oportunidades que talvez de imediato não pareçam viáveis é fundamental para crescer. Eu sempre falo para meus amigos que o ‘não’ a gente já tem. Outra coisa é confiar em si próprio e buscar sair da zona de comforto. Meus primeiros meses trabalhando na NASA foram verdadeiramente estressantes, pois minhas habilidades de programação precisaram ser melhoradas para que estivesse no nível esperado do time. Mas no fim deu tudo certo e eu aprendi um monte!
Você acredita que os humanos são a única espécie inteligente do universo ou isto seria um grande desperdício de espaço?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares! Uma das agências financiando o projeto é o Instituto SETI (Search for ExtraTerrestrial Intelligence). Os astrônomos estão usando os resultados do projeto sobre exoplanetas para justamente tentar responder a essa pergunta. Pessoalmente, eu acho que há vida extraterrestre sim, mas não ponha a mão no fogo por mim!
O Brasil vive uma onda de negacionismo em relação à ciência. Como você analisa isto?
A ciência é importante para o desenvolvimento humano. Muitos dos grandes problemas que afligiram a sociedade só foram solucionados por causa da ciência – desde como prover alimentos para uma população que cresce exponencialmente, até como fazer para que um carro dirija sozinho. Acho que a ciência é uma forma importante para que países se alavanquem e melhorem sua situação econômica e social.(Fotos: Arquivo Pessoal)
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