Desde uma simples carapinha embaraçada até as atuais tranças empoderadas, as mulheres negras vivem, acontecem e fazem suas trajetórias em caminhadas independentes, pois além de grandes matriarcas, carregam consigo o dom da maternidade afetiva e a exuberância das formas de conduzirem a vida em todas as suas atividades.
Belezas diferenciadas, cada uma traz os traços de sua etnia africana e as qualidades referentes às origens das suas raças, individualmente preservando as características peculiares. Há muito tempo já “que essa gente bronzeada” mostra seu valor, mas passou muita coisa despercebida ou desprezada, por quem poderia ter olhado com a visão de realidade e esquecido os pormenores detalhados que os mantiveram se prendendo a preconceitos infundados que limitavam as mulheres negras à condição de Mãe Preta, serviçal e empregada doméstica.
Mas, quem nasceu pra ser Gabriela, já sabe desde o nascimento: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, sempre Gabriela”. Talvez a virgem morena dos lábios de mel ou qualquer outra que a literatura tentou clarear. Particularmente arrisco dizer que “debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, deveria ter sido inspirada na Gal Costa a maior representatividade da beleza da mulher baiana, com seus cabelos anelados, a pele da cor morena-Brasil, a boca bem delineada e os lábios grossos. O nariz e o bumbum arrebitados. Sem nunca abandonar o sotaque afinado que carregou durante a brilhante passagem nessa Terra.
Sempre guerreiras e precursoras em quase tudo que empreenderam, as mulheres negras destacam-se pela originalidade de suas qualidades sempre postas à prova. Clementina de Jesus, descoberta já em avançada idade, teve tempo suficiente para deixar sua marca na história, quebrando barreiras com seu canto raiz e genuíno. Como artista e também como cozinheira (que na época do Império se chamavam ‘quituteiras’ e foram as responsáveis pela maior parte dos mais saborosos pratos salgados e doces de domínio público no que se refere às iguarias, por mais populares que tenham se tornado). Maria Carolina de Jesus, a escritora negra que na sua época conseguiu grande destaque e teve seu livro Quarto de Despejo traduzido para mais de 14 idiomas e tem somente hoje relativo reconhecimento, devido a grande participação dos negros na mídia e na restauração das memórias que fizeram a história da nossa raça.
“Essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na ilha de Itamaracá”. Quem não conhece essa música gravada por Teca Calazans? Nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, numa família de 22 irmãos, tornou-se a única artista e hoje essa capricorniana de Pernambuco é cantora, compositora, dançarina e bailarina. A mais célebre cirandeira do Brasil, patrimônio cultural e doutora Honoris Causa, reconhecidamente a maior representatividade desta cultura.
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Aqualtune, princesa africana, filha do Rei do Congo, foi capturada e enviada ao Brasil, no Recife foi violentada e vendida como escrava reprodutora. Mesmo grávida liderou um grupo de fuga, dirigindo-os ao Quilombo dos Palmares. Primeiro movimento de resistência brasileira que reconheceu sua linhagem nobre e deram-lhe liderança pelos conhecimentos políticos e organizacionais e estratégias de guerra. Foi mãe de Ganga Zumba e depois de Sabina, que daria à luz Zumbi dos Palmares.
Voltaremos a falar nesse assunto, pois apesar das lutas, Zumbi e sua esposa Dandara foram derrotados. Foi o fim da resistência… não da causa.(Foto: www.palmares.gov.br/CPDocJB)

LUIZ ALBERTO CARLOS
Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.
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