Fantasia infantil GENITAL  

genitais

Existe uma etapa do desenvolvimento infantil, por volta dos três, quatro ou cinco anos de idade, em que a criança formula uma espécie de “fantasia” em relação ao seu órgão genital. Na psicanálise, essa etapa é conhecida como “fase fálica”, que é quando a criança volta a sua atenção para os órgãos genitais.

Nesse período, muitas crianças interpelam seus pais com perguntas surpreendentes e, por vezes, desconcertantes. Uma criança nascida com ‘pepeca’, por exemplo, pode perguntar: quando o meu ‘pipi’ vai crescer? Ou, ao contrário, uma criança nascida com pipi pode perguntar: quando o meu pipi vai cair?

A criança nascida com pepeca elabora uma fantasia de que, em algum momento, seu pipi vai crescer, assim como ela já viu no priminho ou no irmão. Ela pensa assim: o pipi deles cresceu, o meu vai crescer também.

Esse tipo de fantasia também ocorre com uma criança nascida com pipi, mas na forma de uma preocupação. Na sua experiência, a criança teme perder o pipi em algum momento, pois a irmãzinha ou a mãe já perderam o pipi delas. A criança pode pensar assim: em algum momento o meu pipi pode cair também.

É nessa etapa que muitas crianças, meninas ou meninos, podem perguntar para os pais: quando o meu pipi vai crescer? Ou ainda, o meu pipi vai cair um dia? Em geral, a resposta que damos para as crianças é mais ou menos assim: “Olha, seu pipi não vai crescer porque você é uma menina… Seu pipi não vai cair, porque você é um menino”.

Com isso, a criança aprende que meninas sempre têm pepeca e meninos sempre têm pipi. Mas isso é uma verdade absoluta? A gente sabe que não! Hoje, no campo da saúde, da educação, nós sabemos que o órgão genital não determina a identidade de gênero de uma pessoa. Existem meninas com pipi, assim como existem meninos com pepeca. Está tudo dentro da nossa maravilhosa diversidade humana.

Ensinar para as crianças que meninas têm pepeca e meninos têm pipi, ignora a existências de tantas e tantas famílias de crianças com vivências de variabilidade de gênero. Pode ser uma criança trans ou  intersexo.

Muitas pessoas não sabem, mas há um risco enorme de mutilação genital em crianças nascidas com pipi, mas que se identificam como menina. A criança pode tentar cortar seu órgão genital com uma tesoura ou uma faca. Isso é real e aterrorizante, eu sei. Por isso estou escrevendo sobre o tema.

Mas você pode estar pensando: como responder ao questionamento que uma criança pode fazer, em relação à sua fantasia infantil genital? Lembre-se, estamos falando de crianças com três, quatro ou cinco anos de idade.

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Bom, você pode responder simplesmente que alguém que nasceu com pipi, terá sempre pipi, pois o corpo daquela pessoa é assim, desde o nascimento. O pipi de uma pessoa nunca irá cair. E o mesmo vale para quem nasceu com pepeca. Você pode dizer para essa criança: olha, não vai crescer um pipi em você. Ter pepeca é uma característica do seu corpo. Não nasce um pipi mais tarde.

Percebem a diferença? A gente oferece uma resposta que é igualmente simples, mas é verdadeira. Com a vantagem de não associar o gênero de uma pessoa à sua genitália. Precisamos compartilhar este conhecimento, amparado pela ciência, da forma mais ampla possível. Dessa forma, todo mundo ganha: mães, pais, crianças e a sociedade!

MARCELO LIMÃO

Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP.  Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042

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