Melaína ou melanina (como é mais conhecida) é a pigmentação que dá a cor preta à pele. Os negros a tem em grande quantidade, o que define a cor da etnia das pessoas da raça negra. Por isso muita gente a confunde com imperfeição, defeito ou um problemão. Isto porque a pele branca refere-se ao alvorecer, o clarear do dia. Já a noite, apesar de iluminada por milhares de cintilantes estrelas também pela da Lua que não tem luz própria, é relacionada com as trevas.
Num pocket show em São Paulo, um artista negro, baiano, fazendo o seu stand-up, foi parabenizado no final por uma senhora idosa branca com a seguinte frase: “parabéns pelo seu trabalho, seu show é muito engraçado e você contou piadas sobre diversidade, sobre portugueses, gordos, lgbtqi+, e até de negros. Você é genial porque ri dos seus problemas esfregando o dedo indicador na pele do no meu antebraço branco. Faz piada e ri do próprio defeito!!!”
Gente?! Melanina não é defeito, é pigmento e quem diz uma idiotice destas, revela uma total falta de conhecimento. A chave do começo dos tempos é a mesma do final, a que fechará e terminará com os eventos. Quando já não poderá mais haver recurso de defesa. Teremos que nos solidarizar com a proximidade espiritual da dor de cada um. Quem tem talentos desperta atenção e muitas tensões.
Hoje tomei conhecimento de uma coisa: sou preto! Tenho consciência negra. Tenho mais melanina. Mas, também sou branco e esta cor me é imprescindível. Sou branco na sola do pé, onde sou conduzido a percorrer meus caminhos, meta da vida. Sou branco na palma das mãos, onde estão as linhas do coração, do tempo, da vida. E onde seguro os instrumentos, que conduzem os alimentos para minha sobrevivência. Sou branco no fundo dos meus olhos, que são a base de apoio para que eu enxergue os caminhos e veja as possibilidades de seguir em frente e ver o futuro. De ir em frente e seguir o próprio destino. Sou branco no sorriso, que é a expressão maior da felicidade que sinto e do prazer de encontrar um amigo. Meus dentes fazem o cartão de visita para que eu seja aceito e também compartilhar o afeto que sinto. Sorrindo torno a vida mais leve e o mundo mais colorido. O branco é a soma de todas as cores, o arco-íris reflete este valor infinito. Há uma tez/ouro no fim desse histórico humano. Por dentro temos uma só cor e essa é a nossa realidade, de estarmos vivendo nesse mundo como observadores e testemunhas dos nossos momentos.
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PRÊMIO DE LITERATURA PARA NEGROS E ÍNDIOS. ABSURDO?
Não procurei minhas origens, sempre me encontrei. Sei das histórias dos negros. Meus antepassados nunca as esconderam. Respeito pelo semelhante, independente de raça, cor ou tamanho. O que é documento aprovamos. Não temos nome, não temos descendência. Só ascendência e ancestralidade. Isso deixa os outros sem sossego. No continente africano repousa nossa memória. Nosso livre arbítrio, nosso desapego. Ser cidadão do mundo nossa vitória. Certeza não é tudo. Promessa é dúvida. Dívida é o que fazemos no consumismo diário. Alegria e fé nossas são nossas únicas forças. O jogo de cintura buscado pela maioria. Ginga é jogo, samba na bola e no pé. Driblando a vida como um centroavante. Sempre indo deixando para trás largos sorrisos. Fosse Adão uma pessoa com mais melanina, um negro, jamais teria sido expulso do Paraíso. Obediência e resignação. Gosto pela coisa certa. A humildade que faz curvar-se diante da vida, em nome de um bem maior apesar das resistências. Punho fechado, um soco no espaço, Black Power. Vencemos o nazismo com a olimpíada atlética. Subimos ao pódio do cumprimento do dever. Vitórias verdadeiras que a história aplaude e conta. Sou um negro e tenho muito prazer em me conhecer. (Foto: Muhammad Tayyib/Pexels)
LUIZ ALBERTO CARLOS
Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.
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