Grandes prefeitos: atentado e morte tiraram carreira de ÍBIS do rumo

ÍBIS
Íbis Pereira Mauro da Cruz governou Jundiaí de 1973 a 1977. Foi eleito pela Arena. Depois de um atentado em sua casa durante o mandato e que resultou na morte de um guarda municipal, a carreira política foi afetada. Íbis deixou Jundiaí. Tentou ser deputado e por duas vezes candidatou-se a prefeito. Não conseguiu vencer nenhuma dessas eleições. “Perder e ganhar fazem parte do jogo da política, que é uma coisa que eu adoro”. Uma certeza, ele tem: se na década de 1970 houvesse reeleição, ele teria continuado à frente do Executivo. Quanto ao futuro, o político não descarta uma nova candidatura. E, daqui a 100 anos, Íbis Cruz gostaria de ser lembrado pelas coisas boas que fez para a cidade.
No início da década de 1970, Íbis era um desconhecido em Jundiaí. Não tinha nenhuma experiência política. Mas convivia com o poder. “Eu trabalhava na Receita Federal durante o governo do general Castello Branco e 51% do orçamento do país passava pelas minhas mãos”, lembra. A política estava no sangue da família. Os irmãos do ex-prefeito foram voluntários na Revolução de 1932. “Em 1972, me filiei à Arena. Concorri e venci a eleição. Tenho grande orgulho. Fiz uma boa administração”. Ele concorreu com nomes como Urubatan Salles Palhares, Vitória Furlan e Jairo Maltoni, este último do PMDB. O mais incrível é que as pesquisas mostravam que Íbis era o último colocado. “Eu tinha um plano de governo. E trabalhei muito naquela campanha. As eleições eram muito diferentes. Não tínhamos os meios de comunicação de hoje. Fui de casa em casa e venci”, explica.
A carreira dele poderia ter sido diferente se numa noite de dezembro de 1975, um homem não tivesse invadido a casa onde morava e atirado num GM por engano. “Ele pensou que estava atirando em mim”. Para Íbis, o atentado teve um motivo claro: “eu desmontei a igrejinha que havia na Prefeitura. Acabei com os apadrinhamentos. Quem não trabalhava não ficava no serviço público. Houve uma campanha contra mim. Até montaram um jornal para me combater”, relembra. Dias antes, minha mulher recebera um bilhete descrevendo como eu seria morto. Ocorreu exatamente do jeito que estava no papel. Só que mataram o GM. O assassino foi preso. Fui conversar com ele na cadeia. À tarde, ele foi solto e assassinado também”. O atentado, a morte do guarda, fizeram com que as filhas de Íbis pedissem para que ele deixasse a política. Ele e a família saíram da cidade. Talvez este tenha sido o principal entrave para Íbis ter sucesso nas eleições que viriam.
Um salto de 44 anos na história, direto para a eleição de 2016, e Íbis afirma que a Jundiaí que governou tinha apenas 200 mil habitantes, a metade de hoje. O orçamento dele equivaleria hoje a R$ 70 milhões. Atualmente é de R$ 2 bilhões. “É verdade que a população aumentou 100%. Mas o orçamento do município cresceu 2.000%. Este projeto das alças da via Anhanguera é uma vergonha para Jundiaí. Este projeto foi feito por mim há 40 anos. Depois que eu sai da Prefeitura gastaram R$ 40 bilhões e o que fizeram para a cidade? Nada, a não ser aumentar o número de cargos comissionados”, diz. Para ele, o mesmo se aplica a todos os representantes de Jundiaí na Câmara dos Deputados, em Brasília, e na Assembleia Legislativa. “O que fizeram pela cidade?”, pergunta. A resposta dele é a mesma. Na foto principal, o ex-prefeito mostra um dos muitos projetos que mandou fazer durante sua administração e que nunca foram utilizados pelos que o sucederam.
Projetos – Quem vive em Jundiaí desde a década de 90 certamente ouviu dizer que por conta da represa construída na administração do tucano André Benassi, Jundiaí teria água por 30 anos. Íbis Cruz não tem meias palavras para falar deste assunto. “É uma mentira e uma demagogia sem tamanho. Isto não tem cabimento. O Walmor (Walmor Barbosa Martins, prefeito de 1969 a 1973, na foto acima com Íbis e o então governador Laudo Natel) deixou o projeto pronto para captação de água no rio Atibaia. Jundiaí não tinha água. Só que não tínhamos dinheiro. Eu consegui o dinheiro através de financiamentos. E financiamentos são conseguidos com bom projetos. Foi assim no meu governo todo. Compramos um terreno às margens do rio Atibaia, em Itatiba, a 39 quilômetros daqui. Construímos três reservatórios. A partir daí começou a expansão da cidade. O índice de mortalidade infantil em Jundiaí era igual ao do Nordeste. Em 1973, em cada mil crianças, 72 morriam porque tomavam água de poço contaminada”, lembra.

Jundiaí era atrasada, muito atrasada, segundo Íbis. “Não havia rodoviária. As pessoas tomavam ônibus na praça Pedro Toledo. As árvores eram os pontos. Fiz a estação na Praça da Bandeira. O cemitério Nossa Senhora do Montenegro, no jardim do Lago, estava completamente abandonado. Os sepultamentos ocorriam nas paredes do Desterro, no centro da cidade. Até havia um projeto para transformar a área do Montenegro em um conjunto habitacional”, recorda. Naquela época, a cidade contava com apenas um médico e uma ambulância. “O SUS nasceu comigo. De um médico saltamos para 70. De uma ambulância pulamos para 14”, diz. As principais avenidas da cidade foram construídas ou asfaltadas no governo de Íbis. Acima, o registro da pavimentação da rua Bom Jesus de Pirapora.

Ditadura – Íbis Cruz não gosta deste termo. Para ele, o Brasil viveu de 1964 a 1985 o ‘regime militar’. “Por que ditadura? Havia eleições direitas. Antes do regime militar, os desvios de dinheiro eram tão grandes que fariam o escândalo da Petrobras parecer dinheiro de cafezinho. Eu tinha um ótimo relacionamento com os militares. Meu chefe de gabinete era um general. No DAE, a chefia era de um coronel. A GM era comandada por um tenente”, enfatiza. Para o político, depois que os militares voltaram para os quartéis e os civis passaram a controlar o poder é que o Brasil ficou à deriva. “Todo este nojo, toda esta podridão que vivemos se deve ao PSDB, PMDB e ao PT (veja vídeo). Não podemos generalizar. Mas, eu costumo dizer que quem descobriu o Brasil de verdade foi o Sergio Moro”. Matéria originalmente publicada no dia 14 de janeiro de 2018