Você já se perguntou qual é o papel da comédia, do humor, em nossas vidas? Eu diria que o humor tem um papel importantíssimo, não apenas na sociedade brasileira mas em todas, sobretudo nos dias atuais, tão incertos quanto desafiadores.
Se nós pensarmos o humor como uma manifestação artística, que nos faz rir, que gera um sentimento de alegria, nos livrando, momentaneamente que seja, das dores e das tristezas, só por isso já estaria justificado seu papel. Em saúde mental, a arte é uma saída criativa e possível para nossas angústias. Particularmente nas artes cênicas, a comédia tem o poder de aplacar o sofrimento humano.
Com isso, em um país tão desigual como o Brasil, com tantas mazelas no nosso cotidiano, o humor pode preencher um espaço valioso na subjetividade das pessoas, além de operar como uma espécie de denúncia dessas mazelas. São muitas as reflexões que podem surgir, a partir das controvérsias capturadas pelos olhares críticos de humoristas sagazes.
Os saudosos Chico Anísio e Jô Soares são exemplos de humoristas geniais. Ou ainda Juca Chaves, que teve a ousadia de fazer, por meio da música, paródias corajosas e provocativas em pleno regime militar. Não à toa, foi para o exílio em Portugal nos anos 1970. Incansável, seguiu fazendo sucesso com nossos patrícios nas rádios e tevês locais, incomodando o governo ditatorial da época com suas sátiras musicais. Com isso, teve que se mudar novamente, para a Itália.
É possível fazer muita comédia com a tragédia humana. Aliás, a união da comédia e da tragédia deu origem a um dos gêneros teatrais mais antigos da história: a tragicomédia. Foi na antiguidade clássica greco-romana que Plauto, autor da peça “Anfitrião”, criou esta linguagem teatral com a qual tanto nos identificamos. Era século 2 a.C. e, de lá para cá, nunca deixamos de apreciar as tragicomédias como entretenimento.
Agora, os conteúdos de humor têm limites? Caso positivo, quais seriam os limites do humor?
Bom, seriam os mesmos limites da liberdade de expressão. A liberdade de expressão é um princípio fundamental nas democracias, que garante às pessoas o direito de expressar livremente suas ideias, pensamentos, opiniões, sem qualquer tipo de censura, seja ela pública ou privada.
Entretanto, os limites da liberdade de expressão também são determinados por certos princípios, por exemplo, do respeito à dignidade humana, à privacidade, à honra e à imagem das pessoas. Então não pode haver, com a justificativa de que “foi só uma piada”, discursos de ódio, de incitação à violência contra grupos ou indivíduos, difamação, homofobia, transfobia, racismo, capacitismo, etarismo, enfim, o humor não pode ofender as chamadas “minorias psicológicas”. Não podemos tolerar o sadismo.
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Algumas pessoas argumentam que, no estabelecimento de limites para o humor, há muito “mi-mi-mi”. Tais pessoas defendem a ideia de que o mundo está ficando sem graça. Será? Eu não acredito nisso. Estou convicto ser possível usar a inteligência de forma criativa e brilhante para nos fazer rir, sem ofender ou vulnerabilizar ninguém, né?
Encerro o texto com um convite à reflexão e um alerta, a partir da frase do filósofo e escritor espanhol Paul Preciado: “Quando socialmente você não percebe a violência, é porque a exerce”.(Foto: Chat GPT)
Um beijo do Limão, no seu coração!
MARCELO LIMÃO
Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP. Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042
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