A finitude é uma das realidades mais inevitáveis da existência humana. Desde o momento em que tomamos consciência de nós mesmos, passamos a lidar com a noção de que nossas vidas, assim como tudo o que nos cerca, têm um fim. Essa percepção pode despertar diferentes sentimentos e reflexões, variando desde o medo e a angústia até a aceitação e a serenidade.
O entendimento de que somos seres finitos nos coloca diante de questionamentos profundos sobre o significado da vida, a transitoriedade das relações e a forma como encaramos o futuro. Nesta crônica, exploraremos as várias formas de experimentar a finitude, suas implicações emocionais, como o luto e a dor, e as diferentes maneiras de lidar com essa realidade, buscando possibilidades de superação e transformação.
A finitude pode ser experimentada em várias dimensões da vida, sendo a morte o exemplo mais evidente. Entretanto, ela também se revela em outras situações cotidianas, como o envelhecimento, a perda de capacidades físicas e mentais, o término de relacionamentos e a conclusão de fases importantes da vida.
Cada uma dessas formas de finitude carrega consigo um sentimento de perda e transformação, obrigando-nos a confrontar nossa fragilidade e os limites impostos pela existência.
Na perspectiva da morte, a finitude se apresenta de maneira absoluta e definitiva. A ideia de que um dia cessaremos de existir, e que não teremos controle sobre quando ou como isso ocorrerá, pode gerar uma angústia profunda.
A finitude nos lembra constantemente de nossa vulnerabilidade diante de forças que estão além de nossa compreensão e controle. O envelhecimento, por exemplo, é uma forma gradual de confrontar a finitude.
À medida que o tempo passa, percebemos as mudanças em nosso corpo e mente, perdendo gradualmente certas capacidades e testemunhando a transformação daquilo que antes considerávamos permanente.
Por outro lado, a finitude também pode ser percebida nas perdas emocionais e sociais. O término de um relacionamento, seja amoroso ou de amizade, traz consigo a dor da finitude, do fim de uma conexão que antes parecia estável e eterna.
A perda de um emprego ou a mudança de uma fase da vida, como a transição da juventude para a maturidade, também podem ser experimentadas como momentos de finitude, em que uma parte de nossa identidade ou de nossa experiência é deixada para trás.
A experiência da finitude frequentemente está associada ao luto e à dor. Quando enfrentamos a perda de alguém querido, por exemplo, somos levados a vivenciar um processo de luto que nos coloca em contato direto com nossa própria finitude.
O luto é, portanto, uma resposta natural à perda, seja ela causada pela morte, pelo término de um relacionamento ou por uma mudança importante na vida. Nesse contexto, a dor é inevitável, pois ela reflete o vazio deixado pela ausência e o desafio de aceitar a transitoriedade da vida.
No entanto, o luto não é um estado estático; ele é um processo de transformação que pode nos levar a diferentes estágios emocionais. Inicialmente, pode haver negação, uma tentativa de evitar o confronto com a realidade da perda. Essa negação é uma defesa temporária, uma forma de proteger a mente contra o impacto imediato da finitude.
Com o tempo, a dor se torna mais presente, e os sentimentos de raiva, tristeza e desespero podem se intensificar. Esses sentimentos são parte essencial do luto, pois permitem que a pessoa reconheça e enfrente a magnitude da perda.
Eventualmente, o luto pode evoluir para um estado de aceitação, em que a pessoa começa a integrar a experiência da perda em sua vida. Nesse ponto, a dor não desaparece, mas se transforma em algo que pode ser vivido de maneira menos intensa e mais compreensiva.
O luto, portanto, é um processo dinâmico que nos ensina a lidar com a finitude de uma maneira mais consciente e resiliente, permitindo-nos encontrar novas formas de viver e de se relacionar com o futuro.
Embora a finitude possa ser uma fonte de angústia e dor, ela também oferece uma oportunidade para o crescimento pessoal e espiritual. Ao aceitar a finitude como uma parte inescapável da existência, podemos encontrar novas formas de encarar o futuro, redefinindo o significado da vida e de nossas relações.
A consciência da finitude pode nos estimular a viver de maneira mais plena, valorizando os momentos presentes e as conexões que estabelecemos ao longo da vida.
Uma das formas de superar o impacto negativo da finitude é encontrar um sentido para a vida que transcenda a temporalidade. Muitas pessoas recorrem à espiritualidade ou à religião como forma de lidar com a finitude, buscando respostas que lhes ofereçam conforto e esperança diante da inevitabilidade da morte e das perdas.
A crença em uma vida após a morte ou em uma continuidade espiritual pode aliviar o medo da finitude, proporcionando um senso de propósito e tranquilidade. Outra possibilidade é encarar a finitude como um estímulo para a ação.
A compreensão de que a vida é limitada pode nos motivar a buscar realização pessoal, a construir relacionamentos significativos e a nos engajar em projetos que nos permitam deixar um legado. A finitude nos lembra de que o tempo é um recurso finito, e isso pode nos levar a viver de forma mais intencional, focando nas coisas que realmente importam.
A busca por experiências autênticas, a prática da gratidão e o cultivo de relações profundas podem ser formas de vivenciar a finitude de maneira positiva, transformando o medo da morte em uma celebração da vida.
A vivência da finitude, especialmente quando associada ao luto, pode ser dolorosa, mas também pode ser transformadora. A dor da perda nos ensina sobre a importância da resiliência, da adaptação e da capacidade de seguir em frente, mesmo diante da ausência e da mudança.
Ao aceitar a finitude, passamos a reconhecer nossa vulnerabilidade como parte essencial de nossa humanidade. A partir desse reconhecimento, podemos construir uma relação mais saudável com o tempo e com o futuro, compreendendo que a finitude não deve ser vista apenas como um fim, mas como uma oportunidade para novas possibilidades de ser e de viver.
Além disso, a finitude nos proporciona a chance de reavaliar nossas prioridades e de nos reconectar com o que realmente importa em nossas vidas. Ela nos desafia a abandonar ilusões de permanência e a abraçar a incerteza como uma condição fundamental da existência.
Essa perspectiva pode nos libertar de muitas ansiedades e preocupações que, ao longo da vida, podem nos afastar do que é mais essencial: a experiência autêntica do aqui e agora.
A finitude é uma condição inescapável da existência humana, presente tanto na morte quanto nas pequenas perdas e transformações da vida cotidiana. Embora ela seja frequentemente associada à dor e ao luto, a finitude também pode ser vista como uma oportunidade de crescimento, transformação e reavaliação de nossas escolhas e prioridades.
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Ao reconhecer a finitude, somos desafiados a viver de maneira mais plena, aceitando a transitoriedade da vida e encontrando, nas experiências do presente, a força para encarar o futuro com resiliência e esperança.
Dessa forma, a finitude, longe de ser apenas um limite, pode se tornar um catalisador para a construção de uma vida mais autêntica e significativa, onde passamos a aproveitar cada segundo, cada encontro, cada toque como algo de um valor essencial e único, valorizando todas as possibilidades de estar vivo.(Foto: RDNE Stock Project/Pexels)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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