GERAÇÃO Z, trabalho e liderança

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Diversas publicações recentes têm se esforçado em compreender a chamada geração Z. Conhecidos como nativos digitais, ou “zoomers”, são as pessoas que nasceram em plena era da internet, entre 1995 e 2010. Estão entrando no mercado de trabalho que, pela primeira vez, reúne quatro gerações diferentes. Nesta mistura geracional, além da geração Z encontram-se os baby boomers (1946-1964), a geração X (1965-1980) e a geração Y, ou millenials (1981-1994).

Tais conteúdos apresentam diversas características a respeito da geração Z. Dentre as mais positivas, são pessoas mais preocupadas com as mudanças climáticas, criticam a falta de trabalho digno, desejam harmonia entre vida pessoal e profissional, priorizando a saúde mental. Também preferem o trabalho em home office ao presencial.

Já entre aspectos menos dignos de nota, apresentam dificuldades em relacionamentos e preferem os laços virtuais às interações presenciais. Quando dialogam presencialmente, evitam (ou não conseguem) manter contato visual com as pessoas. São mais ansiosos, falam bastante sobre sexo, mas fazem pouco. Pelo menos o presencial. Apesar de serem nativos digitais, apresentam algumas dificuldades com o uso do computador. E, para a surpresa das gerações anteriores, não desejam exercer cargos de liderança.

Como resultado deste último aspecto, a geração Z recebe o estigma de falta de ambição, ou mesmo que são pessoas preguiçosas. Mas seria tão simples assim a explicação? Como são as lideranças que servem de exemplo para a juventude? No mundo corporativo, quando jovens observam seus líderes, veem pessoas estressadas, medicalizadas, divorciadas, sem relacionamentos saudáveis, sem vida pessoal, algumas sucumbindo à exaustão. Tudo em nome da produtividade e da expectativa de alto desempenho. Não me estranha que não queiram exercer liderança.

Estima-se que até 2030, a geração Z representará 30% da força de trabalho global. Um fenômeno recente tem invadido as entrevistas de emprego. Muitas e muitos jovens têm levado alguém da família para participar junto. Pode ser a mãe, o pai, uma tia, um avô, enfim, há relatos de casos assim, tanto em entrevistas presenciais como nas virtuais. Uma recrutadora conta que, em uma entrevista virtual, notou um pedaço da manga da camisa de uma pessoa no cantinho da tela, e perguntou: quem está aí do seu lado, é seu pai? E era ele mesmo.

Agora, claro, há muito julgamento em uma situação assim. Quanta insegurança dessa geração, diriam. Mas seria, no mínimo, imprudente culpabilizar somente a geração Z. Lembremos que o pai, que é de outra geração, concordou ir junto. E pasmem, até alguns processos seletivos corporativos têm permitido o acompanhamento de algum familiar. Então não é só a juventude que está insegura, não acham? Como vamos cobrar dos mais jovens, maturidade e autonomia, nestas condições?

Por fim, outro aspecto relevante vem da esfera econômica. Atualmente, a taxa média de desemprego é 7,4%. Para pessoas entre 14 a 17 anos,  a proporção é 4 vezes maior (28%). Mesmo na faixa entre 18 a 24 anos, o desemprego representa o dobro da média (15,3%). Há uma barreira, que desafia a entrada de pessoas mais jovens no mercado de trabalho.

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Com tanta concorrência e competitividade presentes, muitas e muitos jovens tentam qualquer estratégia que forneça um mínimo de confiança. Outra parcela, simplesmente desiste, com sentimentos de derrota e culpa. E quando isso ocorre, ainda recebem a pecha de “nem-nem”. Nem trabalham, nem estudam.

Vejam que o problema é mais complexo. O mais fácil, e equivocado, é culpar a geração Z, estigmatizando indivíduos jovens sem considerar o contexto desfavorável, que é histórico, social, econômico e cultural. O melhor seria compreender as diferenças, acolhendo a juventude no mercado de trabalho, aproveitando suas potencialidades.(Foto: Polina Tankilevitch/Pexels)

MARCELO LIMÃO

Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP.  Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042

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