Jornalista tem orgulho de tudo em Jundiaí. Menos das CALÇADAS

CALÇADAS

A jornalista Sandra Mezzalira Gomes completará, no próximo ano, 20 anos de Europa. Hoje mora na Alemanha. Sandra tem orgulho de tudo que é jundiaiense. Menos das calçadas. Brincadeiras à parte, ela não esconde que após as visitas aos parentes, no Brasil, derrama “cachoeiras de lágrimas”. No Festival de Cinema de Berlim deste ano, Sandra fez a cobertura para o Jundiaí Agora. Abaixo, aproveitou para tirar uma selfie com o ator Wagner Moura. A foto está logo abaixo. A entrevista

Qual sua atividade na Alemanha?

Atualmente trabalho principalmente na área pedagógica – sou diretora de uma pré-escola para refugiados e professora de português para adultos em uma escola estadual e em uma escola particular. Sou ainda tradutora do alemão pra português e trabalho também num museu infantil

Você é jundiaiense?

Não. Nasci em São Paulo. Mudei para Jundiaí com dois anos. Morei ai até fazer a Unesp de Bauru onde fiquei quase cinco anos. Depois morei mais dois anos em Jundiaí, iniciando minha carreira de jornalista. Na sequência, mudei para a Europa.

 

E onde você morou e estudou em Jundiaí?

Meus pais ainda moram na Barão  de Teffé, onde fui criada. Estudei no antigo Instituto de Educação, hoje o ‘Bispo’. Também estudei no Colégio Divino Salvador. Fiz curso técnico no Colégio Rosa e cursinho no Objetivo antes de entrar na Unesp.

Antes de ser jornalista trabalhou em outras áreas

Fiz alguns “bicos” pra ganhar meu dinheirinho nas férias escolares antes dos 18 anos, principalmente em locadoras de videos que estão em extinção. Mas trabalhar mesmo foi depois de formada em jornalismo e o principal emprego num dos jornais da cidade onde comecei em 2000 e para o qual escrevi até 2018.

Ainda tem família na cidade? Quantas vezes vem visitá-los no ano?

 Sim, claro, metade da cidade, são muitos familiares!!! A família Mezzalira é enorme e está quase toda em Jundiaí. Tento visitá-los a cada dois anos mas já aconteceu de ficar quase três sem conseguir ir assim como agora estou voltando em menos de seis meses por ocasião de uma festa importante.

O que mais sente falta?

Dos amigos, familiares queridos, da Serra do Japi e noites em volta de fogueira, churrascos e de algumas festas populares (da uva, do morango e outrasa), de bater papo com os vizinhos espontaneamente na esquina, de ler gibi na banca do seu Arthur no antigo Sacolão, que virou um supermercado. Seu Arthur aposentou e eu que atravessei o oceano para ver as revistas dele. Tudo mudou. Já moro há quase 19 anos em Berlim e sou apaixonada por esta cidade mas onde crescemos e fincamos nossas memórias de infância tem sempre um gostinho especial. Meus olhos sempre ficam marejados quando penso e falo desta época da cidade e toda vez que digo tchau pro Brasil da janelinha do avião, derramo cachoeiras de lágrimas….

E o que menos sente falta?

Das cadeiras, em barzinhos, sendo levantadas cedo mandando o pessoal pra casa. Com raras exceções, a cidade não tem vida noturna. Também não sinto falta da intolerância e mentalidade fechada de algumas pessoas, calçadas esburacadas, estreitas e descuidadas, acho que as calçadas são o que realmente mais me incomoda…

Por que decidiu se muda?

Vim pra Europa pensando em ficar dois anos e voltar pro Brasil. Tenho passaporte italiano, já dava aulas de inglês no Brasil e falava relativamente bem o italiano. Amo conhecer outros idiomas. Queria aprender espanhol, francês e aprimorar o inglês e italiano. Alemão não estava na lista mas minha irmã mais velha estava em Berlim e me convenceu a começar minha aventura por aqui. Eu me apaixonei pela cidade. Hoje meus sobrinhos também são alemães e estamos muito bem aqui. Meus pais vêm frequentemente. Também brincamos que “a vida é muito curta pra aprender o alemão”, ou seja, estou tentando até hoje…

O que foi mais difícil?

