E de repente é Natal, de novo. Num ano que tivemos o Carnaval e nos fechamos para uma pretensa melhora interior, que não se fez, já estamos no Natal. Um ano que não merece ser esquecido, mas muito analisado para que não incorramos nos mesmos erros, num futuro próximo; aliás, deveria ficar conhecido como o ano em que não nos permitimos mudar. Ouvimos de tudo um pouco: uma humanidade transformada para melhor pela pandemia, que o brasileiro aprenderia e seria outro, que seríamos mais empáticos, que aprenderíamos com a dor do outro e mudaríamos. Porém, nada disso aconteceu; mais uma vez, sem ser novamente. Continuamos os mesmos. Vivemos igual ou pior ao início desta crise.
Ainda não foi desta vez que aprenderemos a nos cuidar e a cuidar do outro, tão pouco será desta vez que respeitaremos mais as privacidades e limites alheios, visto que nem bem reconhecemos os nossos e ainda burlamos os espaços públicos para termos privilégios ou oportunidades mesquinhas e pessoais. Não, não foi desta vez, ainda. A humanidade transformada ficou nos discursos. Pelo andar da carruagem (ou será carroça?) acredito que nem a próxima geração terá consciência das necessidades de mudanças, para que a humanidade avance aos níveis de respeito e solidariedade, em padrões aceitáveis de uma convivência razoavelmente sadia.
Sim, sadia, porque estamos demonstrado níveis de insensibilidade e ignorância ao adotarmos práticas inseguras e de riscos, quando aglomeramos e desrespeitamos as normas vigentes de proteção à saúde. Triste humanidade que não aprende com a morte e descuida de sua turba insana; num comportamento misto de irracionalidade e intolerância, juntamos a isto os atuais recentes desvios de condutas que se tornam evidentes ao proclamarmos tudo como sendo sexismo, racismo, acintes, preconceitos e gozações. Dá a entender que o povo está tão saturado de desgovernos que não se adapta nem aos seus próprios pares, encontrando razões para reclamar do irreclamável mas sem conseguir lutar pela sua própria liberdade.
Chegamos ao insuportável momento em que se elogiar a beleza feminina se tornou assédio, comentar sobre os cabelos pintados de um jovem é insultá-lo e encara um negro, de frente, é ameaçá-lo por causa de sua cor. Que pobreza de Mundo e de civilização estamos criando, frágeis em suas matrizes psicológicas e contestadores de inverdades e incertezas que nem eles conhecem o princípio, o meio tão pouco o fim. Estamos forjando jovens frágeis e chatos, cujos valores são infundados e insustentáveis, diante das severas e duras razões da Vida. Os tais mimizentos: desagradáveis e desnecessários. Humanidade transformada?
Mas será que podemos reduzir a isto, estes 10 meses de isolamento? Será que tudo se espelha nas praias lotadas, nas baladas sem proteção, nas ruas de comércio lotadas, nas aglomerações nos transportes públicos? Não, claro que não. Nem tudo foi um show de horror ou beirou à demência. Tivemos picos de senso crítico e analítico funcionando e primando pelo desenvolvimento humano com qualidade; o exemplo máximo recai sobre os profissionais da Saúde que estão fazendo bonito com o pouco de que dispõem. Incansáveis, destemidos e lutadores contundentes, enfrentam o mal, apreensivos, mas decididos a vencer. Exemplo pouco lembrado, este sim de uma humanidade transformada de fato.
O mesmo se dá com os professores que, apesar da pequena remuneração, necessitaram se reinventar para levar adiante uma proposta educacional que possibilitou transmitir uma parcela dos subsídios previstos, mas foram em frente, concluíram sua missão, “caçaram” alunos pela rede, administraram a crise do cansaço (permitida apenas aos alunos, mas impossível ao professor), trouxeram o novo e despertaram intenções naqueles com quem compartilhavam seus saberes. Apesar de algumas críticas de pais desavisados, os professores, também, merecem aplausos este ano, pela sua autoestima e eficácia na docência. Foram heróis que trabalharam mais do que o dobro de sua jornada, enfrentando seus próprios medos e incertezas, mas assumiram a liderança profissional que lhe é posta. Merecem destaque.
No caso dos professores, eles receberam apoio dos pais, no início dos trabalhos, mas a medida com que as coisas foram avançando, pais cansados de seus filhos rebeldes dentro de casa, passaram a criticar e a hostilizar o trabalho docente. Todo o sacrifício empenhado pelos docentes não foi visto e perdeu apoio dos pais que acobertavam filhos que dormiam ou fugiam das aulas, as exigiam a aprovação dele, acima de qualquer coisa. A legislação não esteve ao lado do professor, mas deu chances de seus afazeres serem bem aplicados e sua conduta ser ilibada. Parabéns, amigos, pela sua superação.
Entre o salvar vidas e abrir o comércio a resposta está nas ruas das cidades. Parece que ainda não aprendemos nada e sairemos desta como uma lição incontestável a ser paga: a morte de conhecidos e amigos e familiares. Porém quem se importará com isso, se a Vida é para ser vivida? De uma maneira insana avançamos para as ruas e shoppings, que nunca deveriam ter abertos, antes de resultados positivos no combate desta pandemia. De forma irracional mantivemos nossa agenda de férias e feriados, com a desculpa de não suportar isolamentos, desafiando a Vida e a Morte, de uma só vez. Mas quem liga para isso enquanto se é jovem e imaturo?
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Tal irresponsabilidade está custando mais um período de isolamento severo e a perda de muitas outras vidas, com sanções que poderão ser maiores, num futuro imediato, mesmo que não percebamos que os perdedores somos nós. Triste falta de consciência, mas seguimos em frente, mais uma vez, sem ser novamente. Entre risos e abraços, disfarçamos nossa dor e lançamos sorrisos sonsos, sem graça, mas persistimos em nosso caminhar frágil e imoral. Não crescemos este ano. Não evoluímos. Não buscamos preservar a humanidade. Resta-nos esperar pela lei do retorno, que é implacável (e justa). Repito: mais uma vez, sem ser novamente. Dentro deste cenário, rumamos à semana das festas, na faixa vermelha, infelizmente. Se possível, tenhamos e façamos um feliz Natal. Cristo renascerá, de uma forma ou de outra, em nossos corações. Para alegria de uns, mais uma vez, sem ser novamente.(Foto: www.anapnoes.gr)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.
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