Maria Polito foi assassinada no dia 11 de julho de 1900. Desde então, a italiana que morava em São Paulo e foi morta e enterrada na pequena Jundiaí de 124 atrás, passou a fazer parte do imaginário dos moradores da cidade. Há quem diga que ela faz milagres. O fato concreto é que o próprio marido tirou a vida dela por um motivo hoje considerado absurdo.
Ela era filha de camponeses napolitanos. A família chegou ao Brasil no final do século 19. Assim como milhares de italianos, os Polito deixaram a terra natal fugindo da miséria e deslumbrados com promessas de riqueza numa terra distante. Em 1900, a tragédia abalou a família. Maria Polito (abaixo), uma morena muito bonita, foi assassinada com 18 facadas. Não demorou muito para ser ‘beatificada’ pela população de Jundiaí. O túmulo dela está no cemitério Nossa Senhora do Desterro. Neste texto, o professor Maurício Ferreira, do Sebo Jundiaí, revela detalhes que até pouco tempo eram desconhecidos…
Antes do Brasil, os Polito passaram pelos Estados Unidos. Não se adaptaram. Decidiram vir para São Paulo. A mãe de Maria morreu pouco tempo depois e a garota passou a cuidar do pai, que era operário. Aos 18 anos conheceu o brasileiro Emílio Lourenço. Ele tinha 21 anos, era moreno de cabelos crespos e olhos claros. Maria Polito e Emílio se casaram no civil no dia 21 de junho de 1900. Como não conseguiram uma data próxima para a cerimônia religiosa, cada um seguiu morando separados. Só depois do casamento na igreja é que o casamento seria consumado. Naquela época era assim que as coisas funcionavam.
Segundo o relatou do jornalista jundiaiense João Batista Figueiredo que era correspondente do O Estado de São Paulo, Emílio era ciumento e machista. Ele desconfiava de Maria tendo o hábito de vigiá-la. Um dia, Emílio passou a questionar a esposa sobre seu passado e foi surpreendido com a resposta que teve de Maria. Ela confessou que na adolescência, nos Estados Unidos, tinha sido violentada. O jornalista escreveu o livreto (ao lado) lançado em comemoração à inauguração do capela construída 27 anos após à morte de Maria Polito. O livrinho era vendido no cemitério. A capela da italiana é a única cuidada pela Prefeitura de Jundiaí até os dias de hoje (abaixo).
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Emílio ficou arrasado. Porém, controlou a raiva e voltou para casa, onde premeditou o assassinato de Maria Polito. Ele fingiu que tinha perdoado a mulher e a convidou para um passeio em Jundiaí, cidade que já conhecia.
No dia 11 de julho de 1900, pegaram o último trem e ao desembarcarem, caminharam pela estrada velha de Campinas, hoje rua dos Bandeirantes. Na última vendinha aberta, tomaram café e compraram biscoitos. O casal, de acordo com relatos de testemunhas, estava alegre. Pareciam namorados apaixonados que iriam apreciar a lua.
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Emílio e Maria voltaram pelo mesmo caminho onde há 124 anos havia apenas chácaras. Nas proximidades do então Cemitério Municipal, hoje Cemitério Nossa Senhora do Desterro, subiram um barranco (hoje praça Nove de Julho). Na década de 40 este local tinha o nome de Maria Polito.
O casal permaneceu ali por algum tempo, vendo a lua e as estrelas, sentados na direção da vila Rio Branco. Emílio rompeu o momento romântico quando pegou uma faca e avisou que a mataria por causa do abuso que Maria havia sofrido. Depois, aos policiais, o homem contou que a jovem respondeu que ele fizesse o que bem entendesse já que ela não aguentava mais o tormento e a culpa pelo abuso.
Ele golpeou Maria 18 vezes. O corpo foi achado com as roupas levantadas. A jovem morreu no segundo ou terceiro golpe. A faca perfurou um dos pulmões, causando hemorragia. Emílio contou que a mulher se debateu muito. Ele ainda levantou a saia dela e a golpeou nas nádegas. Depois, no rosto.
Emílio Lourenço passou o resto da noite em uma pensão na rua dr. Torres Neves (abaixo). Pela manhã seguiu de trem para Campinas, onde foi preso dias depois. Ele foi reconhecido por um empregado da Cia. Paulista mesmo depois de ter feito a barba e tirado o bigode.
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O assassino foi transferido para Jundiaí. Ao sair do trem, foi escoltado da estação ferroviária até a Cadeia Pública, que ficava no centro da cidade (acima). O caminho foi feito a pé. Emílio foi acompanhado pelo promotor de Justiça e 16 soldados armados, inclusive com baionetas nas armas: a população queria linchar o criminoso. Mesmo com todos os policiais não foi possível evitar as pedras lançadas contra ele.
O corpo de Maria ficou na capela do cemitério por cinco dias antes do enterro em uma cova rasa doada pelo prefeito. Era doloroso ver o corpo dela: mãos feridas e sujas de terra. A mão esquerda, aliás, ficou levantada dando a impressão de que Maria Polito pedia socorro (foto principal). Ela usava botas marrom, meias vermelhas e vestido escuro. Estava com olhos e boca entreabertos.
Emílio Lourenço contratou um bom advogado de São Paulo para defendê-lo em seu julgamento que ocorreu menos de um ano após o crime. Souza Campos foi o advogado de acusação. O juiz Godoy Sobrinho o condenou a 30 anos de anos de prisão deixando a população de Jundiaí satisfeita por achar que a Justiça foi feita numa época em que homens que cometiam esse tipo de crime invariavelmente saíam impunes. O assassinato de Maria Polito repercutiu no país inteiro, numa época em que não existia telefone, televisão e internet.
Maria Polito não só recebeu de nossa cidade um jazigo e um sepultamento digno. Também ganhou a devoção da população que desde então passou a considerá-la santa devido às graças atribuídas a ela.
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