Faz 13 anos que ele se foi. Amigo pra lá de querido, gentileza personificada num corpo de aparência russa, com a pele rosada e os cabelos num tom amarelado fraco, quase brancos. Quando saia ao sol a pele avermelhava, daí o apelido “Vermelhinho”, mas pra mim ele era o “Lemão”.
Descrevia sua linda Treze Tílias, em Santa Catarina, com tantos detalhes que a gente se transportava.
“Lá em Treze Tílias, todo dia, às cinco da tarde, o povo se junta na praça pra hastear a bandeira e cantar o hino alemão… coisa linda de se ver”, dizia ele com orgulho de quem honra as origens.
Lemão sonhava com a Copa de 2014, e eu o imagino, até hoje, vibrando com aqueles 7×1.
Brasileiro de descendência germânica, conhecia a história da Alemanha, desde a Prússia.
Era parceiro de trabalho e tinha por mim um respeito tal, que não me deixava nem mesmo dirigir a viatura, apenas porque eu era sua “chefinha”, como ele me chamava. Eu me permitia o mimo porque sentia nele um orgulho quase feminista da minha condição de “superior hierárquica”… termo usado por ele, e por mim substituído por um simples “chefe de setor”.
Coisa boba, mas ele valorizava com o mesmo entusiasmo que nutria por histórias de mulheres que se destacaram na humanidade. As mulheres dominarão o mundo, dizia ele.
Pois bem, sempre que se aproxima o Dia Internacional da Mulher, me vem ele na memória.
Ele nos acarinhava, a nós mulheres da delegacia, com os gestos mais simples, como um cafezinho, um bombom, uma música que ele chegava cantando com sua voz rouca da asma crônica, ou mesmo ouvindo nossos desabafos alterados pela TPM. À mais velha de nós, já cinquentona na época, ele se aconchegava nas horas livres e a abanava… era um entendedor dos problemas que envolvem as mulheres e sabia que ela sofria a hereditariedade cármica da fatídica mordida na maçã: a menopausa…
Se alguma de nós chorava, ele era ouvidos e colo.
Lemão nos tecia elogios infinitos, vindos da pureza de sua alma que via nas mulheres o poder de transformar o mundo como “transformam um óvulo fecundado em gente”… dizia ele com respeito encantador.
OUTROS TEXTOS DE ROSITA VERAS
Não por acaso, seu último posto de trabalho foi a Delegacia da Mulher.
Um dia, pessoalmente tocada por um de seus comentários enaltecedores, perguntei a ele de onde vinha tanta consideração pelo universo feminino, em especial por nós, policiais da Delegacia da Mulher. Ao que ele me respondeu a inesquecível frase: “É admirável que vocês consigam calar as próprias dores para dar voz a outras que vêm a procura da ajuda que vocês, por vezes, tanto precisam”.
Máximo respeito! Oito de março, dia de glória!(Foto: 3Motional Studio/Pexels)

ROSITA VERAS
É escritora, ghostwriter e articulista
VEJA TAMBÉM
PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA
ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES