Larguem minha FANTASIA…

fantasia

Reluziu, é ouro ou lata. Formou a grande confusão. Qual areia na farofa. É o luxo e a pobreza. No meu mundo de ilusão. Xepa de lá pra cá, xepei. Sou na vida um mendigo. Da folia eu sou rei. Sai do luxo a nobreza. Euforia que consome. Se ficar o rato pega. Se cair o urubu come. Vibra meu povo. Embala o corpo. A loucura é geral. Larguem minha fantasia, que agonia! Deixem-me mostrar meu carnaval. Com esses versos do samba-enredo ‘Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia’, a Beija-Flor de Nilópolis, em 1989, estabeleceu um divisor de águas nos desfiles de Carnaval, antes e depois de Joãozinho Trinta.

Nos desfiles antigos a participação era somente dos povos das comunidades, as favelas. Tudo era bem simples e verdadeiro. Quando os enredos homenageavam reis e rainhas, estes eram representados por pessoas negras. A partir daí começaram os comentários maldosos: “como pode um ‘negão’ ou ‘negona’ com fantasia da nobreza?”. Acostumados com a monarquia europeia cujos monarcas eram brancos, achavam que esta era a única identidade dos personagens da realeza.

Procuro chamar a atenção para estes fatos para explicar como entendo a trajetória da já (tão antiga) necessidade do branqueamento insistente e estrutural da negritude atuante. Isto se aplica a todas atividades e segmentos do Brasil que a ponha em evidência e assuma o protagonismo da situação.

Depois de algumas denúncias, a escola de samba Unidos da Tijuca, em 1981, apresentou o samba-enredo ‘Macobeba, o que dá pra rir, dá prá chorar’ e cantou a odisseia de um valente brasileiro contra o monstro estrangeiro, que endinheiredado. “Mitavaí, bom lavrador e vaqueiro, deixa o sertão brasileiro, vai combater Macobeba Maldita, que devora o mato e o mito. Rádio, jornal e TV…Toma daqui, leva pra lá, o que hoje dá pra rir, amanhã dá pra chorar. Maldito bicho se me ouviu, e não gostou do meu samba, vá para longe do Brasil”.

Em 1982, a Império Serrano apresentou “Bum bum paticumbum prugurundum”. Como tinham ignorado o tempo todo, por conveniência, os reinos da Etiópia, Egito, Sudão e outros, e pela falta de conhecimento, negavam-se admitir. Estabeleceu-se, então, a Babilônia, depois a Torre de Babel. O resultado é esse que todos conhecemos.

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Os presidentes das escolas são brancos, os carnavalescos também, as baterias mescladas com brancos, as rainhas de bateria são brancas, modelos e sem nenhuma ou ginga malemolente. E segue o baile,  o cordão, os blocos “numa democrática” miscigenação?!

Meu estilo é o que destilo quando desafio o veneno que é o desafio, no fio da meada do destino, na velocidade do raciocínio, antes que termine o tempo das escolas desfilarem, entre os dois portões deslizantes, os impostos, para contagem de tempo, que tiraram a espontaneidade de adentrar o sambódromo e a alegria de comemorar no que antigamente se chamava apoteose!!!(Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

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