Tudo comprado para a ceia, novidades para o almoço seguinte (porque não vamos repetir os mesmos pratos), roupas novas, sapatos, tênis, chinelos novos, os presentes que insistimos em não mais comprá-los (mas é tradição!!!). O círculo de amigos ampliou de um ano para outro, mas somente os íntimos estarão presentes (todos, é claro) e a beberagem começa a partir das 20 horas, porque festa sem bebida não é festa: é o negócio da falsa magia.
A medida que se aproxima da data, as festas se tornam mais frequentes e mais empolgadas. Muitos votos são proclamados e muitas palavras são ditas, de forma a parecer que tudo será melhor e que somos todos os melhores, mas não se consegue mudar o interior, o íntimo. A própria família é uma mera representação, em que se sorri muito, expõem-se muito e o distanciamento interno é muito maior do que uma linha reta daqui de Jundiaí até a Austrália.
São as conveniências e os protocolos sociais que assumem a posição mais presentes da ocasião, pairando um clima de total paz e compreensão, de uma amizade firme e forte e de um humor inabalável, quando sabemos que esta edificação está fincada num banco de areia e, ao mínimo sinal de chuva, ruirá sem estrondo e sem demora. Triste consequência de um projeto de Vida de aparências.
Mas seguindo o baile vemos que poucos se preocupam com sua própria dor, uma vez que vivemos na época da “apologia da felicidade”, quando só se fala em ser feliz, em viver feliz, em ter felicidade, como se isso fosse um produto que se encontra nos melhores magazines, nas lojinhas dos “chinas”, nas grandes galerias e nas boutiques caras. Isto é a falsa magia. Não, felicidade não se compra. Felicidade não é produto. Felicidade é estado de alma.
Felicidade não é estar com a mesa cheia de múltiplas e variadas possibilidades de pratos, nem estar com o caco cheio de uísque, gin, vodca, vinho e cerveja. Tão pouco é ter aumentado o número de presentes por pessoas, e menos ainda estar dando presentes mais caros e requintados que os dos anos anteriores. Não é o apartamento ou chácara ou casa que alugamos na praia ou no campo. Não, decididamente não é!
No dicionário, felicidade é a qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar. E sendo uma qualidade ou estado, não é possível comprar, nem emprestar tão pouco doar. A felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior.
É aí que me pego pensando, refletindo: é possível uma pessoa ser feliz sendo traidora? Sendo falsa? Sendo traiçoeira? Sendo maléfica? Sendo mentirosa? Sendo arrogante, esnobe e pretensiosa? Posso me sentir feliz por estar bebendo mais do que devia e gastando mais do que precisava? Que felicidade é esta que expresso com estranhos e não consigo expressar na intimidade da minha vida familiar? Que quadro psicopatológico…que visão do inferno!!!
Já sei: você está pensando que vou continuar a infernizar porque eu não gosto destas festas? Enganou-se. Não vou e nem quero, uma vez que eu acredito que o Homem seja senhor de sua história, inclusive as falsas. Desta maneira, cabe a cada um dar o valor àquilo que bem entender e a viver sua Vida de acordo com suas projeções e valores. Se vai se enganar, se vai optar pela falsa magia, aí já não me compete balizar nem resolver, visto o fato de que cada um escolhe seu atalho.
E, sendo assim, claro que não posso pegar o corretor de palavras e apagar o que não me interessa ou que me incomoda. Tão pouco posso pegar uma tesoura e cortar este período das folhinhas físicas que existem. Cabe a mim estar alerta e manifestar minha ideia para que não me confundam com os personagens natalinos, porque não sou.
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MAS SEMPRE SERÁ UMA DESPEDIDA?
Sempre penso que cada um deve regar as flores de seu jardim, sejam estas flores aquelas de sua escolha e este jardim o de seu desejo. Porque eu faço isso comigo. E, seguramente, sejamos felizes acreditando em coisas diferentes, uma vez que este dissenso é muito bom para que reflitamos em propostas diferentes das nossas.
No mais, quando você estiver lendo esta crônica já comemorei mais um aniversário. Foi no último dia 21. Ao escrever este texto, esperava celebrar a idade nova com felicidade. Sem a tal falsa magia. No Natal, com as comemorações que eu escolhi para mim, dentro das minhas esquisitices e ranhetices, porém que me fazem sentido. É isto que interessa e basta. Então, que todos tenhamos um feliz Natal, do jeito que escolhermos e acreditarmos, dando os valores que julgamos necessários e fazendo as pessoas que nos rodeiam um pouco mais acolhidas e afetuosas. Acho que já é muita coisa para um ano que se passa tão atribulado. Abraços e beijos aos meus. E aos seus, também. (Foto: Pikist)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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