A popularidade do novo ministro da Justiça é precária. Os ataques contra a sua atuação vêm tanto da esquerda como da direita. É considerado por uns como partidário de mudanças políticas e sociais inadequadas para o Brasil. Tem o repúdio dos conservadores, ligados às elites nacionais. Do outro lado, é acusado de passar por cima das leis e agir de acordo com sua própria vontade. O fato é que a atuação do ministro ganha a cada dia mais reportagens na imprensa, o que equivale a jogar gasolina na fogueira. Mas o ministro tem forte personalidade. Entende que não tem que dar satisfações a quem não tem poder, nem mesmo aos seus colegas do Senado ou da Câmara dos Deputados. Defende-se com discursos rápidos, contundentes, e não omite o nome de políticos que o criticam tanto no Parlamento como nos jornais conservadores e radicais. Para tudo e todos, tem seus pontos de vista dos quais não abre mão. É um homem com sólida formação cultural e política e treinado quando ele mesmo deputado, representando a sua região.
O Brasil vive mais um dilema. Há quem proponha reformas profundas na máquina estatal e os que as rejeitam. Os cofres públicos estão exauridos e se faz necessária uma reforma tributária que tenha como objetivo aumentar a arrecadação de impostos. Os gastos não param de crescer. Os cargos públicos são preenchidos pelo critério do compadrismo, filhotismo, patrimonialismo e nepotismo. A burocracia não corresponde às necessidades do país, e o sonho dos apaniguados e diplomados nas escolas de direito é assumir um cargo e se dar bem o resto da vida. Nem mesmo os aposentados usufruem de uma sinecura dessa ordem. Vez por outra o Estado proclama que pode deixar de pagar aposentadorias por falta de caixa. A principal fonte de arrecadação é a balança comercial. O movimento de entrada e saída de mercadorias dos portos é mais fácil de ser taxado do que o que produz para consumo interno. O Brasil é fornecedor de matérias-primas com pouco valor agregado e importador de produtos industrializados mais caros. Um navio carregado de produtos agrícolas não vale meia cargas de máquinas necessárias para se incentivar a industrialização.
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O ministro da Justiça está na alça de mira dos seus inimigos. E eles são poderosos, partidários de um governo conservador e que impõe a ordem que o ministro não consegue nem impor no Rio de Janeiro. É um perigo circular à noite pela cidade que ainda não é maravilhosa. Para tanto, ele não pode contar nem com o apoio do Exército. Mesmo assim, a coragem, determinação e o propósito de construir uma nação liberal não saem do plano do Padre Feijó, o ministro da Justiça do Império do Brasil. Sua primeira missão é impor segurança para a capital do país, e para isso convoca milícias sob seu comando. Não transige com a violação da ordem pública, venha de onde vier. Os grupos políticos se digladiam na ausência do imperador, que abdicou e voltou para Portugal para lutar pelo trono contra seu irmão Miguel. O Brasil é governado por uma regência trina provisória até que o Poder Legislativo eleja um novo triunvirato. O jovem Pedro II tem apenas seis anos, e como tutor um inimigo do padre: José Bonifácio e seus irmãos. Os dias do ministro da Justiça estão contados. Não há como resistir à influência dos Andradas, ainda que tenham algumas ideias em comum, como a substituição da mão de obra escrava africana por trabalhadores assalariados europeus. Feijó não desiste, mesmo que caia do ministério outras portas se abrirão, como a aprovação da lei que institui a regência una, uma experiência republicana em plena monarquia. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

HERÓDOTO BARBEIRO
É professor, jornalista, comentarista da Record News, Portal R7 e Nova Brasil FM, além de autor de vários livros de sucesso. Acompanhe-o pelo canal no YouTube “Por dentro da Máquina”
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