A criação de fábulas – historietas de fundo moral – cujas personagens são, geralmente, animais, teve origem nos séculos VII e VI a.C. O mais significativo autor de fábulas foi Esopo, nascido no século VII a.C. na Ásia Menor, foi capturado em seu país e levado como escravo para a Grécia.
A história de vida de Esopo é tão fantástica quanto suas fábulas. Escravo liberto, possuía muita inteligência e perspicácia. Contam que era corcunda, tinha uma perna menor do que a outra – por esse motivo claudicava(mancava)– e tinha feições muito feias. No entanto, a inteligência o destacou grandemente.
A compilação original das Fábulas de Esopo é atribuída ao monge Planúdio, que viveu na Grécia lá pelos meados do século XIV. Grande admirador das criações do ex-escravo Esopo, viu valores morais nelas inseridos e não teve dúvida em salvaguardá-las. Soube captar o simbolismo com o ser humano, seus defeitos e erros. A Esopo são atribuídas as autorias de: A Raposa e as Uvas; A Tartaruga e a Lebre; O Leão e o Rato; A Rã e o Boi; A Raposa e o Corvo e muitas outras conhecidas por nós. Nesse compêndio, feito pelo monge, é citada a famosa história das “Línguas de Esopo”.
Conta essa história que Xanto, seu senhor, dera-lhe ordem para comprar o que de melhor houvesse no mercado. Esopo comprou línguas – de bois ou cabras, naturalmente. Ao ser questionado sobre a compra, dissera que a língua é o vínculo da vida, a chave das ciências, o órgão da verdade e da oração.
Para embaraçá-lo, seu senhor mandou que voltasse ao mercado e trouxesse o que de pior encontrasse. Ele tornou a comprar línguas! Novamente questionado, disse que a pior coisa que há no mundo é a língua, origem de todas as questões, guerras e divisões; órgão da calúnia, da blasfêmia e da mentira. Depois disso, nada mais lhe foi questionado porque todos concordaram.
Apesar de feio, as crianças gostavam muito dele porque inventava histórias para elas, vinham-lhe atrás, pedindo que contasse histórias. Narrava fatos que, supostamente, aconteciam com animais, dando-lhes vida e personificação( prosopopeia).
Dizem que, após liberto, sendo possuidor de grande inteligência, fez a tentativa de dar aulas mas os colegas zombavam dele, chamando-o de tolo, que tinha cérebro de minhoca e gastava o tempo com bobagens. Hoje, 25 séculos depois, aquele fabulista corcunda, feio e chamado de tolo ainda povoa os pensamentos de muitas crianças e adultos que sempre citam suas histórias, estabelecendo analogias com os seres humanos.
Porém, a inteligência de Esopo não o livrou da maldade. Talvez por sua sinceridade, ao visitar Delfos, provocou a ira dos habitantes, dizendo que não trabalhavam e que viviam das oferendas dedicadas ao deus Apolo. Furiosos, esconderam uma taça sagrada em sua mala para o incriminarem. Condenado pelo roubo que não praticou, recebeu punição fatal: foi atirado de um rochedo. A ira e a inveja, que eram fictícias em suas fábulas, tornou-se realidade. Comum ao ser humano usar a inteligência para o mal.
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O poeta latino Fedro, no século XIV d.C. e La Fontaine já no século XVII, atualizaram as fábulas atribuídas a ele. A primeira referência às fábulas de Esopo foi feita por Heródoto, o pai da História.
Só para ilustrar, uma fábula bem conhecida de Esopo: “Uma raposa viu lindos cachos de uvas e desejou fartar-se com eles. Como estavam altos, ela pulou várias vezes tentando alcançá-los. Não conseguindo, falou para os outros animais que estavam por ali:
– Pelo jeito, essas uvas estão muito amargas, nem me interesso por elas, e foi andando. De repente, uma folha cai e ela corre para comê-la, pensando que fosse um cacho…”. Esopo era, ou não, um gênio e profundo conhecedor das vaidades humanas?(Ilustração: ‘A Tartaruga e a Lebre’ – Disney/1935)
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence à Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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