Alem da distância das pessoas queridas, morar “na geladeira” e a escuridão no inverno… A escuridão continua, mas as mudanças climáticas são visíveis. Hoje é raro ver neve. Quando cheguei eram quase quatro meses seguidos de neve e muito frio. Também me acostumei, aprendi a me vestir e prefiro a “geladeira” do que o “forno”. Detesto calor em demasia. Só gosto se puder entrar na água…

Viveu muitas coisas curiosas?

Ter de ser virar, de não ter “serviços”, de montar armários, limpar a casa, abastecer o carro, tudo sozinho… De não ter a “pegação” habitual (hoje estendo a mão também no Brasil e sempre me puxam pra dar os beijinhos), dos mercados fecharem as 20 horas!!! (hoje ficam abertos até meia-noite mas aos domingos é raríssimo). Na época que cheguei, quando começou o Euro, de ter uma moeda em cada país, ou seja, andar alguns quilômetros e já mudar tudo, língua, moeda, horário, costumes…

Como lidou com o clima, com a língua?

O idioma foi f… A primeira vez que ouvi alemão comecei a rir, parecia que estavam se xingando, jamais imaginei que não só falaria esta língua como a acharia linda e ainda ensinaria a mesma às crianças refugiadas da Síria, Iraque e afins como faço hoje…

Qual seu olhar para o Brasil e Jundiaí hoje? Muda a forma como se pensa a terra natal quando se está muito tempo fora?

Com certeza passamos a perceber coisas boas e ruins, valorizamos mais por um lado e criticamos por outro… Amo Jundiaí, estive agora ai e acho que a cidade esta linda, adoro mesmo. Tenho muito orgulho de tudo (menos das calçadas!!!). Já o Brasil está passando por um momento bem delicado e triste na minha opinião. O pior de tudo é a intolerância de quase todos a ponto de não haver debate. Radicalismo demais dos contra ou a favor do governo, bem desanimador e perigoso.

Em algum momento pensou que não conseguiria se adaptar? Chegou a arrumar as malas e pensar em voltar?

Sim, mas não pensei em voltar

As pessoas respeitam os brasileiros  ou não nos levam a sério?

No momento, muita gente não entende o que esta acontecendo com o Brasil mas normalmente a reação era positiva quando alguém sabia que eu era brasileira

Em algum momento sentiu vergonha de ser brasileiro? E orgulho?

Sim, ambos e em vários momentos, como já disse, agora tem sido difícil pro mundo entender porque estamos vivendo o que estamos vivendo.

Faz comparações entre Jundiaí e seu atual endereço?

As vezes comparo minha vida. Sei que em Jundiaí provavelmente estaria melhor posicionada profissionalmente apesar de não poder reclamar de tudo que já alcancei por aqui. Andaria sempre de carro e teria casa própria em vez de pedalar e pagar aluguel. Mesmo assim, pesando todos os prós e contras, sempre acabo me decidindo por continuar pedalando e pagando aluguel do que voltar pro Brasil…

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O que mais gosta e o que menos gosta deste local? Por quê?

Amo o fato de em Berlim você poder ser autentico, ser uma cidade multicultural, com opções 24 horas por dia, com um ótimo sistema de transporte, lindos locais e a cidade mais verde da Europa. O que menos gosto é o frio e escuridão mas aqui temos também as quatro estações, ou seja, vemos a primavera desbrotando, o verão curtido a mil com vários lagos para nadar (e suas praias), o outono com as linda folhas coloridas, o inverno com o frio. Acho muito mais legal do que Londres, por exemplo, onde se tem mais chuva e frio do que as quatro estacoes….

Você acha que nós, brasileiros, conseguiremos um dia chegar ao nível do país onde vive atualmente?

Talvez, se mudarmos a mentalidade e evoluirmos em muitos aspectos

 Já encontrou outros brasileiros (jundiaienses?) por aí?

Claro, sempre, muitos, praga…

Pretende voltar? 

Não pretendo, se fosse voltar, talvez fosse pra Jundiaí principalmente por causa da minha família…

O que Jundiaí poderia ‘importar’ do seu atual endereço?

A mentalidade aberta! E as boas calcadas!!