Como tudo na sociedade tem suas explicações, temos também propostas inenarráveis. Em nossos bate-papos ouvimos que se assisti a TV Senado para saber quem são os pilantras que estão no poder. Ponto um. O ponto dois é: não assisto BBB 22 nem amarrado, é um lixo. Tanto o ponto 1 como o ponto 2 são mentiras enormes. Ninguém assiste à TV Senado e os votos continuam indo para os mesmos de sempre e quase todos assistem BBB 22, porque comentam no dia seguinte. Inenarrável. Patético. Assim é que chegamos à terceira edição com uma mescla de confinados anônimos e os ditos “famosos” como participantes do programa. A edição divide os participantes em dois grupos: Pipoca, composto por anônimos que se inscreveram para participar da atração e Camarote, que reúne os tais ditos “famosos” (já conhecidos na mídia e pelo público) convidados diretamente pela equipe do programa.
Algumas novidades prometem causar desafios. Pela primeira vez na história do programa, há um “Botão da Desistência”: o participante que quiser desistir do jogo pode apenas apertar o botão, sem precisar recorrer ao confessionário ou à produção do programa, e sair do BBB imediatamente. Tal botão tem um certo sistema de segurança para que, totalmente bêbados, os Brothers não acionem o botão, no auge do nonsense.
Os personagens(sim, porque são somente personagens)? Estes compreendem um agrupamento social estranho e difuso. Algumas consistências são percebidas e muitas encenações são expostas, sempre pensando no melhor papel diante da avaliação do público. De toda a conversa, fica óbvia a participação do núcleo masculino envolvido em meias conversas (para não dizer fofoca) e do grupo feminino avaliando os homens avulsos. É, a temporada da caça está aberta, numa casa desprovida de muito a oferecer.
Quando a conversa sai do lugar comum, o que se tem são três subgrupos que não desgrudam do osso: um grupo faz estratégias mirabolantes e fantasiosos, nos moldes da galinha dos ovos de ouro; outro grupo não sai das conversinhas de transgêneros, sexualidade, homofobia e o terceiro faz apologia rasa e barata de subcultura, comunidade e periferia. Conversas ideologizadas mas de pouco conteúdo sério e consistente: fala-se o óbvio, o raso e, às vezes, o da sarjeta. Mesmo os mais estudados (o que não significa mais cultos) pouco acrescentam nas conversas dos subgrupos em que estão inseridos, não trazem o novo nem aprofundam temas relevantes.
Reino dos digital influencers(D.I). Essa edição mais assusta do que aponta para uma posição de futuro, pois se o que temos é uma amostra do que seriam os tais D.I. devemos no mínimo nos preocupar com as influências que tais personagens possam veicular: pouco conhecimento, pouca linguagem e pouca comunicação. Os BBB 22 deixam evidente que discutir com uma pessoa que renunciou à lógica é como dar remédio a um homem morto.
Em cada rodinha de conversa percebe-se a acidez e a contestação. Contudo, o maior problema da comunicação é que não ouvimos para entender: ouvimos para responder. Dai é um vômito inenarrável de meias palavras, meias verdades, meias visões, em função do nível raso de argumentação.
Por isso, em nossa Vida devemos estar atentos para nossas falas, nossos sentimentos e nossas perspectivas. Com isso saímos ganhando ao perceber quem temos do nosso lado e, assim, vemos a necessidade de prestar atenção na atenção que as pessoas nos dão. Valorizar quem nos valoriza. Deixar quem nos deixa. Dói? Dói, sim. Mas passa.
Quando percebemos que a “famosa” cantora(foto) foi expulsa pela agressividade e que ela continua truculenta, do lado de fora, ameaçando bater boca com os membros da casa com quem ela se rivaliza, aprendemos que o melhor da história é que toda vez que estivermos do lado da maioria é hora de parar e refletir porque a coletividade nem sempre é atenta…
Aliás, este episódio deixa claro que não sabemos o que é agressão e o que é violência, pois a diferença favorece a compreensão de quem são os apoiadores da “tal famosa” cantora. E nos traz mais uma reflexão: vivemos numa sociedade que anseia pela verdade, mas odeia aqueles que a dizem. A formação de subgrupos apenas representa a atitude de nossa sociedade, como um macroespaço, com comportamentos iguais ao dos “brothers”.
Duas pessoas estão se saindo de maneira interessante: um jovem ator e uma cantora trans. Apontam sua ideias, fundamentam, argumentam. Mas ele não terá vida longa. Foi picado pela vaidade de outros que não se permitem perder nem se colocam no papel de quem pode realizar correções de rumos. Aliás, um destes dois fala, fala, fala, fala e…não diz nada. Apenas articula a mandíbula, vociferando frases desconexas que não se ligam nem com coordenação tão pouco com subordinação. Mas é símbolo da juventude do século XXI.
MAIS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO
É total perda de tempo? Não. Não é perda de tempo, é o que temos em nossa sociedade e é aquilo com o qual convivemos em nosso dia a dia. As vezes em doses mais fortes, as vezes em formato homeopático, mais diluído, mas sempre presente em nossas Vidas. Se devemos ou não assistir? Sim, devemos para ver o que nos aguarda o futuro e saber que o estudo ou os empregos não mudarão aquilo que não admite mudanças.
Precisamos estar sempre atentos aos nossos compromissos conosco e com nossa sociedade, pois somos donos de nossos atos, mas não somos donos de nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos, portanto, vamos espiar a casa mais vigiada do Brasil, já que a nossa está de certa forma à deriva.(Foto: reprodução Rede Globo)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport
VEJA TAMBÉM
EM CAMPO LIMPO, PREFEITO LUIZ BRAZ ENTREGA 10 LEITOS DE UTI
ACESSE FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES
PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI