JUNDIAÍ SEM MAQUIAGENS…

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Como fazer um retrato fiel de Jundiaí, a Terra da Uva? Mais que usar os olhos do coração, fundamental usar os olhos da razão. Gostar da sua terra é como gostar e valorizar seu corpo completo, sem excluir membro algum, porque todos os membros são importantes. Cada membro de nosso corpo tem uma função. Assim é o corpo da cidade. Se um membro é excluído, deixado para escanteio, ignorado, ele adoece e começará pouco a pouco a afetar os demais membros, demais áreas do corpo. E para cuidar de todos os membros, é fundamental conhecê-los bem. Afinal, como cuidar se não conhece?

Sou jundiaiense e aos 11, 12 anos de idade comecei a circular sozinho pela cidade, para conhecê-la. Em casa estudava os mapas. Mapa-múndi, mapa do Brasil e mapa da cidade. Conhecer pelo mapa não bastava. Queria ver o lugar, sua imagem, suas belezas, suas penúrias, seus segredos. E a pé, de bicicleta, depois ônibus e por fim dirigindo, conheci cada palmo dessa Terra da Uva. E mais: acompanhei as transformações no decorrer dos anos.

Valorizando cada membro desse corpo, sempre quis ver as melhorias de norte a sul, leste a oeste. E cedo, ainda jovem, comecei a dar as contribuições, fazer as cobranças ao poder público, para todas as regiões. Lembro que certa vez, faz tempo, a pessoa da prefeitura que atendia com frequência meus pedidos, perguntou se eu pertencia a alguma associação de moradores(risos…).

Bom, são muitos casos e casos a contar, e neste texto meu objetivo é colocar algumas observações feitas na transformação da cidade nessas últimas três décadas. Começando com a questão sempre levantada na mídia; Jundiaí é uma cidade com qualidade de vida? Realmente está nas melhores posições nessas tantas pesquisas divulgadas? Conhecendo cada membro desse corpo, a campo mesmo e não só através de dados e imagens, posso afirmar que essas pesquisas batem com a realidade, ainda que alguns pontos sejam questionáveis, pareçam não terem sido levados em consideração ou existam pequenas distorções nos números. Mas o fato é que Jundiaí apresenta sim qualidade de vida e esbanja riqueza, mesmo com seus nichos carentes e problemas dos degraus primários que se arrastam há anos, como a questão do lixo, limpeza pública, que não acompanhou o crescimento da cidade e a decadência no comportamento social.

Muito que Jundiaí tem de melhor hoje para a qualidade de vida foi conquistado nas administrações nos anos 70 e principalmente 80, até meados da década de 90. Seria um “pecado” não citar o investimento em saneamento e o projeto de despoluição do Rio Jundiaí, projeto que figura entre os pioneiros no estado. Depois, outros rios e córregos foram contemplados. E o resultado todos nós sabemos. Mas não está completo. Ainda falta mais, como a despoluição do Córrego do Tanque Velho, que por ser córrego de divisa, depende do empenho de duas prefeituras, Jundiaí e Várzea Paulista.

Estendendo o assunto ambiental, a cidade veio ganhando parques, áreas de preservação, isso em todas as gestões nesses últimos vinte e tantos anos. No entanto, pesa a expansão de loteamentos, especialmente condomínios em áreas de preservação permanente, inclusive nas bordas da Serra do Japi, fora da área tombada, que abre brecha para aquele “bonito conceito” de “empreendimento ecologicamente correto”, trazendo a tiracolo a “compensação ambiental”, que consta nas divulgações mas depois ninguém fica sabendo onde foi feita. É o cidadão que, se tiver consciência ambiental, terá que indagar aos empreendimentos ou ao poder público, pois de livre e espontânea vontade deles não encontramos divulgação, pelo menos não me lembro de ter visto nenhuma até hoje.

Se Jundiaí é uma cidade com qualidade de vida, sem dúvida que a encontraremos em vários bairros, inclusive nestes que tiveram o apelo “ecologicamente correto”. São bairros, abertos ou fechados, onde se manteve uma parcela de mata nativa e ganharam arborização nas ruas e a avenidas. Saneamento, despoluição e arborização constituem bases para a qualidade de vida. E aqui entram algumas divergências. O saneamento seguiu e continua seguindo para todas as direções. Já a arborização não. Bairros e loteamentos para as camadas mais populares carecem de verde, e isto nem precisa constatar indo ao local, até pelo Google Maps, olhando o bairro de cima, nota-se claramente a ausência de arborização. E alguns bairros isto é até inviável, como o Almerinda Chaves, onde as ruas são estreitas e as calçadas mais ainda. Não tem cabimento plantar árvores em calçadas que os postes ocupam um bom espaço e do outro lado são usadas até como estacionamento de veículos. Questiono até hoje como foi aprovado um loteamento com essas metragens!! Mas graças a algumas cabeças iluminadas o gigante “Vetor Oeste” (acho que só Jundiaí tem essa característica curiosa de chamar de “vetor” e não Zona Oeste) ganhou o Parque do Cerrado e outros espaços de lazer menores, com praças, equipamentos públicos, árvores, jardins…

E o curioso “Vetor Oeste” congrega todas as camadas sociais e também o maior setor industrial da cidade. Trata-se da região que mais cresceu nestes 30 anos… e pensar que tudo começou com o “Parque Residencial Eloy Chaves”, da velha “Concic”. O Eloy foi “a mãe”, que gerou todos os bairros e condomínios do entorno, dando hoje uma característica de “cidade vizinha”, com farto comércio e prédios. E o que falar do Medeiros, outrora bairro de chácaras? Medeiros seguiu o mesmo caminho do Eloy. Dele brotaram condomínios em volta, sobre antigas áreas de pastagens, plantações ou mesmo alguma mata sobrevivente. Saindo dos muros e guaritas, a região do Fazenda Grande reúne os bairros populares, todos com os serviços públicos básicos, farto serviço de transporte coletivo e asfalto, sendo que o Novo Horizonte(foto), que nasceu Varjão sobre o antigo leito da Sorocabana, foi o último a receber melhorias, como o asfalto. E ainda sofre com alguns problemas típicos das grandes periferias. Problemas que vamos encontrar nas outras regiões da cidade…

Jardim São Camilo, região leste. Problemas de questão de ordem social, os mesmos do Novo Horizonte, Jardim Sorocabano, etc… não posso deixar de citar um ponto que poucas pessoas abordam porque “se acostumaram”: a poluição sonora. E na problemática da ordem social, convergimos para os problemas sociais em si, a situação de rua e dependência química, que se estende da “cracolândia jundiaiense”, atravessa a Ponte São João, chega à Vila Arens e ao centro da cidade. Ah, o centro, o coração da cidade! O ponto X, de tantos debates… como Jundiaí cresceu com qualidade de vida nas bordas, formou seu cinturão de riqueza e se esqueceu do coração desse corpo! A vida noturna foi-se há muito tempo, e nem a revitalização de algum tempo atrás trouxe de volta a população ao centro. Os pontos gastronômicos fechando e se multiplicando ao longo da Avenida 9 de Julho, aquela que todos fotografam e filmam para mostrar a pujança da cidade. De ponta a ponta, “a 9” tem o que ver, apreciar, seja motorizado ou a pé. “Abençoado Córrego do Mato!” Nome ausente do Google Maps, mas a fonte da rotatória, que é relativamente nova, aparece o nome no Google. Aliás, Jundiaí tem casos curiosos envolvendo nomes. A histórica Praça da Bandeira ganhou placas com a denominação “Praça das Bandeiras”. O loteamento Vivenda passou a ser conhecido como “Vivendas”, inclusive pelo letreiro dos ônibus. O Largo São Bento passou a ser atrás da histórica igreja e a praça em frente Tibúrcio Estevan de Siqueira, sendo que o Largo São Bento tinha também a denominação Praça dos Expedicionários. Até que resolveram transferir novamente o Largo São Bento para frente da igreja e do Fórum e a Praça Tibúrcio foi denominada com uma placa ao lado da igreja… e ninguém sabe se abrange a totalidade da praça, já que a denominação Praça dos Expedicionários sumiu… assim como deram sumiço no sanitário público que lá havia (e na Praça Rui Barbosa também). E para arrematar as curiosidades de denominações, ninguém conhece o Terminal Vila Arens pelo seu nome oficial, Aldo Marani, homenagem a um dos pioneiros do transporte urbano… já o Terminal Central, que recebeu o nome de um figurão político, ganhou destaque em letras enormes na fachada. Por que será que Aldo Marani não recebeu o mesmo destaque?

Jundiaí tem histórias e histórias… tem escritores e livros de todos os gêneros. Jornalistas e jornais que marcaram época e continuam aqui, ajudando a manter viva toda essa história, seus personagens, as belezas do município e também seus problemas… antigos problemas e novos, que vieram juntamente com o crescimento. Aos eternos oposicionistas, os críticos inconsistentes, que só veem os problemas, só os pontos negativos, Jundiaí vai bem, obrigado. Faz jus às posições avançadas nas pesquisas. Tem qualidade de vida. Está à frente de muitos municípios brasileiros. Ainda com os grandes contrastes verificados, novamente citando o dinâmico “Vetor Oeste”. Dos condomínios silenciosos e verdes ao cinza do Almerinda e Novo Horizonte. Também ganhamos ciclovias e vem mais. Mais bicicletas nesta terra que também é ferroviária, que cresceu graças à ferrovia, mas que agoniza nos entraves entre governos federal, estadual, etc. etc. etc.

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Jundiaí recebeu maquiagens… mas mesmo sem a maquiagem tem um belo perfil a mostrar. Seus bairros são prazerosos para conhecer, caminhando mesmo, deixe o carro. Caminhar pelas ruas do Bonfiglioli, Vianelo, Caxambu, Jardim Danúbio, Vila Rio Branco, Vila Liberdade… e outros, é uma terapia. E mesmo o centro, tão pichado, precisando desviar dos postes nas ruas estreitas, cruzando com pessoas em situação de rua, é uma aula de história. De vida. É onde o coração pulsa. Com a força não só de jundiaienses, mas de cidadãos da vizinhança que vem contribuir com a riqueza da cidade, trabalhando ou consumindo no comércio central. Ainda que os shoppings continuem atraindo, todos passarão alguma hora pelo coração. Ainda que os bairros, as bordas, com a beleza dos condomínios, das novas praças e parques, com o circuito das frutas e a gastronomia tragam turistas, o coração não para de bater, forte, mostrando que foi dele que nasceu a vida e a vida se expandiu em todas as direções, fortalecendo todos os membros. Hoje as pessoas adornam muito os cabelos, o penteado, maquiam o rosto, calçados caros nos pés, malham nas academias, moldando de forma chamativa braços, peito, quadris, coxas… e deixam o coração, que requer cuidados… principalmente na alimentação. Mas ele resiste. E insiste. Este corpo, esta Jundiaí, resiste.

GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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