Mas sempre será uma DESPEDIDA?

despedida

Estava pensando nas observações que alguns leitores fizeram a minha última crônica e sou levado a pensar em questões que deixei de pontuar, ou que fui rasteiro em minha escrita, o que me leva a retomar a reflexão. Talvez o início da fala seja: mas sempre será uma despedida? Sempre estaremos fechando ciclos? Sempre estaremos saindo de um ponto a outro?

Pois é, são dúvidas e devem ser elucidadas, para uma compreensão maior do cenário em que se passam tais despedidas. Sendo assim, cada contexto exige sua percepção e sua localização: quem são os agentes da situação? Quais papéis sociais exercem neste cenário? Como são percebidos e como interagem com os demais? Tais propostas são fundamentais para pensarmos nas despedidas, sejam elas quais forem.

Talvez nunca saibamos o que fazer ou o que dizer em momentos tão especiais (pois são momentos únicos, portanto, especiais) e sempre nos sobra a dúvida: será que falei tudo? Será que usei as melhores palavras? Será que machuquei? Em verdade, sempre buscamos sair de algo de maneira suave e elegante, sem provocar dores, mesmo sabendo que sofreremos muito. Esta ideia é suficientemente difícil para atingirmos todos os objetivos que temos em mente.

Acredito, mesmo que isto seja suficiente para temermos as despedidas: o medo de sofrermos ou darmos conta da perda após o rompimento; entretanto, de passo em passo, vai-se avançando até que estejamos de frente para o momento final e a despedida é inevitável. Mas ressalto que, antes de analisar a despedida, é preciso analisar o contexto onde ela se passa para que possamos compreender cada passo da questão.

Anteriormente eu mencionei a despedida que realizamos pela Morte de alguém querido; este evento dolorido tem algumas formas de ocorrer: aquela doença que se arrasta por anos ou meses a fio, causando sofrimento; a morte natural subida e a morte por acidente; a morte de pessoa hospitalizada e a morte de pessoa enferma mas em casa. São contextos diferentes (há outros, ainda) que alteram a forma da despedida e que produzem uma dor diferente para cada um dos envolvidos. Não tem a mais suave ou a mais tranquila: despedida é despedida e fim de papo.

Mas deve ficar claro que, quando estamos lidando com algo que se arrasta por longo tempo e não se soluciona, há mais envolvimento, mais pessoas e mais momentos difíceis para contornar. Então teremos um ciclo de adoecimento, onde todos os envolvidos, além do doente, igualmente se adoecem e sofrem pela mesma doença, de modo a termos um luto antecipado e sofrido, sem interrupção, até que o desfecho se consolide. O ambiente fica doente.

Nestes casos, a despedida é muito traumática e de difícil solução a curto prazo; a incompreensão e a dor aguda trazem marcas que se dissolvem com muita lentidão e fazem estragos pela imensidão e frieza com que atuam. Poucos são os que se livram com facilidade deste sofrimento, ainda que tenham um acompanhamento de profissionais da saúde mental, muito necessário para reorganizar a Vida que continua.

Gostaria de ressaltar que esta despedida é muito caótica pelo fato de significar as últimas horas juntos, os últimos olhares, as últimas palavras. Internamente estas questões têm sua representatividade e marcam para sempre, até mesmo quando já não trazem tantas dores: são despedidas até sempre. Não permitem vacilos e expectativas pois tudo será desconhecido: vamos nos rever? Vamos nos reencontrar? Quem sabe responder? Então resta sentir a dor da despedida.

E sempre precisamos dizer: os pets entram na lista dos entes mais queridos. A forma como estamos convivendo com nossos amiguinhos e, a retribuição de atenção e carinho que eles nos oferecem, rotineiramente, são atributos que marcam nossas Vidas e nos levam a sofrer com esta despedida, chegando a levar pessoas a doenças físicas e mentais, necessitando de um apoio profissional para que a depressão não se instale.

Despedida dolorida, também, é aquela movida pela traição. Quem se sente bem alojado diante de uma traição? Quem pode afirmar que foi traído e não se machucou? Pois é, o traidor é uma pessoa fria e articulada de tal calibre que mantém a cara lavada e desmente as questões mais óbvias de sua ardilosa ação; tal comportamento destrói a segurança e a autoestima da pessoa que foi traída e, então, a despedida é traumática e violenta.

Nestes casos, diferente da anterior análise, que não permite retorno, corre-se o risco de aceitar o traidor e a traição, por se “amar” ou “depender” do traidor; vale como exemplo o filme “Dormindo com o Inimigo”. A fraqueza e a dependência psicológicas são responsáveis pela demora da despedida final, visto que nestes casos temos um “efeito ioiô” de rupturas e voltas, sem que a decisão final aconteça e, enquanto isso, o sofrimento se estabelece.

Esta situação é de difícil compreensão porque ficamos enredados entre o medo de abandonar, a dependência já estabelecida entre ambos, o sentimento de impotência do traído e a esperteza do traidor. São tantos fatores que se misturam na situação que a despedida se torna longínqua e de difícil solução, arrastando-se enquanto fazem estragos afetivos.

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Amigos que mudam de cidade, parentes que moram longe, casais que residem em cidades diferentes em função de trabalho, filhos que estudam fora da cidade dos pais, namorados que saem para intercâmbios são despedidas, sim! Porém a internet e as redes sociais já facilitam nestes casos, ainda que temporariamente, mesmo porque ainda haverá o encontro, a volta. Mas doem. E, em alguns dias, doem de forma a incapacitar e impedir que se tenha um pensamento logico e adequado. Mas passam.

Somente gostaria de lembrar da despedida da infância e da juventude, que também marcam e não voltam atrás. Período de sonhos, de paixões e de esperanças que vivemos e criamos num estado de euforia, atingindo alguns e outros, nem tanto, ficam para nossa imaginação trabalhar. Assim vemos que o lado romântico da despedida é responsável por muito da nossa memória afetiva. Somos muito daquilo que as nossas despedidas fizeram de nós.(Foto: O Dia/Reprodução internet)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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