MASCULINIDADE

masculinidade

Excelente o programa exibido pela GNT, no final de domingo passado. Trouxe a baila a eterna discussão sobre a masculinidade, de maneira objetiva e direta, sem rodeios e falsos pudores. Diria que um programa para os fortes e encorajados que se dispõem a rever seus projetos de vida e edificar sua história com segurança e diretividade.

O tema levanta, com muita frequência, a expectativa de encontrar respostas prontas e completas no cotidiano, em especial nas famílias e escolas. Cobra-se, em certo sentido, que os mais experientes tenham regras e padrões adequados indicando o que cada um deve fazer de sua vida. Entretanto, o bate papo liderado pelo Rodrigo Hilbert e sua esposa não trouxe este direcionamento: ajudou a montar aquilo que se tem como mais essencial: pistas para uma escolha individualizada e adequada a cada um.

Um roteiro inteligente e muito atual, com convidados conhecidos e engajados nos movimentos sociais e culturais do país contemporâneo, por meio de perguntas e respostas inusitadas mas certeiras, ajudou a desmontar padrões arcaicos e surreais sobre a masculinidade, ainda em vigor. Não se tratou de apologias ao descambo, mas de evidências sustentadas por uma maioria machista, que assume papel de liberal, em alguns ambientes e pressionam, de forma retrógrada, em outros. Assim é nossa sociedade brasileira.

Mesmo porque, de outra forma teríamos o desenho e a receita do padrão de masculinidade. Seria semelhante a dizer o que você deve fazer da sua vida, definindo quem você é. Desta forma, entende-se que defini-lo é exercer poder sobre você, resultando numa limitação de sua essência e potencial. Não cabe a ninguém, seja lá quem for, determinar qual é o seu caminho, a sua escolha.

Se temos como base que somente você mesmo, num movimento de dentro para fora, poderá responder suas questões existenciais, o seu próprio buscar precisa ser um movimento íntimo em que toda a energia vital fluirá em busca de seus anseios pessoais e íntimos: isso é grande e representa a sua história de vida. A sua (re)construção. Exercício de imperiosidade na elaboração dos projetos de vida de cada um de nós.

Essa busca de novas escolhas e de planos de reformulação possui um alto potencial mobilizador. Ela impulsiona a buscar incessantemente, apresentando novas formas de ver, de analisar e de se relacionar com o mundo; é sábio o fato de que o questionar expande a consciência, descontrói as verdades fixas e renova as bases. Temos sempre que todas as respostas são provisórias e temporárias, e a procura de outros apoios para expressar o “eu” permite a transformação.

Será generoso se conseguirmos encarar nossas indagações íntimas com ternura e zelo, sem nos violarmos, pois elas nos levarão para mais longe. Nossa vida é uma verdadeira jornada mirabolante, envolta em muitas camadas de mistérios onde não sabemos o que se desenrolará no futuro, o que nos cobra para focarmos nas questões do presente: o que é possível fazer hoje que melhorará nossa caminhada?

O diálogo estabelecido entre os quatro, presentes no programa, conduziu-nos a um momento muito significativo, em que tivemos a possibilidade de repensar na masculinidade tóxica, nos amigos que falam uma coisa e agem de outra forma, nas famílias que não oferecem apoio e impedem seus membros de exercerem suas escolhas, nas piadas insensatas que soltamos em rodinhas e conversas de grupo, nas desordens que manifestamos, sem avaliar o impacto.

Mais uma vez, o casal protagonizou um show de articulação e preparação, garantindo que olhássemos para a masculinidade com olhares contemporâneos e seguros, sem sentirmos medo de pensar “fora da casinha”. Lembrar que a masculinidade é construída socialmente, mas composta por tanto fatores socialmente definidos quanto biologicamente, distintos da definição do sexo biológico masculino faz com que tenhamos atenção a cada detalhe da entrevista, que ainda não está disponível nos meios de divulgação.

Não se pode deixar de lembrar que, de modo geral, que a sociedade vem balizada por inúmeras imposições que costumam ser repressivas e ligadas a comportamentos violentos, valorizando a força física e transformando as emoções em um sinal de fraqueza. Por isso, afetam a vida dos homens em diversos aspectos e, inclusive, são capazes de perpetuar casos de homofobia, estupro e misoginia, em nome de algo que se atribui o nome de masculinidade.

E nessa direção, ainda temos conhecimento de que não existe uma única masculinidade, apesar de existirem formas hegemônicas e subordinadas a ela; isto porque tais formas baseiam-se no poder social dos homens, mas são assumidas de modo complexo por homens individuais que também desenvolvem relações harmoniosas com outras masculinidades, mesmo que não confessem ou expressem estas relações sociais. Numa forma velada, muita coisa acontece e os contratos sociais se firmam, ainda que com pares que não encontram afinidades, a História prova isso.

Ao notarmos que deixar de dizer que ama um amigo, não poder abraçar quem se gosta, esconder seus sentimentos e não poder chorar, percebemos o poder de uma masculinidade tóxica. Para muitos meninos, essas são algumas das regras não escritas das masculinidades.

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São tópicos nascidos dos debates sobre gênero, sociedade de consumo, e sexualidade, oriundos séculos atrás. O conceito de masculinidades abarca as regras sociais delimitadas aos homens para que eles possam construir sua maneira de agir consigo, com o outro e com a sociedade. O doentio é saber que, desde muito cedo se aprende que a pena para quem não seguir esse código estrito é ser visto como “menos homem”, associado à feminilidade, e, assim, estar vulnerável à violência e ao bullying dos pares.

Finalizo dizendo que todos constroem a sua masculinidade e a história de Vida que escolheram, por sua livre opinião e decisão, mesmo tendo absoluta certeza de que cada um sabe a dor e delícia de ser o que é…(Ilustração: desenho animado Johnny Bravo)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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